Capítulo 29

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No dia seguinte, tive que partir sem me despedir dos meus amigos. Fui acordado às cinco da manhã por um rapaz que eu não conhecia. Ele me deu um par de roupas comuns, coisa que eu não via desde que fui para o Avalon, e minha mala com todas minhas coisas do internato. Eu nem sabia que eles tinham se dado ao trabalho de ir buscar.

A esse ponto, eu já estava praticamente todo recuperado. Minha coluna doía apenas quando fazia movimentos bruscos. Descobri que Charlie ainda estava internado e demoraria ainda um ou dois dias para poder ir para casa. Thomas estava se recuperando e voltaria para casa no dia seguinte. Apesar de ser um psíquico muito bom, ainda não tinha resistência o suficiente para usar seu poder desenfreadamente. O resto da equipe ainda repousava também e suas viagens para casa seriam nos dias subsequentes.

Me lembrei que agora Charlie teria que escolher entre ir para casa do seu pai ou sua mãe. Isso me deixou triste.

Descemos pelo elevador e chegamos no andar que saía para o vale da ilha. Do lado de fora, caminhamos pela floresta por alguns minutos até chegar no espaço aberto das pistas de pouso. A ilha era bem pequena. Possuía três grandes montes cobertos de vegetação e meio escondido pela neblina da manhã: A Montanha Oeste onde ficava o hangar, a Montanha Nordeste e a Montanha Sudeste onde a base ficava. A paisagem era linda.

O boeing estava do lado de fora da garagem, estacionado do lado de uma das pistas com a escada pronta para mim.

Era estranho um avião inteiro completamente vazio. Olhar para o corredor e não ver ninguém. Um avião fantasma. Sentei no primeiro banco, apertei o cinto e esperei o avião terminar de decolar, chegando a altura de cruzeiro. Quando finalmente olhei pela janela, e vi que as nuvens estavam muito abaixo de mim, uma voz saiu no alto-falante.

— Ben, venha para a cabine do piloto. É muito solitário aqui.

Era Victoria. Desprendi meu cinto e caminhei até a porta da cabine. Lá dentro, ela estava sentada com um óculos de sol no rosto e um enorme headphone na cabeça. Ela me indicou para sentar no banco do copiloto, e eu obedeci.

— Que desculpa você deu dessa vez pra passar tempo comigo? — perguntei, com um sorriso cansado no rosto.

Ela removeu o fone de ouvido e me encarou, exagerando um espanto.

— O quê? Eu? Onde já se viu? — exclamou, negando aquilo com todas as células do seu corpo. Vendo que não fui convencido, ela relaxou. — Frank abriu a boca, né?

— Pra um agente secreto, ele parece ser um péssimo guardador de segredos.

Victoria vestia uma blusa vermelha de botão e uma calça jeans, o que me deu nostalgia da época do internato. Ver ela com roupas normais. Seu cabelo ruivo estava amarrado para trás saindo pelo buraco de um boné cinza.

Ela suspirou.

— Olha, você é o dominador de metal mais forte da sua equipe. Precisa saber combate corpo a corpo a todo custo. Frank me falou que você não estava sabendo em que arma se especializar, então me voluntariei.

— Mas por que esconder?

Ela processou por um momento, como se também não soubesse o motivo.

— Acho que foi instinto. — respondeu ela. — Tô muito acostumada a esconder a motivação por trás de quase tudo que eu faço. Penso que, assim, estou um passo à frente de todo mundo. E ninguém vai saber onde vai ser o meu próximo passo.

Absorvi aquela informação pessoal com atenção. E, antes que ela pudesse se arrepender de ter me contado sozinha, decidi dar uma ajudinha.

— Então você acabou de me contar a motivação por trás de você esconder a motivação por trás das suas ações. Ou você tá mentindo, ou isso é um paradoxo. — afirmei. Ela sorriu.

Benjamin Heartwell e a Pedra de ScaldorOnde histórias criam vida. Descubra agora