— Entra. — Anahí autorizou, sua voz soando baixinha e um tanto hesitante. Ela se ajeitou na cama, colocando dois travesseiros para apoiar as costas, sentindo a textura macia e acolhedora das fronhas de algodão. O quarto estava suavemente iluminado por um abajur no canto, criando um ambiente aconchegante e sereno. Involuntariamente, uma das mãos dela repousava sobre a barriga, onde sentia a leve protuberância que abrigava seu bebê.
O som suave e rítmico do "tun-dun, tun-dun, tun-dun" do coraçãozinho do bebê ecoava ao fundo, quase imperceptível, mas ainda assim proporcionando-lhe uma sensação de calma em meio ao turbilhão de sentimentos que a envolvia. Cada batida era um lembrete sutil de que, apesar das incertezas e do medo, havia uma nova vida crescendo dentro dela, trazendo consigo esperança e um futuro cheio de possibilidades.
Alfonso entrou no quarto, fechando a porta com um clique suave antes de avançar pelo cômodo com passos cuidadosos. Ele se aproximou da cama, seus olhos, naquele tom de verde esmeralda que ela tanto amava e que geralmente eram tão expressivos, agora pareciam insondáveis, cheios de sentimentos que ele ainda não conseguia transcrever em palavras.
Ele puxou a cadeira da escrivaninha do quarto dela, posicionando-a de forma que ficasse na mesma altura que ela. Seus dedos quase involuntariamente se estenderam e acariciaram lentamente a mão de Anahí que repousava sobre a barriga, em um gesto quase inconsciente, mas que carregava uma profundidade imensa. Ao sentir o toque de Alfonso, Anahí abriu um sorriso enorme, seus olhos brilhando mais que o normal. A conexão entre eles parecendo se fortalecer naquele simples contato, em meio a um elo silencioso, mas que era poderoso, unindo-os ainda mais naquele momento único de suas vidas.
— Como você está se sentindo? — Ele perguntou, a voz carregada de preocupação, seus olhos fixo nos de Anahí.
— Estou... bem, eu acho. — Ela respondeu lentamente, como se ainda tentasse organizar seus pensamentos. — É muita coisa para processar de uma vez. Saber que estou grávida, depois de tudo o que aconteceu... — Sua voz falhou por um momento, e ela respirou fundo, afastando uma mecha de cabelo da frente do rosto em um gesto nervoso. — Acho que ainda estou atordoada. — Admitiu, mordendo levemente o lábio inferior enquanto olhava para as mãos dos dois juntas.
Alfonso assentiu, os olhos se suavizando enquanto a observava, como se compartilhasse do mesmo sentimento que ela estava. Ele se inclinou ligeiramente para frente, como se quisesse encurtar a distância entre eles.
— Eu não planejei essa gravidez, não assim pelo menos. — Anahí continuou, a voz revelando uma ponta de vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. — Mas agora que sei, sinto como se tudo estivesse mudando. Como se... — Ela parou, tentando encontrar as palavras certas para descrever a confusão de emoções que sentia, o turbilhão interno que a deixava dividida entre o medo e o estado de adoração.
— Como se houvesse uma nova esperança, uma nova vida começando. — Alfonso completou, os seus olhos se encontrando com os dela por longos segundos, até que ela assentisse, um pequeno gesto de confirmação. Anahí sentiu um nó se formar em sua garganta, as lágrimas ameaçando cair novamente, tornando o ambiente ainda mais carregado de emoção. — Anna, eu sei que você não me quer na sua vida, não depois do que eu fiz, não depois da forma como eu te machuquei. — Alfonso desabafou, a voz carregada de emoção, meio rouca, enquanto observava o olhar marejado dela.
— Eu não planejei isso. — Reafirmou, os olhos brilhando com mais intensidade do que o normal, refletindo um turbilhão de emoções que se mesclavam dentro dela, um emaranhado de incertezas e sentimentos que ela não queria sentir.
— Tenho certeza que não, mas ele já está aqui. — Alfonso respondeu, acariciando lentamente a mão dela e entrelaçando os dedos dos dois sobre o ventre dela, como se aquele gesto pudesse solidificar o vínculo recém-descoberto entre eles. — E de alguma forma, Deus está nos dando uma segunda chance. Vamos ter um bebê. Talvez um bebê de olhos azuis, como planejamos um dia. — Comentou e os dois sorriram. — E, apesar de ainda estar atordoado com a notícia, eu estou feliz como um louco. — Confessou, um sorriso sincero se formando nos lábios, um contraste nítido com a tensão do momento. Anahí piscou, as lágrimas ameaçando cair enquanto absorvia a sinceridade de suas palavras. — Uma outra chance, uma chance acima de todos os erros que cometemos. Não estou pedindo que esqueça tudo e volte para mim, não funciona assim, eu sei. — Esclareceu, vendo-a assentir levemente. — Mas me deixe estar presente, você não está sozinha. — Pediu, a sinceridade em seu olhar transmitindo um desejo profundo de se redimir e de fazer parte desse novo capítulo em suas vidas.
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Em nome da dor - Livro 2
FanfictionPrimeiro, nasceu a raiva; da raiva, transformou-se em paixão; da paixão, em amor... E do amor, em dor. Após deixar Nova Iorque com o coração em pedaços, Anahí concentrou todos os seus esforços em reconstruir cada aspecto de sua vida que um dia fora...