Ato V: Minha Casa em Perigo - Capítulo 30

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Sei o que você está pensando: "Que tipo de reencontro foi esse?"

O tipo que acontece na família Heartwell. Meu pai estava envergonhado por ter me decepcionado, e eu, triste pela situação que ele estava. Logo que minha irmã morreu, ele realmente nunca mais havia sido o mesmo. Foi o dia que separou sua vida de um homem feliz para um fantasma sem sentimentos. Convivi quatro meses com ele nesse estado até eu ir para o colégio.

Naquela noite, ele me colocou para dormir, como nos velhos tempos.

Achei que por estar em casa, os perigos da minha segunda vida que passei a viver me deixariam em paz, mas como de costume eu estava enganado. Não demorou muito até tudo voltar a ser como era antes.

No outro dia, meu pai me levou para comer em uma lanchonete onde devorei cinco sanduíches, e depois fomos para sua oficina. Ela ficava a alguns quarteirões de casa. Meu pai a destrancou e abriu. Era apenas um espaço aberto com algumas vagas para carros estacionarem e serem suspendidos. No fundo, havia uma porta que levava ao seu escritório. Não havia nenhum carro lá para conserto, exceto a camionete velha do meu pai.

O único carro que não nos trazia benefícios quando quebrava.

— Filho, hoje você vai me ajudar a consertar nosso carro. Semana passada ele começou a soltar uma fumaça estranha e, agora, não quer andar mais. Vou pegar umas ferramentas novas, espere um pouco. — disse ele, e desapareceu para seu escritório.

Meu pai era um bom mecânico, não sabia por que estava tão sem movimento. Ele voltou e suspendeu um pouco o carro. Trabalhamos na camionete por algumas horas. Me senti uma criança novamente ajudando meu pai a consertar nosso carro. Em um determinado momento, um homem entrou na oficina. Era Bill, nosso vizinho. Homem careca, com enorme bigode branco e uma barriga volumosa.

— Não acredito! Mark! Como você tá? — chamou ele.

Meu pai se apressou para sair debaixo do carro e cumprimentar o colega.

— Bill! Estou bem. Como você tá, amigo?

— Estou ótimo. Passei aqui, vi as luzes da oficina acesas e não acreditei. Tive que entrar para ver.

— Huh... Bill. — disse meu pai. — Você se lembra do Benjamin, não é?

— Claro que lembro! — Bill apertou minha mão e eu abri um sorriso amarelo. — Como você cresceu, rapaz. Aperto de mão forte.

— Pois é. — afirmei, sem graça.

— Mark, preciso ir. Só parei para ver como estavam as coisas. Sua barba grande combinou com você. Ah! E agora que você abriu a oficina de novo, preciso que dê uma olhada no meu carro. Tem um barulho que...

— Olho sim, Bill. É só dar uma passada aqui que eu te devolvo novo em folha. Sabe como eu sou, não é? — disse meu pai, acompanhando-o até a saída.

— Claro que sei, Mark. Você é o melhor mecânico que já vi. Então, até mais.

— Até. — Bill saiu e meu pai fechou a porta, já olhando para mim.

Olhei fixamente para ele.

— "Abriu a oficina de novo"? — indaguei.

— Filho, é que...

— Você não tá nem trabalhando?

— Filho, deixe eu explicar...

— Eu sei que passamos por coisas muito ruins, pai. Eu também tenho saudades da mamãe, da Kaia. Mas isso não é justificativa para desistir de tudo como se você tivesse morrido também!

Benjamin Heartwell e a Pedra de ScaldorOnde histórias criam vida. Descubra agora