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Elisabeth Harrys.

Estava com os olhos fechados quando a porta do carro foi aberta, e um Theodore tenso e um pouco preocupado se sentou atrás do volante.

Eu realmente estou preocupada com ele, sinto que ele guarda coisas demais para si mesmo. Apesar de termos passado apenas um dia juntos, sinto como se eu pudesse acalmar a violenta tempestade dentro dele, ser seu ombro amigo, sua confidente, sua parceira, sua amiga.

Não tocamos no assunto de mais cedo e não sei quando iríamos conversar sobre isso. Entretanto, é esse momento que me preocupa agora, Theodore parece estar agitado e pensativo, ele manteve os olhos na estrada o caminho todo e não disse nada, em um minuto ou outro suas mão apertava o volante deixando seus dedos brancos com a força usada.

Quando ele parou na frente do prédio onde eu moro, desceu do carro rapidamente, eu não esperei ele vir abrir a porta para mim descer. Peguei Aurora, enquanto ele pegava Angeline.

Esse silêncio todo estava me incomodando, me estressando de certa forma. Queria saber o que estava acontecendo, o que estava incomodando ele. Subimos até o andar que moro depois de passar pela recepção.

- O quarto dela é esse daqui - Disse apontando para o quarto da loirinha que dormia tranquilamente em seus braços.

Observei ele entrando no quarto com Angel e a colocando na cama, logo depois dando um beijo em sua testa. Mais tarde acordaria elas para dar um banho, suaram muito e gostaria que elas dormissem bem essa noite.

- Me espere na sala, eu não demoro - Disse para ele assim que o mesmo fechou a porta do quarto. Ele somente concordou e foi em direção as escadas.

Coloquei a minha coelhinha no berço, acariciando os seus cabelos e cantarolando uma música. Ela ficou um pouco inquieta quando coloquei ela no cercado de madeira então esperei que ela se acalmasse antes de sair do quarto, e indo em direção a sala.

Quando cheguei, ele passando a mão nos cabelos e murmurando algo. As mãos sempre se encontrando em movimentos que denunciavam o nervosismo, os olhos dele estavam apagados comparado ao brilho de hoje.

Eu senti uma necessidade tão grande de cuidar dele. Eu não sabia de onde vinha isso e com toda essa situação, sentimentos conhecidos ainda trancados, como se fossem apenas memórias, voltavam para a superfície.

Memórias vinham a mente, palavras sábias e inesquecíveis sobrevoavam nesse momento meus pensamentos.

" O amor acontece quando você sente a necessidade de cuidar e ser a calmaria daquela pessoa" , minha mãe me disse isso, quando eu estava prestes a me casar com meu melhor amigo.

"Querida, quando o amor acontecer para você de novo, creio eu que não vai precisar passar muito tempo com ele para saber que, é muito mais do que querer ser um ombro amigo ou alguém com quem ele possa contar. Quando você sentir a sensação de que ele acalma o seu ser em vez causar um turbilhão de emoções, se permita sentir, não esconda o coração", foi o que ela me disse depois que os papéis do divórcio foram assinados.

" Filha, o amor é calmo, ele não virá como uma turbulência que passa com o tempo, você vai saber quando não for passageiro. Não são as borboletas que te falam que é amor, é a paz que ele te faz sentir, a paz que acalma a sua turbulência e não intensifica ela, a paz, ela vem e permanece até o fim. O amor é muito mais do que borboletas", meu pai falou isso quando eu disse que não saberia se eu iria conseguiria seguir em frente.

Meus pais não moram mais aqui, na Itália, dois meses depois que Aurora nasceu, eles resolveram viajar o mundo, estão sempre entrando em contato conosco. Voltaram para cá um ano atrás, quando eu contei sobre o divórcio e ficaram alguns meses aqui comigo e retornaram seus planos de viajem. Não gosto de atrapalhar a viajem deles, então não ligo tanto, só as vezes ou espero eles fazerem contato. No caso eles me ligam uma vez por semana.

- Ei - Chamei a atenção do homem a minha frente - Está tudo bem? - Caminhei até o sofá que ele estava e me sentei ao seu lado.

Ele parou do mexer as mãos e olhou para mim, cansaço, era isso que refletia seus olhos. Não só cansaço físico, mas emocional.

Ele negou com a cabeça, e se aproximou de mim encostando a cabeça no meu ombro. Como se fosse rotina, meus braço o rodearam trazendo ele mais para perto, permitindo que ele se aconchegace a mim. Seus braços abraçaram minha cintura e ficamos assim por alguns minutos, até que ele se sentisse confortável para conversar.

- Eu não estou bem - Falou assim que se afastou um pouco, mas não o bastante pare me soltar do seu abraço - Meu pai e eu... - Ele respirou fundo, somente me aconcheguei contra o seu corpo, como quem disse "tudo bem, no seu tempo" - Minha irmã me falou hoje que queria que nós gostassemos um do outro. Isso me pegou de surpresa, o meu pai disse que eu estava fugindo e talvez eu realmente esteja. Talvez eu não queria ouvir as desculpas dele ou pedir desculpas a ele, eu não quero me frustar. Mas também não quero que minha irmã ache que eu não ame meu pai. Tentei tudo para que ela não percebesse a nossa distância, só que isso não foi o suficiente - Ele soltou um suspiro assim que acabou.

Levantei o meu corpo, me ajeitando no sofá para ficar frente a frente com ele. Minha mão foi em direção ao seu rosto e acariciei, ele se aconchegou na minha mão e eu gostei dessa reação.

- Você não precisa se cobrar, sei que tentou manter as aparências para ela, sei que gostaria que ela não sofresse com a relação de vocês. Mas, não acha que você só estava adiando o que ela percebeu agora? - Perguntei - Você poderia ter escondido a relação de vocês até a idade que ela entenderia tudo e ficaria tão mal quanto, talvez, ela esteja agora. - Segurei suas mãos, que mais acariciava as minhas do que o contrário, mas seus olhos não estavam nos meus - Theo, olha para mim, vou te dizer algo que por um longo tempo não quis aceitar, meu pai me disse isso e falou que somente quando eu passe por uma determinada situação eu entenderia, "Perdão é aquilo que traz alívio pra tudo que dilacera e maltrata o coração, essa dor que sentimos, essa dor dilacerante que não passa, mesmo depois de tentarmos de tudo para que ela fosse embora, é a alma gritando que precisa de descanso, te fazendo entender que a dor maior que carregamos não é aquilo que fizeram para nós, é falta de perdão que carregamos, esse grito silêncioso é a alma te dizendo que o remédio pra sua ferida é a paz que você sente quando perdoa."

Ele estava olhando para mim com olhos cheios de água. Theodore Galanis, aquele que todos conhecem por ser frio e impiedoso, não é nada mais nada menos do que uma pessoa que também tem sentido a pressão do mundo e as dores das perdas que não necessariamente foram perdidas.

Theodore Galanis, esse era o conhecido por todos. Theo é esse homem que eu conheci hoje, o meu Theo.

- Acho que está na hora de colocar essa dor na estante do perdão, o que acha? - Ele riu do meu jeito de dizer que ele precisava perdoar - O que? Você está rindo do mim? Eu estou tentando ajudar aqui - Segurei o riso, tentando ficar séria. Lágrimas escorrem de seus olhos e eu me aprontei em enxugar.

- Eu estou cansado, cansado de fugir do meu pai e de tudo o que me faz querer perdoar ele, é que dói tanto, ruivinha - Ele disse entre lágrimas.

- Eu sei, está tudo bem, Theo, e mesmo que não esteja, eu te prometo que vai ficar - Dei a ele um sorriso e sequei as lágrimas que insistiam em rolar.

Abracei ele novamente, dessa vez eu me aconcheguei contra seu corpo. Isso é estranho, mas ao mesmo tempo familiar, ficamos abraços alí por mais ou menos 20 minutos.

Tudo isso aconteceu em menos de 24 horas

Ele é meu chefe e como se tudo que eu queria que se tornasse realidade de repente se foi como uma avalanche. Mio Dio, ele é meu chefe.

Me afastei do seu abraço e me levantei, e com toda certeza estraguei o momento que estávamos tendo. Theodore me olhou, me perguntou o que aconteceu, respondi que não deveríamos estar assim tão próximos, ele era meu chefe e eu sua funcionária, e tinha as meninas. Tantas coisas para processar.

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