Em nome da dor - Livro 2

Capítulo 10

Os dias que se seguiram foram estranhos. Quando Joseph e Anahí não estavam em suas viagens a trabalho, o lar deles costumava ser um refúgio de plena harmonia, repleto de momentos agradáveis em família. No entanto, agora, pairava apenas o silêncio, envolvendo cada canto da casa. No quarto, a cama se tornara um divisor de espaços, com Joseph e Anahí ocupando extremos opostos, separados não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

Anahí sentia-se profundamente ferida pelas palavras de Joseph, como se sua voz não tivesse peso na criação de Gabriel. Logo ela, que havia abdicado de tantas coisas para se dedicar integralmente ao papel de mãe do menino, agora se via magoada, incompreendida e, acima de tudo, desvalorizada. Era uma dor que a consumia, saber que seu casamento estava desmoronando por conta de uma discordância tão ínfima. No entanto, Joseph, orgulhoso como era, recusava-se a admitir que poderia ter errado. Para ele, suas palavras não passavam de uma verdade que Anahí já deveria conhecer. Mesmo após a conversa com Candice, na qual mencionara a inviabilidade de permitir que ela visse Gabriel, principalmente sabendo o impacto emocional que essa decisão poderia ter sobre Anahí e, ainda mais preocupante, sobre o próprio Gabriel no futuro.

— Podemos conversar? — A pergunta de Joseph alcançou Anahí no momento em que ela saía do banho, o tom de voz dele carregado de uma mistura de urgência e incerteza. Ela usava uma camisola de um tom cobre que realçava sua pele. A peça delicadamente trabalhada, alcançando até a metade de suas coxas, com um decote trabalhado em renda. Ela ergueu as sobrancelhas, um gesto com um tom de desconfiança.

— Claro. — Anahí concordou, derramando um pouco de hidratante em suas mãos. Ela se sentou na beirada da cama, as pernas torneadas à vista, e começou a massagear o creme branco pela pele, num gesto quase automático. Enquanto isso, Joseph pigarreou, um sinal de sua própria ansiedade, e se aproximou dela.

— Queria me desculpar pela forma como me expressei naquele dia. — Joseph começou, suas palavras carregadas de sinceridade. Ele observava Anahí com um ar de arrependimento, no entanto ela não o olhava nesse momento, os olhos ainda parecendo focados nas próprias pernas, enquanto espalhava o hidratante. — Não era minha intenção soar daquela maneira. Você está absolutamente certa sobre Candice não poder simplesmente entrar e sair da vida do Gabriel como bem entender. — Ele admitiu, os olhos buscando os dela em meio ao mar de emoções que os envolvia naquele momento. Havia uma urgência em sua expressão, ansiando por uma conexão que parecia distante naquele instante. — Você é uma mãe incrível, Anahí. A melhor que o Gabriel poderia ter. — Joseph declarou com convicção, sua voz suavizando-se em um tom carregado de admiração e carinho. — E não deixarei que Candice se meta nessa relação, não enquanto você não estiver de acordo com a aproximação dela. — Ele prometeu, tomando a mão dela com delicadeza, entrelaçando os dedos dos dois num gesto carinhoso, atraindo um olhar surpreso dela.

— Me magoou, Joe. — Anahí afirmou, seus olhos azuis parecendo cristalinos.

— Eu sei. Percebi isso quando me dei conta de que você não estava apenas fazendo birra por ciúmes ou alguma coisa assim. — Joseph reconheceu, sua voz carregada de arrependimento. Ele baixou o olhar por um momento, parecendo refletir sobre as suas próprias ações e o impacto que haviam causado. — Candice deixou de ser mãe do Gabriel no momento em que virou as costas para ele, e você sempre exerceu esse papel lindamente, com uma naturalidade que nem eu mesmo consegui ter. — Ele admitiu, erguendo os olhos para encontrar os dela novamente, buscando uma forma de transmitir toda a sinceridade de suas palavras. — Eu não podia ter falado com você da maneira como eu falei, como se isso fosse algo mínimo, sendo que eu sei o quanto você precisou abdicar para poder cuidar de um filho que não nasceu de você. — Joseph admitiu, com um tom de arrependimento na voz.