𝑿𝑿𝑰𝑰. 𝑷𝒖𝒏𝒊𝒄̧𝒂̃𝒐

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Seu corpo estava frio e o sangue não parava de escorrer

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Seu corpo estava frio e o sangue não parava de escorrer. O corpo de Lilith estava em meus braços, encharcado e sem alma.

- VÃO! ANDEM LOGO SEUS MALDITOS! - eu gritava desesperado, segurando um anjo sem asas, vem vida, sobre a beira da piscina do inferno, esperando um milagre.

Os animais que contratei essa noite corriam de um lado para o outro, em busca dos serviços médicos particulares de nossa família, ligando, gritando, correndo atrás dessas pessoas para que eu não os matassem por puro ódio e desespero. Alfred, um drogado, ossudo e com cabelos até o ombro, foi o único que conseguiu contato com um médico cirurgião, e o único que teve coragem de chegar perto de mim, perto de minha preza sobre meus braços e uma enorme poça de sangue.

- Dr. Bass está à quilômetros, Senhor - ele dizia enquanto eu tentava massagear o peito de minha amada, sem ouvir com clareza o que o viciado dizia - Ele chegará tarde... Muito tarde.

- Não importa - eu digo, sentindo meus olhos arderem, mas lutando contra as lágrimas para que não me vissem vulnerável - Ainda tem chances. Quero ele aqui, o quanto antes.

- Mas Senhor, o mínimo de tempo percorrido pelas situações atuais, é de- -

- Eu não quero saber, animal! - grito, fazendo os outros pagos se assustarem e de afastarem ainda mais - Ou dá um jeito, ou vocês todos morrem... Incluindo ele.

Os olhos vermelhos e com olheiras profundas do homem entenderam o recado, e logo, ele se afasta, correndo e tropeçando nos próprios pés, não duvidando de minhas palavras, que com certeza iriam se concretizar.

Sentia uma coisa na qual nunca senti na vida. Meu peito subia e descia, em busca de qualquer faísca de ar, minhas mãos tremiam enquanto eu as passava pelo coração de Lilith, em busca de ressuscita-la, em busca de trazê-la de volta para mim, não aceitando que ela fosse assim, tão cedo, com tão pouca história de vida que ela tinha pra contar. Só escutava meus amigos gritando com os funcionários, os chamando de incompetentes e burros, enquanto todos corriam para salvar a vida de uma mulher que eles nem conheciam.

As lágrimas insistiam em sair, eu já não me importava em saber que todos estavam a observar o diabo chorando, eu somente pensava nela, no meu Anjo, as únicas lágrimas que ainda restavam eram por ela, e sabia que era por culpa minha, Lilith estava morta, e eu era o culpado.

- Tom... - ouço a voz de meu gêmeo enquanto massageava o peito da morena em busca de trazê-la de volta. Não o respondo - Irmão... Não adianta.

Suas correntes caem sobre minhas costas, macacadas por unhas. Via o quão pálida estava Lilith, sobre meus braços e sobre uma poça de sangue que caía sobre as águas do inferno, nenhuma cor em suas bochechas e lábios, nenhum suspiro de socorro, era apenas um corpo, frio, sem alma alguma, uma alma que havia me abandonado como forma de vingança.

- Não me deixe... - pego seus belos fios de cabelo e puxo sua cabeça para perto da minha, sentindo o líquido vermelho deixar seu corpo. Passo meu dedo por seu lábio, antes quente e carnudo, agora, frio e branco como neve, assim como sua pele. - Arrume um jeito, irmão.

- Mas Tom- -

- ARRUME UM JEITO! - grito, deixando todos ainda mais assustados por explodir com o único ser que eu realmente amava - Arrume...

Eu não me segurei, dou o mais doloroso grito, aquele grito que sai de dentro, aquele grito que se dói não só os ouvidos, mas sim, a mente de qualquer um que está perto. Eu chorava como uma crianças, como um bebê que acabara de nascer, e sentia o olhar de todos sobre mim, finalmente sentia o peso que era ser olhado com pena, e desdém.

- Ela não pode me deixar, Bill... - em meio a soluços eu tentava dizer a meu irmão, não conseguindo largar o corpo morto de Lilith. Ainda sentia seu cheiro em meio a todo o sangue e cloro, o mesmo cheiro de um ano atrás, o mesmo cheiro que sentia sempre que passava perto de mim nas ruas ao saber que não era vigiada, o mesmo cheiro de um anjo.

Ainda estava em estado de transe, podia escutar meu irmão dizer coisas e os empregados da noite correndo desesperadamente, mas eu não consegui responder, não podia me mover ou dizer algo, apenas queria voltar no tempo. Quem sabe, se eu fosse mais delicado com esse pedaço de vidro, ela ainda poderia estar aqui. Quem sabe, se eu fosse o homem dos sonhos dela, ela ainda poderia estar ao meu lado. Quem sabe, eu poça ir com ela...

Seu corpo molhado me dava desespero, sua boca branca me dava um vazio ensurdecedor, não sentir seu corpo quente era como estar no real inferno. Talvez essa fosse minha punição, viver sem aquela que eu sempre quis ao meu lado, viver sem aquela que eu realmente senti mais do que um tesão momentâneo, viver sem aquela que eu amo e, talvez, sempre amarei.

- Tom... TOM! - com um empurrão, Bill me larga do corpo de Lilith, me fazendo cair no chão. - Ele chegou! CHEGOU!

Estava em choque, não raciocinava o que acontecia.

- Quem chegou, Bill?

- Dr. Ross...

[...]

The Purge | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora