Dezenove

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JIMIN 

Na noite em que nosso mundo desaba, passo a maior parte do show perdido em pensamentos.

Começa com JungKook.

Desde que o vi dançando aquela noite no quarto do hotel, venho tentando dar mais umas espiadinhas nele no palco.

Tenho que fazer tudo com muita sutileza, claro, para o caso de ficar óbvio demais e alguém da Chorus decidir nos dar uma represália.

Então, da maneira mais sorrateira possível, olho vez ou outra, maravilhado com o jeito como ele morde os lábios sem perceber quando o ritmo acelera e a coreografia fica mais rápida; com os sorrisinhos que ele dá para o público e as mechas suadas que ele puxa para trás com os dedos.

Enquanto estou olhando, um buraco de amargura se abre dentro de mim.

Porque JungKook atrai minha atenção como um ímã e eu não deveria ter que treinar meus olhos a procurar outro foco.

Tento imaginar como a Chorus vai anunciar nosso relacionamento.

Tento nos imaginar de mãos dadas nesse palco.

Mas não posso.

Então, olho para Jin.

Ele morde os lábios de propósito, seduzindo o público como foi ensinado a fazer.

O sorriso malandro e cheio de desejo, direcionado a qualquer garota sortuda que ele encontre na área mais próxima do palco.

Ele abre os dedos ao passar a mão pelas coxas, enviando uma onda de eletricidade para a multidão.

A amargura cresce ainda mais.

Porque ele é uma marionete sem vontade própria.

Então, olho para V.

Seus lábios estão abertos enquanto ele solta o fôlego, exausto – não está drogado hoje, mas pelo visto teve uma noite daquelas ontem.

Seu sorriso é fraco, como se ele não conseguisse se empenhar o bastante.

Ele fecha o punho quando a dança acaba, com uma tensão acumulada, que ele não consegue extravasar.

A amargura chega no auge.

Porque acho que ele não está bem.

E não consigo pensar em um jeito de parar esse trem descarrilhado.

Meu sentimento deve ter ficado estampado na minha cara, porque todo mundo me evita depois do show, nos bastidores.

Enquanto nos trocamos, JungKook pergunta algumas vezes como estou, e continua perguntando no caminho para o hotel, mas só abro um sorriso tenso e digo que estou bem.

Recebo uma mensagem da minha mãe, e envio uma resposta rápida.

Depois de mais algumas mensagens trocadas, preciso de um descanso.

Não estou com cabeça agora.

Daqui a uns vinte minutos eu respondo, antes que ela fique nervosa demais, e digo que meu celular ficou sem bateria ou qualquer coisa assim.

No hotel, bem no centro agitado de Budapeste, V e Jin somem em seus quartos, e eu e JungKook escapamos para o meu.

Assim que ficamos sozinhos, sinto a amargura dar uma pequena trégua.

As coisas sempre parecem mais sob controle quando estamos só nós dois.

JungKook tira os sapatos e senta na cama.

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora