Vinte e Três

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JIMIN 

Pulo na frente do meu pai no momento exato que ele chega do trabalho.

— Finalmente contaram alguma coisa pra gente — anuncio enquanto ele tira o casaco na entrada da casa. — Parece que internaram o V no Armstrong Center. Disseram que ainda é cedo para saber se ele já vai estar firme e forte quando sair de lá, mas está fazendo fisioterapia todo dia, então já é alguma coisa, né?

Não é muita coisa, mas em comparação com as notícias vagas que temos recebido da Chorus nas duas últimas semanas desde que voltamos para casa, é praticamente uma mina de ouro.

Muito mais útil do que “V está bem” e “podemos confirmar que vamos seguir com a reabilitação” e “vamos voltar com tudo assim que possível”.

Quanto a V, fizemos algumas chamadas de vídeo, com ele ainda na cama do hospital.

Da última vez que nos falamos, ele tinha tanta previsão quanto a gente sobre sua recuperação.

Depois que teve alta, nunca mais recebemos notícias.

Sei que foi porque ele estava em alguma clínica de reabilitação, mas, sem saber onde e por quanto tempo ficaria internado, a sensação foi de que a Chorus tinha dado “um sumiço” nele.

Meu pai franze a sobrancelha cheia para mim.

— Oi pra você também. Meu dia foi ótimo, obrigado por perguntar.

— Desculpa. Oi. — Vou com ele pelo corredor amplo e limpo até a sala de estar. — Fiquei empolgado. O que você acha?

Até agora, a maior vantagem de ser filho de um fisioterapeuta era receber dicas úteis de aquecimento para os ensaios de dança.

Mas poder contar com as opiniões realistas dele sobre a recuperação de V me permite usufruir de seu banco de dados de um jeito inteiramente novo.

— O que eu acho? — repete ele. — Não tem muita informação para achar alguma coisa.

— Mas a gente sabe que ele saiu do hospital há uma semana e já começou a trabalhar para recuperar os movimentos.

Meu pai dá de ombros e se joga no sofá enquanto minha mãe entra na sala de estar para recebê-lo.

— Depende de muitos fatores — diz ele. — A extensão das lesões, o processo de cura, se ele seguiu as instruções do hospital ou não, se alguma lesão passou despercebida nos primeiros exames…

— Mas se ele estivesse muito, muito lesionado, não poderia ter começado a fisioterapia, né? — pergunto, sentando ao lado dele. — Então ele deve estar bem, não deve?

Meu pai aperta a minha mão.

— Sim. Talvez ele precise de uns dois meses ou mais, e imagino que ainda leve um bom tempo até que possa voltar a dançar com vocês, mas…

— Ele vai ficar bem — completo.

O alívio faz com que eu me sinta mais leve, mais animado.

A Chorus nos garantiu que ele está melhorando, claro, mas já negaram a gravidade das coisas por tantos motivos que, a esta altura, o que falam não vale de nada.

— Então, daqui a três semanas ele será liberado — diz minha mãe.

— Como você sabe? — pergunto.

Ela abre um sorriso irônico para mim.

— Eu devo ser vidente.

Perguntas idiotas merecem respostas idiotas.

Secrets Among Us - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora