Prólogo

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Eu não diria que é simplesmente receber a notícia que seu agressor foi preso ou morto para se curar

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Eu não diria que é simplesmente receber a notícia que seu agressor foi preso ou morto para se curar. Óbvio que a morte de Marcelo fez com que eu me sentisse mais segura, mas não levou todos os meus traumas embora.

Depois da explosão frequentei a Srta. Becker muito mais vezes por semanas. Ela tem me guiado para fora da água aos poucos. Por mais que meu corpo ainda esteja afundado pela metade nas águas e dores do passado, eu já consigo respirar melhor. Leah tem participado de algumas sessões de terapia comigo. A psicóloga acha importante orientá-la já que é minha parceira romântica e passa a maior parte do tempo comigo.

Parceira romântica.

Eu, Jessie Brodie, nunca imaginei namorar algum dia. Muito menos namorar uma garota, já que cresci com histórias de garotos encantados e castelos mágicos. Na minha cabeça, apenas algumas pessoas eram escolhidas para serem amadas, e outras, como eu, teriam que aprender a viver sozinha. Foi isso que mamãe me ensinou a vida toda: a ser forte.

Eu não deixei de ser forte quando passei a namorar Leah. Muito pelo contrário. Passamos a ser fortes juntas. Minha coragem, a sua coragem e seus músculos nos tornam estruturas fortes capazes de passar por todos os desafios. E quando tudo fica difícil demais vamos para cama ou andamos de moto até tudo ficar para trás.

Depois da explosão, Leah Addari e seus companheiros de trabalho foram atrás da esposa de Marcelo e sua filha pequena. A mulher relatou que nunca sofreu nenhum tipo de abuso ou violência do marido e a filha parecia estar completamente bem. Interpretamos isso como uma tentativa de Marcelo sair da sua vida de criminoso, mas isso não garante que não tenha machucado outras pessoas por ai.

Também dei uma entrevista para a televisão que foi transmitida no horário nobre por semanas para a conscientização da população e para encorajar mulheres a procurar ajuda. Elas precisam saber que nunca vão estar sozinhas por mais que o mundo esteja prestes a desabar.

Existem mais pessoas como você. Você não está sozinha.

Foi uma das frases que disse na propaganda de trinta segundos elaborada após a entrevista para que alcançasse mais mulheres pelo mundo. Já que o anúncio era voltado para as mulheres, fiz questão de incluir os homens na minha entrevista, alertando que eles também sofrem com isso, embora seja em menor quantidade. Enquanto dizia essas palavras me lembrei de Luke, que quase se tornou uma das vitimas de Marcelo, mas consegui mantê-lo a salvo por todos esses anos.

Falando em Luke, ele está noivo da Bethany. Eu não esperava ver meu pequeno Luke, de cabelos loiros bagunçados e olhos nebulosos, se casando algum dia. Ainda mais com a loira mais desejada do mercado onde trabalha.

Admito que eu senti algo inexplicável crescendo dentro de mim quando soube da notícia. Demorei a aceitar que teria que dividir a atenção de Luke com uma amiga. Também foi difícil pelas coisas estarem se desenrolando rápido demais. Mas no fim, aqui estou eu escrevendo no diário que Srta. Becker me deu para desabafar enquanto está na Lua de Mel com o marido (sim, até ela está se casando) usando o vestido de madrinha cor verde água que Leah me ajudou a escolher. Ele é longo e apresenta detalhes em relevo por toda a sua extensão. As mangas são caídas e uma fenda se abre entre meus seios, valorizando-os.

Eu estava incrivelmente bela.

Também ajudei a escolher a roupa de Leah. Depois de eu implorar diversas vezes para que escolhesse usar um vestido, ao invés de um terno sexy, ela cedeu. Acabamos escolhendo um vestido longo e azul como o céu noturno. Ele tinha um corpete todo em renda deixando a mostra uma espécie de sutiã que ficaria feio em qualquer outra pessoa, menos em Leah. Havia uma fenda na saia que deixava exposta uma de suas pernas grossas e o salto alto negro. Ela parecia a rainha de algum tipo de reino encantado.

-Vamos, Jess- Chama Leah da porta. Seu cabelo e maquiagem já estavam prontos. O mar negro de cachos estava preso atrás da cabeça com presilhas brilhantes e algumas ondas emolduravam seu rosto. A maquiagem com um contorno preto deixava seu olhar mais marcante do que já é. Não posso negar que minhas pernas tremeram assim que seus olhos pousaram em mim.

-Já te falaram que você deveria ter se arrumado menos? Vai deixar a noiva chateada se chamar mais atenção do que ela- Digo me ajeitando sobre a cama do estabelecimento que alugamos para o evento.

-Queria que eu tivesse vindo de pijama?- Pergunta apoiando o ombro no batente da porta e arqueando uma de suas sobrancelhas.

-Acho que você continuaria chamando atenção até de pijama. Como é ser bonita desse jeito Oficial Addari?

-Hm, eu não sei. Me conte você Jessie Brodie. Como é ser a mulher mais hipnotizante do país?

-É uma sensação boa- Dou de ombros sorrindo.

-Também não é ruim ser bonita- Ela sorri daquele jeito que faz minhas bochechas corarem- Eu até que gosto.

-Dá para o casalzinho se apressar?- Grita Luke das escadas. Ele estava lindo. Usava um terno de risca cinza que combinava com a cor dos seus olhos- Eu estou nervoso e preciso de você Jessie. Leah, você precisa conferir a noiva. Por favor, andem logo.

Leah revira os olhos de uma forma divertida e pisca para mim antes de ir se encontrar com Beth.

-Te vejo mais tarde gatinha. De preferência sem todas essas camadas de tecido.

-Anda logo, Jessie! Eu estou tendo uma crise aqui!

Desço da cama e ajeito o vestido com as mãos. Bethany me mataria se soubesse que estava deitada usando um vestido caro minutos antes do seu casamento. Dirijo-me até a porta, mas antes de sair olho para o diário aberto em cima da cama. As próximas horas ou dias seriam agitadas, então passaria um bom tempo sem ele.

Volto para a cama e tomo a caneta nas mãos. Abaixo do meu último relato deixo um recado.

Volto em breve se eu não tiver bêbada demais.

Com bravura, Jessie Brodie.

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Jessie Brodie (sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora