Expresso - Sahyo (1° Temporada)

35. Pretérito imperfeito

[Jihyo] - 26 dias 

Eu estava a caminho do hospital. Jeongyeon havia passado a noite com Sana, já que eu precisava descansar um pouco e tentar organizar minha casa. No trânsito, eu tentava lembrar em que ponto havia errado para chegar àquela situação. Sana no hospital, minha mãe e Suho em presos, e eu, definhando interiormente a cada dia que passava.

A verdade é que, desde que comecei a ir ao hospital todos os dias, revivia em minha mente algumas memórias não tão boas.

Flashback

- Querida, não precisa de tudo isso. - Meu pai falava em direção a minha mãe.- Ela já está ficando grande e sabe o que é melhor para ela. 

- Ela nunca sabe, esse é o problema - Eu podia escutar gritos vindo da cozinha. - Já está na hora de fazer coisas normais que toda garota faz. 

- Ela tem o tempo dela. -Ele justificou com a voz dura.

Tudo o que eu fazia era visto como anormal por ela. Andar de bicicleta, não podia. Ir ao parque, também não. Eu tinha que seguir sempre o que ela queria e decidia que era melhor. 

- Chega! - Gritei da porta. - Eu não aguento mais isso. - Ambos olharam assustados. - Eu não preciso de ninguém dizendo o que é melhor ou não pra mim. 

- Como ousa gritar ? - Ela se postou a frente levantando a mão. 

- Eu não apresento ninguém por que simplesmente não é possível conviver com você - Guspi palavras. - Ninguém nessa casa consegue conversar com você, é horrível acordar cedo e já ter você julgando. 

- Jihyo, chega - Meu pai se aproximou pegando minha mão. - Vá ver como suas irmãs estão. 

Os dias se arrastavam e o clima naquela casa estava cada vez mais pesado, como se fumaça saísse das mentes de cada um ali presente.

- Jihyo, eu arranjei mais um encontro pra você - Me mostrou o celular com a foto de um homem mais velho. - Ele é dono de três empresas e a família dele conhece a nossa. É perfeito para um casamento. 

Meu estômago se revirou com a perspectiva de mais um encontro arranjado, mais uma tentativa fútil de me encaixar em um molde que nunca foi feito para mim.

- Por que tá fazendo isso? -  questionei, lutando para manter minha voz calma.

- Já passou da hora de você começar a pensar no futuro, Jihyo - ela respondeu, bloqueando o celular e o colocando na bolsa com um gesto decidido.

- Eu não vou - declarei, minha determinação mais firme do que nunca. - Pode cancelar esse encontro.

- Você vai - minha mãe retrucou, sua voz autoritária cortando o ar.

- Não! - gritei, a raiva borbulhando dentro de mim. - Chega disso! Chega de você tentar me encaixar em um molde que não me pertence, chega de fingir que eu sou algo que eu não sou só para agradar você!

Minhas palavras ecoaram pelo cômodo, carregadas de toda a frustração e dor que eu havia guardado por tanto tempo. Eu sabia que o que eu estava prestes a dizer a deixaria furiosa, mas era hora de ser honesta, mesmo que isso significasse enfrentar as consequências.

- O que você está insinuando, Park Jihyo? - sua voz era gelada.

Engoli em seco, o peso das palavras que estavam prestes a sair da minha boca me deixando tonta de apreensão.

- Estou dizendo que... que eu não quero mais esses encontros porque... porque eu gosto de meninas! - as palavras saíram em um sussurro, carregadas de medo.