Capítulo 47

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 O garoto parecia ter descendência indígena. Sua pele era de uma tonalidade mais escura. Seus olhos eram pequenos, mesmo parecendo estar arregalando-os. Seu cabelo era preto e liso, porém não tão grande. Reparei que estava abaixo do peso. Sua barriga continha os mesmos cortes que o urso, que mancharam seu corpo de vermelho, e vestia apenas uma bermuda velha. Nós nos aproximamos dele.

O garoto tentou se colocar de pé, deixando Victoria em alerta. Tentei ajudá-lo. Aquelas coleiras me deixaram suspeitando de que os animais não trabalhavam para Klaus nem Adams por vontade própria. E o garoto confirmou minha teoria.

— Por favor... — ele não conseguiu ficar em pé por muito tempo e caiu de joelhos. — Meu amigo... ele tá... — ele se colocou sobre os quatro membros e cambaleou na direção da floresta, onde antes o enorme corpo do urso cobria. Seguimos com o olhar a trajetória que fez. Ele estava indo em direção ao corvo. — Alguém ajuda meu amigo...

O corvo não parecia estar vivo. Suas patas gigantes estavam voltadas para cima, seu bico estava aberto.

— Jenni! — gritei. — Precisamos de ajuda aqui!

Os adultos olharam para mim, surpresos. Todos examinavam com atenção de braços cruzados ou com as mãos nos bolsos, mas não estavam dispostos a fazer algo a respeito. Era guerra. E todos pareciam muito bem acostumados com aquilo.

Eu não.

Jenni apareceu e eu a segui até o corvo caído. O garoto se deitou ao seu lado, já sem conseguir levantar mais. Jenni repousou as mãos sobre as feridas do garoto-urso, as quais emitiram um fraco brilho amarelo. Ele olhou para mim enquanto Jenni trabalhava. Em seguida, apontou para a coleira do amigo.

— É claro. — respondi.

Me apressei para fazer a coleira quebrar. O corvo que possuía uns três metros de altura teve o mesmo destino do colega. Seu corpo começou a emitir uma fumaça forte e diminuir de tamanho. Debaixo de todas aquelas penas, havia um homem, com alguns anos a mais que o garoto. Ele era negro e magro, mas seus músculos eram bastante definidos. Também estava vestido com uma bermuda.

— Igo. Acorde, Igo. Por favor, não morra. — dizia o garoto. Ele estava deitado, mas virava a cabeça para olhar para o amigo. — Cure ele! — afirmou enquanto removia as mãos da Jenni e as levava para o outro.

Jenni olhou para mim hesitante, afinal eram os inimigos os quais estávamos lutando contra, mas ela o curou mesmo assim. Repousou suas mãos sobre sua testa e tronco, os quais começaram a brilhar. Poucos segundos se passaram até ele acordar.

— Quem é você? — indagou Igo ao olhar para Jenni.

— Seu amigo me pediu para te curar. — disse ela, apontando para o lado.

— Iniv? Iniv! Você tá vivo! — ele sorriu. Ambos não podiam se mexer, mas ainda sorriam ao ver que estavam vivos. — O que aconteceu?

— Eu lembro de pouca coisa. — respondeu Iniv. — Só lembro de, uma noite, eu ser teleportado para um lugar escuro... aquele maldito. — ele parou, se recordando melhor do passado. — Christopher Adams! Eu preciso matar ele! — ele começou a levantar, mas Jenni insistiu que ele ficasse quieto. — Me solte! Preciso achar ele. Ele matou meu irmão! — ele ficou sobre os quatro membros e começou a andar desajeitadamente para uma direção aleatória. Depois, apenas tombou duro.

Charlie foi socorrê-lo.

— O que aconteceu com vocês? — indaguei.

Igo olhou para mim. Não havia motivos para confiar em nós, mas no meio daquilo tudo estávamos trazendo-o de volta à vida. Percebeu que, se fôssemos matá-lo, já teríamos feito.

Benjamin Heartwell e a Pedra de ScaldorOnde histórias criam vida. Descubra agora