Capítulo 1

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Um passo

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Um passo. Mais um passo. Mais um passinho...

Ouço o assoalho de madeira ranger atrás de mim. Cuidadosamente espio esperando alguém ter me descoberto ou dedurado, mas não há ninguém além de um hospede qualquer. O senhor de barba ruiva e pele enrugada vestia-se com roupas sociais e passava a chave na porta do seu quarto fazendo o som do molho de chaves ecoarem pelo corredor. Ao ver que estou com os olhos fixados nele, dá um passo para trás e sorri guardando as chaves no bolso da camisa.

Tiro a atenção dele e volto a focar em meus passos e na minha respiração. Se eu não quiser ser pega vou ter que andar mais rápido.

Um passo. Mais um passo. Mais um passinho.

Escondo-me atrás das folhas da costela de Adão e me inclino em direção às escadas. Uma mulher com um bebê aninhado nos braços desce degrau por degrau balançando-o cuidadosamente para que não chore e incomode outros hospedes. Ao chegar ao pé da escada, ajeita o bebê nos braços e dobra o corredor desaparecendo.

Dou uma última espiada para ter certeza de que ninguém me seguiu até aqui e tiro a caixinha que escondia dentro da camiseta com cuidado. A beiradinha já estava cortada e o líquido colendo havia sujado minha barriga e as pontas dos dedos. Lambo cada um me deliciando com o sabor doce. Aquilo era uma explosão de açúcar.

Preparo-me para despejar uma boa dose na minha boca, mas uma mão fria me puxa para fora do esconderijo antes que eu possa fazer isso.

-Te peguei!- Diz a moça de cabelos tão longos que chegavam até a cintura e tão marrons quanto chocolate. Esperava ver reprovação em seus olhos, mas havia apenas um olhar doce combinando com um sorriso gentil- Vai ter que ser mais rápida da próxima vez Jess.

-Mas mãe! – Protesto quando ela tira a caixinha de leite condensado gentilmente das minhas mãos.

-Nada disso mocinha. Doce só depois do almoço- Faço beiço e ela cruza os braços na frente do corpo assumindo sua pose de mãe- E como quer que eu prepare o mousse de pitaya se esta acabando com nosso único leite condensado?

-O hotel tem uma dispensa cheio deles- Argumento pisando fundo no chão. Todo meu trabalho em ser cuidadosa e ser silenciosa não valeria a pena se eu perdesse a caixinha com o doce melado.

-São para os hospedes Jess. Você sabe disso- Mamãe se abaixa em minha frente e coloca uma mecha minha de cabelo do mesmo tom do dela atrás da minha orelha- Por que não vamos para a casa? Se algum hospede reclamar do nosso barulho o papai vai ficar bravo.

-Tudo bem- Respondo murchando os ombros. Meu trabalho realmente tinha sido em vão.

Seguro a mão de minha mãe e descemos as escadas juntas até o saguão de entrada onde alguns hospedes chegavam e outros descarregavam suas malas de seus carros de luxo. Meus olhos brilham ao ver o vestido cheio de pedras que refletia a luz dos lustres que uma dama usava. Tenho vontade de tocar quando passamos ao lado dela, mas minha mãe me puxa em direção à saída dos fundos. Nós duas sabemos que nem deveríamos estar no hotel.

Minha mãe só solta minha mão quando chegamos a nossa casa, uma pequena residência nos fundos do hotel do meu pai. Ela possui três quartos, um banheiro, uma cozinha junto com a sala e um quintal. Nada mais do que o necessário. Uma das minhas partes preferidas da casa é o quarto de hospedes, onde guardo os mais variados brinquedos que ganho do meu pai. Não passo muito tempo com ele, então seus presentes parecem me deixar um pouco menos distante.

Apesar dos montes de brinquedos, eu gostava mais ainda do quintal. Especialmente do pé de pitaya que havia em seu centro. Eu e mamãe costumamos nos sentar aos finais de tarde ao seu redor e dividir uma pitaya doce e tão profundamente rosa que deixava nossos lábios pintados com seu corante natural.

-Vai poder comer doce depois. Não fique chateada- Diz quando eu me sento na cozinha cabisbaixa por ter fracassado na minha missão que foi planejada cuidadosamente- Se quiser podemos comê-lo com a fruta ao invés de preparar um mousse.

A ideia me anima.

-Será que vamos ser as primeiras a experimentar pitaya com leite condensado no mundo?

-Eu acho que sim minha curiosa Jess.

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Jessie Brodie (sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora