Vinte e Sete

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JIMIN 

A multidão está há dois dias acampada no Gwanghwamun Square.

Enquanto Soo-ah arruma nossos cabelos e faz nossa maquiagem – sem parar de lamentar sobre como ficamos acabados sem seus cuidados constantes –, nossa equipe envia centenas de garrafas de água para o público.

Olhando assim até parece que estão preocupados com os fãs, mas, no fundo, só não querem que ninguém desmaie de calor ou desidratação por causa deles.

Também não quero, é óbvio, mas tenho a impressão de que, enquanto meus sentimentos são mais do tipo “meu Deus, isso seria horrível”, os deles são mais “meu Deus, isso atrapalharia o show”.

Estamos alojados numa tenda cheia de seguranças, atrás do palco temporário, cercados por fãs à espera, membros da equipe correndo de um lado a outro e murmurando em seus walkie-talkies, e o zumbido baixo dos geradores de energia.

JungKook e Jin penduraram suas jaquetas no encosto das cadeiras de plástico mais próximas.

Para sorte minha e do V, estamos de camiseta.

O sol da tarde está pegando fogo hoje, mas pelo menos não vai durar muito tempo.

Vamos sair, participar de uma entrevista, apresentar “Overdrive” pela primeira vez, Jin vai dar uma mensagem rápida para os fãs, seguida de mais duas músicas.

Moleza.

Esse é o plano oficial, pelo menos.

A realidade vai ser um pouquinho diferente.

Coloco a cabeça para fora da tenda e dou uma espiada na multidão.

Não consigo ver muita coisa através da equipe de segurança, mas o falatório me diz que já começaram a entrar e estão parados na frente do palco.

Meu estômago dá cambalhotas.

É a primeira vez em anos que me sinto nervoso antes de um show.

Alguém toca meu ombro, eu viro e vejo JungKook.

Ele não diz nada, mas com o olhar deixa claro que sabe que há algo de errado comigo.

— E se minha mãe se virar contra mim depois do que vai acontecer? — pergunto.

JungKook indica a entrada da tenda com o queixo, e eu o sigo até um cantinho mais reservado.

Ou melhor, reservado na medida do possível, dadas as circunstâncias.

Não dá para nos escutar com todo o barulho, mas ele mantém a voz baixa mesmo assim.

— Se ela se virar contra você por contar ao mundo quem você é, ela perde o direito de ser sua mãe, isso se já não perdeu há muito tempo. A opinião dela sobre isso não importa mais, Jimin. Você não é uma criança. É uma pessoa incrível e inspiradora, e é ela quem deveria estar preocupada por perder espaço na sua vida.

Dou um sorriso triste.

— Racionalmente, eu sei disso. Mas agora não é só mais teoria. Na prática, o que eu faço se ela me chamar depois do show e dizer que não posso mais pisar em casa?

— A casa que você comprou, no caso?

— Isso.

— Daí você entra comigo num avião para Busan, a gente vai direto para a casa da minha mãe, ou para um hotel, ou para onde a gente quiser, e decide junto quais serão os próximos passos. Aconteça o que acontecer, você nunca estará sozinho. Sabe disso, né?

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora