Parece que foi instantâneo.
No momento em que meu corpo percebeu que não havia mais ameaças presentes, ele desligou. O esforço que meus músculos haviam feito naquele dia foi muito além do que estavam preparados para aguentar.
Mas, como se fosse para criar uma rotina, fui visitado pelo lanceiro. Estávamos tendo uma sessão terapêutica.
— Apenas utilize o teu charme natural até que a dama morda os próprios lábios. Se ela direcionar o olhar para a tua boca, melhor ainda. Isso é um sinal claro de que ela deseja te beijar. É dessa maneira que eu analisava, na minha época. — afirmou.
— Charme natural? Parece Charlie falando.
— E Charlie me parece um jovem sensato.
— E beijar? Acho que estamos pulando umas etapas. O que que devo dizer pra ela? Toda vez que cogito a possibilidade de me declarar e falar como me sinto, meu estômago se revira todo e eu não falo nada.
Eu estava deitado no chão, usando os braços como travesseiros e olhando para a escuridão acima de mim. Eu já estava lá, ao que pareciam ser, alguns dias e estava entediado. Então, decidi desabafar sobre algumas coisas.
— Entendo, entendo. — disse Sir Nichollas, sentado ao meu lado. Seu capacete negro estava jogado ao seu lado. — Para falar a verdade, não entendo. A arte de conquistar as damas nunca apresentou ser um desafio para mim. Como pode ser uma tarefa difícil para ti?
— Imagina ter que lutar contra uns cem soldados ao mesmo tempo, sozinho, sem nenhuma arma. É mais ou menos esse nível de dificuldade.
Ele coçou a cabeça.
— Na verdade, isso também não é um obstáculo para mim. Já realizei tal proeza.
— Sério? Nossa. Então me diga a coisa mais difícil que você já teve que fazer e não conseguiu. Algo que na hora você simplesmente não sabia como resolver e achou que morreria.
— Quando estás para declarar-se para a tal Victoria... pensas que vai morrer?
— Ah, deixa para lá. Você não entende.
— Já me vi à beira da morte em inúmeras ocasiões, a ponto de não conseguir enumerá-las nos próprios dedos. — disse ele, olhando para as mãos. — De fato, mostrei-te uma delas no penhasco. Houve ainda outra ocasião na qual perdi completamente as esperanças, e confesso que o temor estava presente em todas elas.
— Esse é o problema. Eu sou muito medroso. Tudo que eu queria era só não ter medo de nada.
— Por quê? Queres morrer uma morte terrível? — indagou ele. Eu me voltei ao lanceiro e o encarei confuso. Ele suspirou. — Foi o medo que me permitiu sair ileso. O temor, Benjamin, nunca foi uma fraqueza. Muitos que se autoproclamam corajosos encontraram um fim prematuro, muitas vezes por causas notavelmente triviais. Observe Knut, por exemplo. — me lembrei do ruivo com os dois machados brancos. — Ele foi o homem mais destemido que já tive o privilégio de conhecer. Não demonstrava receio diante de desafios. Se tivéssemos seguido o seu exemplo, teríamos encarado aquelas feras de frente e, sem dúvida, pereceríamos.
Isso eu pude experienciar quando resolvi socar a cara do Klaus quando ele me levou para Tártarus. Ele me chamou de corajoso, mas me reprimiu dizendo que era o mesmo que estupidez.
— Então, basicamente é bom eu ser medroso?
— Aquele que não teme nada muitas vezes age sem prudência diante dos desafios. Por outro lado, quem reconhece sua própria limitação, frequentemente se posiciona com discernimento e sabedoria. — eu semicerrei os olhos, fixos nele. Ele não estava contando tudo. — Certamente, é importante lembrar que o excesso em qualquer coisa pode ser prejudicial. O que precisas cultivar não é exatamente a coragem, mas sim confiança.
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Benjamin Heartwell e a Pedra de Scaldor
AventuraPouco tempo após sua vida ter mudado ao ir para o internato, Benjamin Heartwell encontra um novo desafio quando uma organização secreta seleciona ele e alguns outros alunos para serem recrutados como super soldados. Junto com seu melhor amigo, Char...