2 dias depois
Atracamos há uma hora em uma ilha imensa, que tem conexão direta com o continente graças a uma ponte que foi construída durante uma guerra há duzentos anos. O motivo principal da construção eu não entendi, pois o senhor que me contou a história tinha um sotaque tão carregado que acabei não compreendendo a maior parte do que falou.
O zeryn é um idioma geral falado pela maioria da população. Centenas de anos atrás, os reis mais importantes da época decidiram que seria muito mais benéfico se os povos possuíssem um idioma geral, assim as pessoas poderiam visitar e negociar com diversos reinos sem precisar se preocupar em aprender uma nova língua. Levou anos até que grande parte da população aprendesse e usasse. Os idiomas nativos acabaram sendo mantidos, pois nenhum lugar aceitou renunciar à língua materna e o zeryn então só passou a ser usado com visitantes ou em lugares com muitos estrangeiros. Amber é um exemplo de pessoa que, seguidamente, falava comigo em idhani por não gostar da pronúncia do zeryn.
Como não tenho muito para fazer nesse momento, afinal o boticário dessa ilha só abre no final da tarde, decidi acompanhar o Zion até o horário do almoço. Ele está atrás de uma nova adaga e algumas tiras de couro, mas o lugar em que ele me trouxe é tão abafado e cheio de gente que começo a sentir minha cabeça girar.
Esse mercado ficava dentro das ruínas do que um dia já foi uma base da guarda real. As diversas tendas ficavam espremidas uma contra as outras, entre as paredes de pedra e as pessoas se amontoavam para ver os produtos sem se preocupar se estavam pisando no pé de alguém.
— Zion — tento falar alto o suficiente para que ele me escute sem eu ter que gritar — Zion!
— Diga — ele se vira.
— Vou te esperar do lado de fora — digo, enquanto desvio de um homem que está carregando uma caixa enorme na cabeça. — Aqui dentro está insuportável.
— Tudo bem. Vou tentar não demorar
Ele retorna o caminho que estava fazendo e em poucos segundos é engolido pela multidão. Me volto para a entrada e lentamente caminho contra a correnteza de pessoas. Os gritos dos vendedores, misturado com o barulho e o cheiro dos animais é capaz de deixar qualquer um tonto, sem falar o ar úmido e pesado que torna difícil de respirar e muito fácil de transpirar.
Quando finalmente chego do lado de fora, o meu cabelo está grudado no pescoço e apoio minhas mãos no joelho.
— Bruxas do Frio não foram feitas para multidões — murmuro para mim mesma.
Ando até uma árvore e me sento em sua sombra enquanto espero pelo tiefling. Fecho os olhos e aproveito a brisa fresca, que vem do mar, misturado com o som das aves. Felizmente, Zion não demora muito e uns quinze minutos depois ele surge ao meu lado com a mesma expressão que eu tinha quando saí.
— Achou o que procurava?
— Sim — responde, ofegante — E acho que passei por todas as provações necessárias para sentar ao lado da Deusa no paraíso. Vamos almoçar? Estou faminto.
— Infelizmente, terei que roubar essa bruxa de você — Vane aparece como que por magia. Às vezes eu realmente acredito que o sangue de dragão o faz se teletransportar.
— Ah tudo bem..., mas é que a Lys falou que ia pagar o almoço, sabe?
Vane joga uma bolsinha em sua direção e Zion a apanha no ar.
— Algo mais?
— Claro que não. Uma boa tarde para vocês dois.
Zion vai embora assobiando e sua cauda balançando alegremente de um lado para o outro.
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Entre Mares e Feitiços
RomanceLyssandra é uma bruxa do Frio que está presa à cidade de Perterin por causa de sua dívida com Vane, o temido capitão do navio Kanramarur. Essa dívida aumenta toda vez que ele vem à cidade e Lysandra se vê sem saída. Porém tudo muda quando Vane ofere...