Em nome da dor - Livro 2

Capítulo 4

NOVA YORK – 11 ANOS ATRÁS

Alfonso acordou na manhã seguinte, se sentindo totalmente desorientado. Sentia um aroma familiar pairar no ar, o perfume dela parecendo impregnado em todo o ambiente. Por um breve instante, ele se permitiu mergulhar naquela sensação reconfortante e familiar, deixando-se envolver pelo sono e pelo perfume dela. No entanto, ao virar-se na cama buscando o corpo feminino para mais próximo do seu, foi surpreendido pela decepção quando tudo o que encontrou foi o lençol frio, marcando o vazio onde ela deveria estar. Um franzir de sobrancelhas denunciou sua confusão, enquanto ele abria os olhos ainda sonolentos, sentando-se na cama. A sensação de desorientação cresceu dentro dele, misturada com uma pontada de ansiedade. Onde ela estava?

— Anna...? — Chamou, sua voz ecoando pelo quarto enquanto se erguia da cama, ainda envolto pelo lençol. Ele se dirigiu até o banheiro, notando-o vazio, sem qualquer sinal dela. Um franzir de preocupação se instalou em sua testa. Em seguida, dirigiu-se ao closet dela, mas também não a encontrou lá.

Uma sensação de inquietação começou a se instalar dentro dele enquanto procurava por ela, fazendo com que ele se vestisse às pressas. Deixou o quarto dela e desceu as escadas em passadas largas, sua mente girando em busca de respostas. Haviam feito amor durante toda a noite, e isso era um bom sinal, não era? Talvez agora pudessem finalmente conversar e esclarecer as coisas, após terem derrubado aquela barreira que ela criara em torno de si. Talvez até mesmo conseguissem superar a idiotice que ele havia feito e reconstruir o que tinham perdido.

— Anahí! — Alfonso chamou ao alcançar a sala de estar, sua voz ecoando pela ampla sala, onde os raios de sol da manhã inundavam o ambiente, criando um cenário dourado. Seus passos rápidos ecoaram no piso de mármore, enquanto seu olhar ansioso percorria cada canto da sala em busca dela. Enquanto isso, Brianna e Emma, sentadas no sofá, ergueram os olhares confusos. Clair, ao vê-lo, bateu palmas animadamente, suas perninhas balançando agitadas e o bracinho esticado em sua direção.

— A Annie está aqui? — Brianna questionou, franzindo o cenho, surpresa.

— Não. Eu só... — Alfonso começou a responder, mas acabou apenas balançando a cabeça, incapaz de articular as palavras. Seu semblante exibia confusão e incredulidade, como se tivesse levado um soco no estômago e ainda estivesse tentando se recuperar do golpe. A constatação de que ela havia partido outra vez era avassaladora demais, pesando em seus ombros como uma carga insuportável. Clair soltou um gritinho indignado diante da negligência de Alfonso, batendo os pezinhos um contra o outro em sua cadeirinha, expressando sua frustração pela ausência de atenção. — Ei, bonita. — Alfonso se abaixou diante da menina, depositando um beijo carinhoso nos cabelinhos ralos dela, tentando amenizar sua própria angústia.

— Anahí esteve aqui? — Emma perguntou, seus olhos demonstrando confusão e surpresa enquanto ela observava Alfonso com atenção. Ele, por sua vez, somente balançou a cabeça levemente, incapaz de fornecer uma resposta imediata, enquanto se aproximava da cadeirinha de alimentação para pegar Clair.

Emma estendeu a colherzinha com o mamão que a menina estava comendo, observando-a com carinho. Clair, agora com quase dez meses, exibia saúde e uma alegria contagiante. Para Emma, sua filha era tudo, a luz de sua vida que iluminava até os dias mais sombrios. E pela menina ela era capaz de tudo. Quando estava terminando o ensino médio e precisaria largar tudo pela filha, a família Herrera haviam intervindo, persuadindo o diretor a permitir que ela fizesse as provas durante as férias, além de contratar um professor particular para ajudá-la com o conteúdo. No entanto, Emma estava determinada a conquistar sua independência em um futuro breve. Ela planejava encontrar um emprego em breve para poder cuidar de Clair por conta própria, buscando construir um futuro estável e promissor para ela e sua filha.