Capítulo 22

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— Anahí? — Alfonso murmurou, a surpresa evidente em sua voz.

Ela ergueu o olhar para ele, seus olhos azuis, normalmente cheios de vivacidade, agora pareciam opacos, como se a dor e as mágoas tivessem apagado seu brilho. Seu rosto estava pálido e sem cor, com profundas olheiras que marcavam a pele fina ao redor dos olhos. Cada traço de seu rosto parecia mais marcado, esculpido pela tristeza que carregava nos últimos dois meses. O silêncio entre eles se estendeu, transformando-se em uma eternidade dolorosa, enquanto o ar ao redor parecia denso com a tensão palpável entre eles. Anahí suspirou profundamente, o som de sua respiração pesada e irregular ecoando no espaço, como se cada palavra que procurava dizer estivesse presa em sua garganta. Suas mãos tremiam ligeiramente, e ela apertou os punhos, tentando se controlar, mas seus olhos se encheram de lágrimas contra sua vontade, traindo a tempestade emocional que rugia dentro dela.

— Eu... meu pai está aqui? — A voz dela soou como um sussurro trêmulo, cada palavra carregada de uma fragilidade que ela tentava desesperadamente esconder. A expressão em seu rosto, marcada pela exaustão, acentuava o quão mais magra ela estava, tornando-a quase irreconhecível para Alfonso.

Ele lembrava-se dela vibrante e cheia de vida, durante os dias que passaram em Florença. Agora, parecia uma sombra de si mesma, como se a própria alma estivesse desgastada pelo sofrimento. Alfonso sentiu um enorme aperto no peito ao ver o estado dela. Seus olhos, cheios de preocupação, desviaram-se para o menino adormecido nos braços de Anahí. Gabriel, envolto em um sono tranquilo, parecia alheio ao caos que envolvia sua mãe naquele momento. A expressão serena do menino, com as pequenas mãos suavemente entrelaçadas no pescoço de Anahí e o rosto pacífico deitado nos ombros dela, contrastava dolorosamente com a tormenta que Anahí parecia enfrentar. Alfonso sentiu um nó na garganta ao perceber a fragilidade daquela cena.

— Está sim, entrem. — Alfonso respondeu, sua voz carregada de preocupação enquanto se afastava para permitir a entrada de Anahí e Gabriel.

Nina, ainda parada na escada, observava a cena com um olhar sério. Seus olhos faiscavam com um brilho de ciúmes ao notar o modo como Alfonso parecia gravitar em torno da chegada de Anahí, seus olhos fixos na figura abatida dela com uma intensidade que era quase palpável. A atmosfera entre eles estava carregada de uma tensão silenciosa, uma sensação que Nina podia sentir como uma pressão no ar. Anahí, passou por Alfonso, lançando um olhar fugaz para Nina. O contato visual foi breve, mas carregado de uma tensão não dita, como se palavras não faladas e sentimentos reprimidos fossem transmitidos em um instante. Depois, ela se virou, seus passos vacilantes carregando-a para a sala de estar, cada movimento carregado com a fragilidade de alguém que lutava para manter a compostura.

— Posso colocar o menino no quarto de hóspedes? — Alfonso ofereceu com uma voz gentil, estendendo os braços com cuidado para pegar Gabriel, que estava adormecido, todo torto nos braços de Anahí, alheio ao tumulto ao seu redor.

Anahí hesitou por um momento, a sensação de segurança do menino em seus braços fazendo com que ela hesitasse. Seus olhos marejaram, e ela lutou para manter a compostura antes de finalmente assentir, entregando Gabriel a Alfonso. O modo terno que Alfonso pegou o menino, cheio de cuidado, fez com que ela se sentisse um pouco mais segura, sabendo que seu filho estava em boas mãos. Alfonso carregou o menino para o andar de cima com uma delicadeza quase reverente, cada passo seu parecia impregnado de uma preocupação silenciosa. O som dos pés de Alfonso subindo as escadas ecoava suavemente, como um sussurro que contrastava com a tensão que preenchia o ambiente.

— O que você pensa que está fazendo aqui? — Nina perguntou, aproximando-se com um passo decidido. Seu tom de voz era carregado de irritação, a raiva e o ciúme corrosivo brilhando em seus olhos enquanto ela observava a cena.

Em nome da dor - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora