Capítulo 13

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-Você é péssima nisso Jess!- Exclama Luke batendo o pé no chão quando me encontra escondida atrás da árvore de folhas amareladas- É a terceira vez que você se esconde ai atrás

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-Você é péssima nisso Jess!- Exclama Luke batendo o pé no chão quando me encontra escondida atrás da árvore de folhas amareladas- É a terceira vez que você se esconde ai atrás.

-E o que eu posso fazer?- Respondo com a voz estridente e chorosa- Não tem lugar para se esconder aqui fora e não podemos brincar dentro da sua casa.

Sua expressão de bravo se desmancha dando lugar ao um rosto relaxado e um tanto pensador. Ele passa as mãos pelos seus cabelos loiros tirando-os dos olhos e coça uma mordida de mosquito inchada em seu braço.

-Não podemos correr dentro de casa, mas podemos brincar de outra coisa- Ele chuta uma pedrinha com os pés descalços.

Com a sugestão, sinto curiosidade de ver seu quarto. Como será que deve ser? Tem as paredes azuis ou amarelas? Luke também tem um baú recheado de brinquedos ou será que estão guardados em prateleiras como meus ursinhos?

-Podemos brincar de outra coisa- Falo batendo palmas e dando pulinhos de alegria.

-Me segue.

Luke me conduz para dentro de sua casa que é inundada pelos latidos de Simba. O cachorrinho pula em minhas pernas, animado por sentir meu cheiro familiar, e lambe minha mão encharcando-a de saliva.

-Simba seja um bom garoto!- Luke afasta o cachorro para que eu possa entrar.

A sala da casa do meu novo amigo é pequena, mas bem organizada. Os moveis são de madeira escura que combinam perfeitamente com o sofá de tecido vermelho aveludado. Um rádio enfeitava a mesa de centro e tocava música em volume baixo.

Atravessamos a sala até chegar a um corredor que se dividia em portas. O quarto de Luke era o último bem ao lado do banheiro. Quando ele abre a porta de madeira envernizada espero ver o brilho forte das paredes azuis ou alguma coisa que expresse que aquele quarto pertencia a um menino, mas encontro apenas um cômodo de paredes brancas e móveis escuros como os da sala.

-Bem vinda ao meu quarto- Luke espanta a poeira das solas do pé e salta sobre a cama bagunçando os lençóis.

Paro no centro do quarto e olho em volta. Apesar de não ter paredes azuis, ele tinha prateleiras com revistas em quadrinhos e estatuetas de super-heróis bem maneiras. Na ponta da cama um único baú parecia ser o responsável por guardar seus brinquedos e alguns estavam jogados sobre o tapete em formato circular.

-Aqui é bem legal- Digo, por fim, abrindo um sorriso alegre para ele- Do que vamos brincar? Posso ver seus brinquedos?

-Não mexa!- Grita se colocando na minha frente quando me ajoelho em frente ao baú. Com o susto acabo caindo para trás- Desculpa. Eu só não gosto que mecham nas minhas coisas, mas podemos olhar juntos.

-Tudo bem.

Nos acomodamos ao redor do baú e ele começa a retirar alguns brinquedos dali de dentro. Esperava ver algum tipo de boneca, mas a maioria de seus brinquedos era composta de carrinhos de controle remoto.

-Esse é meu preferido- Diz retirando um carrinho preto com um acessório azul logo acima. Seus dedos traçam cada detalhe do brinquedo explorando a textura até chegar à um botão que faz a sirene ligar e disparar luz azul- É um carro de policia.

-Que incrível! Eu posso brincar?- Estendo a mão, fascinada, em direção ao carrinho, mas ele o afasta de mim.

-Deixe eu te mostrar como funciona antes.

Luke pega um controle e posiciona o carro de polícia no meio do quarto. Ele aperta alguns botões e coloca o carro em movimento. Assisto o brinquedo deslizar por todo o cômodo, boquiaberta, até que ele bate contra minha perna e para.

-Gostou? – Luke sorri exibindo a ausência de dentes que sempre me faz rir.

-Eu posso tentar?- Engatinho até ele e junto às mãos como fazíamos na igreja- Por favor, eu prometo que vou tomar cuidado.

-Tudo bem.

Ele entrega o controle para mim e, ansiosa, eu aperto os mesmos botões que o vi apertar e coloco o carro em movimento. Ele desliza por toda a superfície do tapete e bate no pé de madeira da cama. Quando tento dar ré, uma voz diferente ecoa.

-Luke! A mãe de Jessie está a chamando- Diz a bela mulher entrando no quarto. Hoje ela vestia uma saia que chegava até os joelhos e uma simples camiseta branca.

-Você vai ter que ir embora mesmo?

-Sim, mas vocês vão ter muitos outros dias para brincar.

-Já estou indo- Me volto para Luke que parece ter perdido toda a alegria e devolvo o controle- Até amanhã.

-Até mais Jess- Ele acena até eu sumir de sua visão.

*

Naquela noite titio chegou tarde a nossa casa. Fiquei surpresa ao ver meu pai entrando em casa ao invés de Marcelo com sua barba por fazer e uma mochila sobre os ombros. Por um tempo acreditei que finalmente tivesse ido embora e deixado nossa família em paz novamente. O quarto de brinquedos seria todo meu.

Mas toda minha esperança é esmagada quando o vejo passar pela porta carregando uma garrafa do que parece ser champanhe.

-Chegou tarde Marcelo! Aconteceu alguma coisa?- Pergunta minha mãe preocupada secando as mãos no avental enquanto vinha aos tropeços ao seu encontro.

-Família eu tenho uma noticia- Sua voz forte parece fazer a casa vibrar. Meu pai, que estava sentado à mesa da cozinha, se aproxima do irmão com um olhar preocupado. Seus olhos escuros analisam o irmão de cima abaixo como se procurasse algum membro quebrado. Já eu apenas me encolho no sofá torcendo para que a notícia seja sobre ter arrumado um lugar para morar- Eu consegui um emprego no hospital!

As expressões preocupadas se transformam em sorrisos e gargalhadas. Minha mãe bate palmas e corre para abraçar meu tio que a levanta no ar. Meu pai o parabeniza com tapas nas costas e trocas de sorrisos. Depois Marcelo busca algo na gaveta da cozinha e abre a garrafa de champanhe com um estouro.

-Viva o Marcelo!- Grita meu pai correndo para encontrar as taças que guardamos no fundo do armário.

-Não vai dizer nada ao seu tio Jessie?- Pergunta mamãe se aproximando e tocando meu ombro- Vá abraça-lo e dizer que está feliz por ele.

-Não!- Grito afastando brutalmente sua mão fria do ombro.

-Jessie! Estou mandando- Diz ela rangendo os dentes e com um olhar cortante, seus dedos gélidos se enroscando no meu pulso. Eu provavelmente não tinha escolha.

Arrasto-me para fora do conforto do sofá e paro a alguns passos de tio Marcelo. Ele enchia uma taça com o líquido borbulhante e sorria de orelha a orelha.

-Parabéns tio- Digo com a voz falhada e colocando meu melhor sorriso no rosto enquanto encarava os meus próprios pés. Não tinha coragem de olhar em seus olhos- Fico feliz por você.

-Ah pequena Jessie! Obrigado!

Seus grandes braços se abrem em minha direção. Tento recuar e mostrar que não quero receber um abraço, mas minha mãe aparece logo atrás de mim bloqueando a passagem. Titio envolve meu corpo com seus braços e mais uma vez minha pele queima.

Jessie Brodie (sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora