Dois

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JUNGKOOK 

Tenho quase certeza de que meu motorista é fã da Saturday.

Ele faz contato visual pelo retrovisor, sorri e desvia o olhar, várias vezes seguidas.

Acabou de fazer de novo, e sinto minha nuca arrepiar.

Ele deveria estar me levando para a casa da minha mãe, mas sei muito bem que poderia me levar para qualquer outro lugar, e meu instinto diz que ele talvez tenha um porão coberto de pôsteres da Saturday.

Passo a mão pelo cabelo e presto atenção nas ruas.

É melhor encarar com lógica.

Erin contratou o motorista, então ele deve ser confiável, porque a carreira dela despencaria ladeira abaixo se eu fosse sequestrado sob sua responsabilidade.

No fundo, sei que não há nada suspeito acontecendo.

Então, por que ele continua sorrindo para mim como se estivesse tramando alguma coisa?

Ouço um riff de guitarra familiar.

Ah, não.

Ele arqueia as sobrancelhas e sorri para mim com uma cara de Ah, sim.

O motorista aumenta o volume e minha voz começa a tocar no carro.

Quase prefiro que ele seja um assassino.

Não é que eu não goste de “Guilty”; a música é divertida e, pra falar a verdade, uma das minhas favoritas da Saturday, principalmente por causa do riff de guitarra supermeloso e os melhores vocais da carreira do Jimin.

Sério, a voz dele está muito boa nessa.

Apoio a cabeça no vidro na hora do refrão.

É uma das nossas primeiras músicas, da época que eu ainda não tinha abandonado totalmente meu estilo de canto meio punk, que Joo-hun gentilmente descreve como “chorão e nada comercial”, então meu timbre está trêmulo e é impossível não reparar no autotune.

Eu faria diferente se regravássemos a música, mas depois que a gente fica famoso, tudo que fazemos nos segue para sempre.

Confiro o retrovisor e, sim, o motorista continua me observando.

Bizarro pra caralho.

Balanço a cabeça no ritmo da música, fingindo estar curtindo.

“Guilty”?

Adoro essa.

— Minha filha é fanática por você, JungKook — diz ele, me encarando pelo espelho. — Por todos os outros, mas especialmente por você. Ela diz que é uma stan.

Estremeço e forço um sorriso.

— Ah, nossa, obrigado, que gentileza da sua parte.

Ele ri.

— Não tem de quê. Sabe, sou um cara mais do rock, mas algumas das músicas de vocês grudam na cabeça. Só não conta pra ninguém que eu disse isso, beleza?

A esta altura, já estou acostumado.

O negócio é o seguinte: nenhum cara elogia a Saturday sem algum tipo de porém.

Vocês são horríveis, mas…

— Não vou contar. — Faço uma pausa e então decido continuar. — Também sou um cara mais do rock. — É a primeira coisa sincera que digo para ele.

Mexo na pulseira de couro que o estilista me obriga a usar.

Só para deixar claro, eu amo nossas músicas.

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora