Capítulo 8

146 6 59
                                    

— O que diabos você está dizendo agora, Alfonso? — Anahí questionou, os dentes trincados, sua voz carregada de incredulidade e raiva reprimida.

— A verdade. A mesma verdade que tentei te contar onze anos atrás e você não me permitiu. Eu nunca te traí. — Ele entregou, sua voz clara e fluída, embora carregada de emoção. Ela hesitou, negando com o rosto, incapaz de aceitar as palavras que contradiziam tudo o que ela acreditava há tanto tempo.

— Mentira. — Anahí acusou, sentindo-se meio entorpecida. Queria ir embora dali, mas sentia como se estivesse travada na cadeira.

— Estávamos planejando viajar nas férias. Eu tinha convencido Daniel de que poderíamos viajar só nós dois, e eu queria fazer algo especial durante essa viagem. Queria finalmente te dar um anel de compromisso e fazer isso do jeito certo. Porém eu precisava de ajuda para planejar, queria comprar um anel bonito, então fui atrás de Emma em busca dessa ajuda. — Ele contou, como se estivesse revivendo aquele momento, enquanto a expressão no rosto dela permanecia marcada pela mais pura incredulidade. — Ao invés disso, encontrei ela em uma situação totalmente vulnerável. O pai dela tinha descoberto que ela estava grávida, e ele a agrediu, quando eu cheguei estava tentando abusar dela. Foi tudo muito rápido, Anahí, mas quando ele me questionou se eu era o pai da criança, eu só pude dizer que sim. Não podia deixá-la ali naquela situação. — Admitiu.

— Chega. Eu não preciso ouvir isso agora. Acabou. — Anahí cortou, mas ele continuou, como se estivesse desesperado para fazer com que ela entendesse a verdade.

— Quando a situação se acalmou, ela estava sangrando, quase sofrendo um aborto espontâneo. Eu a levei para o hospital e passei a noite fora. Foi a primeira coisa que você se queixou quando me viu. — Ele se recordou, um reflexo de um sorriso brincando nos lábios ao recordar do ciúme dela. — Eu prometi no hospital que a ajudaria. Eu não poderia deixá-la em casa com um pai que tentou abusar dela. Christopher estava na faculdade e ela não queria ser um peso para ele, pediu que eu não contasse sobre o bebê. Meu plano era chegar em casa e te contar tudo. Você sempre foi a pessoa com o melhor coração que eu conhecia. Eu sabia que você não negaria ajuda à sua melhor amiga, e poderíamos protegê-la até que o bebê nascesse e ela soubesse o que fazer. Mas então, antes mesmo que eu pudesse contar qualquer coisa, o pai dela chegou lá em casa, espalhando aos quatro ventos que eu a tinha engravidado.

— É pra eu acreditar nisso? — Ela questionou, os dentes trincados de raiva, os olhos cheios de lágrimas, embaçados, sem que ela se desse conta. Não se permitiria chorar. O turbilhão de emoções dentro dela ameaçava explodir a qualquer momento, mas Anahí se esforçava para manter a compostura, determinada a não deixar que suas lágrimas traíssem sua dor e indignação.

— É a minha verdade, Anahí. — Ele admitiu, seu tom carregado de pesar e sinceridade. — Você não quis ouvir mais nada depois disso. Se trancou na sua dor, fez um muro ao redor dela e não deixou mais ninguém chegar perto. Me bloqueou de todas as formas. Emma tentou te contar também, chegou até mesmo a ir até a sua casa e você mandou dizer que não estava lá. — Ele se recordou, mas ela mantinha a mesma expressão no rosto. — Eu tentei incansavelmente por dias, por meses. Até que um dia você voltou, do nada, enquanto eu me preparava para ir para a faculdade, vivendo uma vida que não era para ser minha, sendo o pai da minha sobrinha. Pensei que finalmente você estava disposta a me ouvir, mas mais uma vez você nem sequer me deixou falar. Disse que não queria mais perder tempo com palavras e foi embora de vez na manhã seguinte antes que eu acordasse, bloqueando novamente todas as chances de contato.

— Eu não podia. — Ela balançou o rosto, os olhos nublados, mas as lágrimas pareciam presas, como se estivesse ainda em choque com o que ouvira, o coração martelando. Era a Anahí adolescente ali ouvindo tudo, a adulta já teria ido embora e o deixado ali. — Precisei me reconstruir do zero, tudo de novo, por causa de você. Eu não conseguia acreditar nem que eu poderia ser amada, Joseph mudou isso. Não construí um muro ao meu redor por capricho, construí porque você feriu até onde não podia ser ferido, Alfonso. — Ela negou com o rosto, sua voz ecoando com a dor de anos de desilusão e decepção. — Minha felicidade não veio de graça.

Em nome da dor - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora