Um

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JIMIN

Quase despencar para a morte em um estádio cheio de gente gritando é um alerta, em meio a outros infinitos alertas recentes, de que preciso dormir mais.

Estamos no meio do último show da turnê de Months by Years quando acontece.

Estou a uns quatro metros e meio acima do palco, numa plataforma suspensa e iluminada que parece o horizontede uma cidade.

Chega a hora de nos abaixarmos graciosamente e sentarmos na beirada, murmurando o início da última música, “His, Yours, Ours”, mas em vez de dar uma abaixadinha elegante, dou um passo em falso, tento me equilibrar e caio para fora.

Antes que eu despenque lá embaixo, alguém me segura pelo ombro.

É Jeon JungKook, um dos outros três integrantes da Saturday.

Ele arregala um pouquinho os olhos castanhos, mas, tirando isso, age como se não fosse nada.

Tudo certo por aqui.

Não posso me dar ao luxo de parar para agradecê-lo, porque estamos cercados pela fumaça de gelo-seco no palco – que está ali para parecer ou as nuvens ou a poluição de uma cidade, nunca entendi direito – e os primeiros acordes da música já começaram.

JungKook mantém a mão no meu ombro enquanto canta, como se fosse tudo parte da coreografia, e eu me inclino para manter uma pose desequilibrada, totalmente sob controle.

Pelo menos por fora.

Depois de vinte e sete shows e meio, um atrás do outro só este ano, não é exatamente a primeira vez que um de nós precisa acobertar um tropeço ou erro na coreografia.

Por outro lado, é, sim, a primeira vez que um desses erros quase causa uma queda de quatro metros de altura, e meu coração nunca deve ter batido tão forte assim, mas o show tem que continuar.

Afinal, a verdade é que não estamos dando um show; nós somos o show.

E o show não pode parar por dois minutos para se recompor depois de quase quebrar o pescoço.

O show é suave, controlado e faz tudo de propósito.

Quando JungKook termina de cantar sua parte, dá um apertãozinho no meu ombro – o único tipo de atenção que dará para aquela situação no momento – e então baixa a mão quando Kim Seokjin começa seu verso.

Jin sempre tem mais solos.

Acho que é isso que acontece quando seu pai é o empresário da banda.

Não temos um líder, por assim dizer, mas, se tivéssemos, seria Jin.

Pelo menos aos olhos do público.

Quando Jin termina e chega a minha vez de cantar a ponte da música, já consegui controlar um pouco a respiração.

Não que faça diferença – em todas as músicas, sem exceção, recebo os solos mais simples, sem nenhuma nota alta.

Sendo bem sincero, eu daria conta do recado até com uma meia enfiada na boca.

Eles não estão nem aí se tenho o maior alcance vocal dos quatro.

Por motivos que nunca se deram ao trabalho de me explicar, preferem que eu seja mais suave.

“Eles” são nossa equipe de gerenciamento e, de certa forma, nossa gravadora – agência Chorus e Galactic Records.

E Deus me livre tentar forçar essas limitações com um vocal diferente ou uma mudança de tom.

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora