Vinte e Um

21 4 0
                                    

JIMIN

O voo de volta para casa é silencioso.

Tento dormir um pouco porque não tenho conseguido descansar ultimamente de jeito nenhum, mas, como sempre, mesmo de olhos fechados, minha mente se recusa a sossegar.

Os pensamentos borbulham e reviram, pulando de um tópico para outro com a energia de um beija-flor.

V, sua recuperação, as informações vazias que nos dão sobre ele.

A imprensa, e as discussões agora empáticas sobre V e seu acidente de trânsito aparentemente causado pelo cansaço.

Jin, que se fechou desde que finalmente enfrentou o pai.

A identificação que tive com o medo dele pelas consequências de teimar com a própria família.

JungKook, e seu sorriso murchando um pouco depois que se assumiu para a mãe e desaparecendo completamente depois do acidente.

Ele está prestes a encarar a mãe pela primeira vez desde que saiu do armário, e eu estarei em outro estado, incapaz de segurar a mão dele e correr para ajudar caso algo dê errado.

Minha mãe, que parece mais preocupada com a turnê interrompida do que com o que aconteceu com V.

Além do mais, ignorei as mensagens dela.

Aparentemente, o trauma que passei naquela noite não me deu uma licença para me comportar mal.

Preciso tentar voltar ao normal na casa dos meus pais.

Perto dela.

Sem a banda.

Sem JungKook.

Um tópico, um zumbido, outro tópico se repetem em sequência na minha mente.

Como se meu cérebro estivesse tentando, em vão, sintonizar na estação de rádio correta.

Tento abafar tudo com fones de ouvido e a trilha sonora de In This House, mas não funciona muito bem.

Parece que estamos voando há uma eternidade – já até comecei a considerar que talvez Joo-hun esteja mesmo planejando nunca nos libertar, e secretamente desviou a rota do avião para uma coletiva de imprensa marcada de última hora ou qualquer coisa do tipo.

Ou talvez não seja nada tão complexo.

Quem sabe só estamos flutuando sem nos mover, suspensos no lugar, e nunca mais vamos voltar para casa.

Talvez a espera e a melancolia sejam tudo o que existe agora.

Mas então o piloto anuncia que estamos prestes a pousar em Seul, e eu finalmente abro os olhos.

JungKook, que passou o voo inteiro com o ombro pressionado com força contra o meu, me encara, mas não diz nada.

Muito menos sorri.

Geralmente, V e JungKook continuam no avião enquanto o resto de nós desembarca aqui.

Mas hoje ele vai continuar a viagem sozinho.

A equipe passa por JungKook e se despede com uma animação forçada.

Jin dá um abraço apertado nele, e sinto um nó na garganta vendo.

Os segundos passam.

Agora, todos se foram.

É hora da minha despedida.

E não estou pronto.

Só fiquei longe dele por no máximo algumas horas desde que começamos a turnê internacional.

Agora, sinto como se estivessem me arrastando daqui.

Como posso sair deste avião sozinho, ir para casa sem ele, dormir sem o cheiro de JungKook no meu travesseiro e acordar com apenas o eco da sinfonia que criamos juntos?

Parece que a vida está prestes a perder o ritmo, me levando junto.

Rangendo os dentes, abraço-o com força, sentindo seu cheiro e segurando seu cabelo, só para gravar na memória como é tê-lo por perto, para conseguir sobreviver até que eu possa vê-lo de novo.

— A gente se vê em breve? — pergunto, quando nos afastamos.

Ele engole em seco, e o canto da sua boca treme.

— Em breve. Me manda mensagem quando chegar em casa?

Assinto em vez de responder, porque meu medo é abrir a boca e as palavras não saírem.

Respirando fundo, vou até a porta com Jin e desço os degraus até a pista de pouso.

Tento me reconfortar: temos telefone.

Temos internet.

Vai ficar tudo bem.

É só um tempo.

Desta vez, não há nenhuma agitação enquanto a equipe é escoltada por dois seguranças da Chase até o aeroporto.

Somos apressados até uma área privada pela entrada dos fundos, longe da multidão, das fotos, dos vídeos e dos gritos.

Só um zumbido baixo e vazio, pontuado por anúncios de voos e cumprimentos ensaiados da equipe eficiente do aeroporto.

Mal tenho tempo de esfregar os olhos e me espreguiçar antes de ter que me despedir de Jin na calçada.

Então, ele é colocado em um carro, eu, em outro, e acabou.

Estou sozinho.

Voltando para a casa dos meus pais sem ter como fugir.

Nada mais os separa de mim.

Nenhum fuso horário.

Não faz menos de um mês que eu estava chateado por sair do fuso horário deles?

Controlo a respiração enquanto o carro sai do estacionamento.

Trinta segundos depois, pego o celular e tiro o modo avião para mandar uma mensagem para JungKook.

Mas assim que meu telefone recupera o sinal, chega uma mensagem dele.

Deve ter enviado enquanto o avião ainda estava em solo.

Oi. Tô com saudade.

E, apesar da dor afundando meu peito, abro um sorriso.

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora