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Theodore Galanis.

Lembranças, era o que percorria a minha mente enquanto observava Lise dormindo, perdi o sono no meio da noite e agora estou zelando o dela. Lis está fazendo meu braço de travesseiro, com sua cabeça pousada no vão entre meu pescoço e braço.

Aconchego seu corpo mais próximo ao meu para que fique mais confortável.
As lembranças ainda passavam pelos meus pensamentos.

Acabei de sair do prédio onde Elisabeth mora, sonhando acordado, apesar da cara fechada e sem um sorriso aparente, meu interior está pulando em alegria.

Chego em meu apertamento depois de uns dez ou vinte minutos dirigindo, vim pensando no que Lise me disse, sobre a estante do perdão, não queria ter que falar com meu pai, mas no fundo eu sabia que precisava disso, que eu precisava colocar na estante do perdão o passado com meu pai.

Subi para o apartamento pensativo, as coisas aconteceram tão rápido, em um piscar de olhos eu tinha me encantado por uma mulher, realmente encantadora, quando tinha falado a mim mesmo que nunca mais me apaixonaria de novo.

Talvez essa seja a diferença, eu não estava só apaixonado, eu estava começando a amar.

Meu último relacionamento andou fora dos trilhos, coloquemos assim.

No início tudo era flores, eu não tinha total maturidade ainda, tinha passado por um namoro na adolescência, mas as coisas eram menos complicadas.

Aremy era a filha de um dos sócios da empresa, na época eu tinha acabado de tomar a presidência, havíamos nos conhecido alguns anos antes. Ela se mostrou uma pessoa sonhadora, com boas ideias, criativa.

Começamos a namorar depois de sete meses da minha direção na empresa, apesar de sermos o oposto um do outro, hoje eu sei que, não éramos o tipo que se completava.

Eu pensava em construir uma família, casar, ter filhos, fazer minha esposa feliz, ser um pai para os meu filhos. Mas eu fui traído no memento em que a mulher que eu pensava ser aquela que construiria comigo esse sonho, não deu a chance do meu filho e eu nos conhecermos.

Quando eu descobri fique devastado, e não foi por ela e sim por um segurança.

A empresa estava crescendo muito e eu temi pela segurança dela, designando alguém para mantê-la segura. Foi quando eu descobri que ela foi em uma clínica, sem a minha total noção.

Foi como uma apunhalada no meu peito, ela tinha tirado de mim uma parte que eu nem sabia que existia.

- Eu não queria que isso nos separasse - Gritou andando em minha direção, me afastei dela novamente. Não conseguia olhar na cara dela, a única coisa que eu sentia era nojo, a via como alguém grotesca, ela tirou o direito de vida do meu filho, tirou de mim o meu filho.

- E você achou mesmo que eu ficaria com você depois do que você fez? - Me manti o mais calmo que pude, não queria gritar, mas a raiva e a tristeza estavam me consumindo - Você tirou de mim a felicidade de ser um pai. Você acabou com o nosso relacionamento, não coloque a culpa da sua total falta de noção no meu filho.

- Ele nem sequer era seu - Parei, o meu mundo parou, tudo parou, o ar, a sua voz, o som, absolutamente tudo parou, o chão não parecia mais firme sob os meus pés - Querido, eu...

- Não - Passei a mão pelos fios escuros e suados, meu tom ainda calmo - Vai embora, agora.

- Theodore, por favor me escuta...

- Te escutar? O que você vai dizer, hã? Você tirou a vida de uma criança inocente e acabou de dizer que não era a minha criança - Meus olhos ardem, mas me recuso a derramar as lágrimas - Você conseguiu Aremy, conseguiu me destruir, me quebrou em pedacinhos quando não me contou sobre o bebê e quando entrou naquela clínica. Não há mais nada que você possa quebrar. Então por favor, vai embora e esqueça que um dia eu me apaixonei por você.

- Quer saber, aquilo que você chama de filho, iria destruir meu corpo e eu não me arrependo - As palavras saíram frias de sua boca, nem um pingo de remorso passou pelos seus olhos - Eu vou, mas vou sabendo que deixei em você uma marca incurável e isso é o suficiente.

- A porta está aberta, passe por ela e não olhe para trás - E se fecharia assim que ela saísse - Diga ao seu pai que a Galini's Dreams está cortando relações com a empresa dele. Pagaremos todo o prejuízo causado por nós - Seus olhos se arregalaram por um instante, mas eu não estava ligando. A única coisa que eu queria era chorar pelo luto que sentia, pelo amor mais puro que eu não conheci.

Quando ela saiu e porta se fechou, eu senti e ouvi o meu coração partir. O grito que saiu pela minha garganta, a dor que estava presa e contida saiu de forma avassaladora, destruindo o meu coração e despedaçando minha alma.

Os dias permaneceram escuros por longos dias.

Um ano depois Eleonor veio ao mundo e foi ela com toda aquela fofura, e sorrisos encantadores, que tirou parte da dor. Entretanto ela, a dor, ainda estava lá.

Seis anos depois conheci Elisabeth e durante seis meses, mesmo sem saber, o sorriso nunca mostrado, as esquisitices com os pés, o olhar indecifrável, o amor que sera explícito em seu rosto, aquele amor que brilhava em seus olhos e que hoje eu sei a quem pertencem, se tornou a cura para a dor.

Um mês depois eu conheci aquelas que fizeram da marca incurável, a pequena parte minha que foi tirada de mim, uma cicatriz que traz hoje lembranças de que eu fui capaz de amar um bebê desconhecido por mim, mas conhecido pela minha alma e coração, e que um dia lutei por ele mesmo que já fosse tarde.

Da marca incurável uma pequena parte minha, não conhecida, mas muito, muito sonhada e amada com todo o meu ser, pode curar a dor que eu senti durante sete anos e trinda e um dias.

Lutar pela minha pequena Flora ou meu pequeno Dim foi uma das coisas mais difíceis e lindas que já realizei na vida.

A primeira foi, amar o meu bebê, mesmo que talvez ele não fosse meu.

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