❌Aviso de gatilho❌
A vida de Jessie nunca foi normal.
Aos vinte e um anos Jessie Brodie tenta recomeçar a vida após uma série de traumas sofridos na infância. Ainda está fresca em sua memória a temperatura das mãos de seu tio que marcaram seu corpo...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Enxugo uma lágrima antes que ela caia sobre a mesa de madeira da cafeteria. Choveu durante a madrugada, então os pássaros cantavam animadamente enquanto o sol ficava cada vez mais alto no céu.
Para minha sorte a cafeteria se encontrava praticamente vazia, pois quem chegava pedia café para a viagem e partia rumo ao trabalho. As únicas pessoas que se encontravam deliciando-se de tortas e bolos era uma garota que deslizava o dedo pela tela do celular despreocupadamente e um rapaz que bebericava o café enquanto lia o jornal. Também havia eu e Leah, mas estávamos longe de estarmos relaxando no café da manhã.
-Isso ainda não é tudo.
-Você já fez demais por hoje- Seus dedos mornos pelo copo de café que segurava tocam meu braço. Percebo que suas unhas eram de um tamanho médio e pintado com uma fina camada de base brilhante. Ela deixa a mão por um bom tempo no meu braço, acariciando de leve- Quer dar uma volta? Respirar um ar fresco?
Ela me oferece um guardanapo para enxugar o rastro que a lágrima deixou sobre minha bochecha, mas prefiro me dirigir até o banheiro e lava-las com água. Um cabelo rosa já chama atenção, ainda mais se for uma garota de cabelo rosa chorona. Eu queria evitar olhares. Ao voltar percebo que Leah havia pagado a conta e não aceitou meu dinheiro quando ofereci.
A policial me conduz para fora, para o clima fresco da manhã que acabaria assim que o sol estivesse bem acima de nós, fritando os miolos. Fungo e enfio as mãos no bolso da calça jeans surrada comparada com a calça nova de Leah enfiada nas botas pretas.
Caminhamos em silêncio até chegarmos ao parque logo em frente à cafeteria. Um pequeno lago enfeitava o local, onde alguns patos nadavam tranquilamente enquanto outros se alimentavam com migalhas de bolacha jogadas por uma criança sorridente.
Quando eu olhava para uma tão sorridente quanto eu na infância, me perguntava se a criança exibia um grande sorriso para esconder algo ou apenas por estar genuinamente feliz.
-Você está bem?- Pergunta Leah inclinando a cabeça para entrar em meu campo de visão. Ao fazer isso sua franja sai do lugar dando visão de seus olhos escuros e curiosamente focados.
-Estou- Encho os pulmões com a brisa fresca que agitam os curtos fios do meu cabelo- Só é difícil sair das ondas do passado quando se mergulha nele.
-Entendo. É difícil para mim também. Ouvir e não poder dirigir até a casa do maluco que fez isso e espanca-lo até se arrepender- Ela chuta uma pedrinha no caminho- Infelizmente isso é contra as regras.
-Infelizmente. Mas apesar de tudo eu conheci Luke.
-Ele é muito especial para você, não é?
-Ele tem me mantido acima das ondas durante todo esse tempo mesmo não fazendo ideia do que aconteceu.
-Pretende contar a ele algum dia?- Pergunta Leah diminuindo o passo quando passamos por um trecho de lama escorregadia.
-Eu... Eu não sei- Paro e esfrego o rosto. Não conseguia imaginar nós dois sentados no sofá do meu apartamento enquanto conto cada detalhe do meu passado. Eu não aguentaria o constrangimento e fugiria assim que seus olhos encontrassem os meus. Também não queria vê-lo sofrer por não ter conseguido me ajudar. Nada era culpa de Luke.
-Me perdoe Jessie- Sua mão pousa no meu ombro de forma reconfortante e meus olhos claros encontram a escuridão dos seus- Estamos aqui para tomar um ar e eu acabei te deixando confusa.
-Não se preocupa- E continuamos a andar. Era estranho ter alguém do meu lado depois de tanto tempo. Alguém que continuava ao meu lado mesmo depois de toda a verdade. Sei que isso é apenas o trabalho dela, mas significa tanto pra mim.
-Olha mãe! Uma policial!- A criança sorridente grita ao terminarmos de dar a volta no lago. Ela ainda se encontrava alimentando os patos.
-Acho que tem gente olhando para você- Falo cutucando o braço de Leah com o cotovelo. Leah sorri e acena para a garotinha que corre animadamente em sua direção.
-Como me reconheceu sendo que estou sem farda?- Pergunta enquanto abraça a criança de belos cabelos ruivos e esvoaçantes.
-Pelo distintivo e pela sua arma!- Exclama a ruiva apontando para o volume na lateral na calça de Leah. Ela disfarçava muito bem, pois eu não havia percebido a arma descansando em sua cintura.
-Você é uma garota esperta. Qual seu nome garotinha?
-Bea.
-É um belo nome.
-Bea!- Chama uma mulher com os cabelos no mesmo tom da menina enquanto caminha em nossa direção- Me desculpe pela minha filha.
-Mamãe ela é policial!
-Muito prazer! Eu sou a oficial Addari- Leah se levanta e aperta a mão da mãe de Bea com um sorriso no rosto e percebo que ele brilha mais do que o normal sobre a luz do sol.
-Minha filha adora policiais desde pequena, pois seu pai era um dos melhores policiais da cidade.
-Isso é incrível. Como ele se chama?
-Oficial Jones- Os olhos da mulher, de repente, ganham um brilho triste- Ele morreu em um incêndio para resgatar criancinhas de um orfanato. Todas elas saíram com vida ou ferimentos leves.
-Ele foi um grande herói- Deixo escapar e a moça sorri tristemente para mim.
-Eu o conheci. Ele foi o primeiro a me acolher quando entrei para a policia e me ajudou a resolver os primeiros casos. Meses depois veio a notícia de sua morte- Leah abaixa o olhar para seus pés- Fizeram uma bela homenagem a ele. Sua história vai ficar marcada por gerações.
-Vai sim.
Nos despedimos da pequena família e voltamos para o nosso caminho. Leah precisava voltar para a delegacia e eu tinha que me preparar para o trabalho. Estava me sentindo melhor depois dessa distração. As ondas do passado ainda se agitavam, mas não me afogavam. O sorriso da menina e a forma como ficou maravilhada ao encontrar Leah me deixou com o coração quentinho.
Eu também havia ficado fascinada com Leah quando a vi pela primeira vez. A única diferença era que eu sou adulta demais para demonstrar isso. Pergunto-me se os outros da minha idade se sentiam assim. Zonzos ao sentir o perfume daquela mulher e ao sentir todo o poder que emana dela.
