Secrets Among Us - Jikook

Sete

JIMIN 

O problema de realizar sonhos é que, por um breve momento, temos um vislumbre de como a vida poderia ser.

Então, quando dá tudo errado e a gente acorda para a realidade, o tombo é tão grande que a gente fica caído, jogado e ferido, enquanto começa a aceitar que não merece ser feliz daquele jeito.

Nunca mereceu.

Não sei como me ajustar a este novo mundo.

Semana passada, JungKook era meu melhor amigo.

Para quem eu olhava sempre que ria.

Que estava ao meu lado aonde quer que a gente fosse.

Aquele que sempre apareceu para ver como eu estava quando me sentia meio perdido.

Nesta nova realidade, JungKook mal consegue olhar para mim.

Ele coloca o máximo de distância possível entre nós dois e parece não perceber que estou morrendo a cada segundo que se arrasta como um século.

Me sinto congelado.

Parte de mim está gritando para que eu me afaste e dê a JungKook o espaço que ele precisa para processar tudo e seguir em frente antes que o dano seja irreversível, mas a outra implora que JungKook me note, que converse sobre tudo e veja o que isso está me causando.

Não posso seguir esses dois caminhos, mas a impressão é de que, se escolher a abordagem errada, vou perdê-lo para sempre.

Um nó desesperador e assustador no meu estômago sugere que, talvez, eu já tenha perdido.

Agora, estamos atravessando as ruas escuras de Madri depois de um show, a caminho de um restaurante onde vamos experimentar tapas autênticos.

Não estava no cronograma, mas Pauline, com os seguranças da Espanha, convenceram Erin de que isso era um desvio sem risco para termos um – muito merecido – descanso.

Estamos na Espanha, o país onde minha mãe nasceu.

Eu deveria ficar empolgado por estar cercado pela cultura que influenciou boa parte da minha criação, pisando no mesmo chão em que meus antepassados viveram um dia.

Em vez disso, mal consigo processar meus próprios pensamentos velozes e assustadores e a tristeza dolorosa que se alojou no meu peito.

Estou perdendo a oportunidade de aproveitar o país onde há sangue do meu sangue, e não consigo sair dessa.

JungKook está duas fileiras à minha frente, conversando com V como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Como se fizesse isso o tempo todo.

Como se não tivesse passado todas as viagens no fundo do ônibus comigo, desde que a Saturday começou até aquela noite em Paris.

Agora Jin é meu companheiro de poltrona, e ele não puxa conversa nenhuma.

Minha expressão deve estar tão fechada que é capaz de tê-lo assustado.

Mas sou grato por ele ter se sentado ao meu lado.

Tenho certeza de que Jin sabe que aconteceu alguma coisa, mas não me pressiona.

Só faz companhia.

O ônibus estaciona e Erin nos deixa sair.

Estou surpreso com o frio de março daqui.

Quando minha abuela ainda era viva e contava história sobre a vida na Espanha, sempre imaginei o clima acalorado e úmido, como uma coberta quente e pesada.