Em nome da dor - Livro 2

Capítulo 34

— Desculpa, Annie, mas eu jamais imaginaria que você iria engravidar justamente do Alfonso, pelo menos não depois de tudo o que aconteceu. — Ian comentou com uma expressão de surpresa, tomando um gole do seu chope. Ele olhava para ela com um misto de curiosidade e preocupação, tentando entender como aquela situação havia se desenrolado.

Anahí soltou um suspiro, seu olhar fixando-se por um momento no copo de suco que segurava, as pontas dos dedos alisando a superfície fria do vidro. Eles estavam sentados em um restaurante aconchegante em frente ao Central Park, as luzes suaves criando um ambiente acolhedor, quase íntimo. As mesas ao redor estavam ocupadas por casais e pequenos grupos, o som abafado de conversas e risadas preenchendo o ar de forma reconfortante. O comentário de Ian, porém, trouxe de volta um peso que ela tentava evitar. Ela mordeu o lábio, tentando controlar a torrente de emoções que o simples nome de Alfonso despertava nela.

— Eu também não esperava por isso, Ian. — Anahí finalmente respondeu, sua voz saindo mais baixa do que pretendia, quase perdida no burburinho do restaurante. — Mas a vida tem dessas coisas, né? Aconteceu. E agora... aqui estamos. — Ela deu de ombros, tentando adotar um tom casual, mas seus olhos traíam a intensidade de seus sentimentos.

Ian a observou atentamente, seus olhos azuis se estreitando enquanto estudava cada detalhe de seu rosto. Ele percebeu o leve tremor em sua voz, o sorriso que não chegava aos olhos, e o modo como ela mordia o lábio, como se estivesse segurando algo dentro de si. Sem pensar, ele se inclinou um pouco para frente, apoiando o copo na mesa e estendendo a mão para tocar a dela de maneira reconfortante.

— Não foi fácil para você, não é? — Ian perguntou suavemente, a voz cheia de empatia. — Quero dizer... depois de tudo o que aconteceu entre vocês dois no passado, depois da morte de Joseph... — Ele continuou, apertando levemente a mão dela em um gesto de apoio. Anahí desviou o olhar, mordendo o lábio com mais força enquanto sentia um nó se formar em sua garganta. Ela assentiu, as palavras difíceis de formar.

— Não, não foi. — Ela admitiu finalmente, sua voz trêmula e carregada de uma honestidade dolorosa. — A gente se machucou muito, de tantas formas. E, de repente, a gente se vê de volta no mesmo lugar, lidando com as mesmas coisas... Ou talvez até coisas piores. — Ela riu, mas o som foi curto e sem humor, mais um reflexo de sua frustração do que qualquer alegria.

Ian franziu o cenho, preocupado. Ele podia ver a batalha interna que ela travava, os olhos azuis parecendo brilhar mais intensamente pelas lágrimas que ameaçavam chegar neles, a luta para manter a compostura enquanto os sentimentos borbulhavam logo abaixo da superfície. Ele apertou um pouco mais a mão dela, um toque que pretendia ser tranquilizador.

— Você ainda gosta realmente dele? — Ian perguntou diretamente, sem rodeios, seus olhos fixos nos dela, procurando entender o que se passava em seu coração. Anahí hesitou, seus olhos fixos no copo de suco à sua frente. Ela girou a borda do copo lentamente, como se o movimento a ajudasse a ordenar os pensamentos caóticos em sua mente.

— Ian, eu... — Ela começou, mas sua voz falhou, a vulnerabilidade momentânea surgindo em sua expressão. Ela respirou fundo, buscando coragem para ser honesta. — Eu não sei o que sinto, na verdade. Tem dias que acho que sim, que o amor que eu sinto é... Tudo. Nossa, vê-lo com Gabriel é como um retrato saído diretamente dos meus sonhos de adolescente. — Ela fez uma pausa, balançando a cabeça como se quisesse afastar os pensamentos. — Mas aí me lembro de tudo o que aconteceu, das coisas que ele fez e que eu fiz também, dessa proximidade dele com a Nina... e tudo fica confuso de novo. — Sua voz estava repleta de uma tristeza resignada. Ian assentiu, compreensivo, seu olhar nunca deixando o dela. Ele então estendeu a mão, apertando a dela de forma mais firme.