𝑰. 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆

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As cordas pressionando meus pulsos deixavam marcas permanentes, os gritos no ambiente eram agoniantes e faziam meus ouvidos arderem, o sangue no carpete, antes beje, ainda era quente e fresco, e a faca de cabo preto ainda estava jogada ao lado dos...

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As cordas pressionando meus pulsos deixavam marcas permanentes, os gritos no ambiente eram agoniantes e faziam meus ouvidos arderem, o sangue no carpete, antes beje, ainda era quente e fresco, e a faca de cabo preto ainda estava jogada ao lado dos corpos sem vida.

Paralisada, vi os assassinos deixarem a humilde residência dos Jones para trás, decidindo qual seria a próxima família a ser purificada nessa noite. Com exceção de um purificador, com exceção ao que poupou minha vida em meio a tantas outras, em exceção ao rapaz de tranças pretas, com olhos tão sombrios quanto o do próprio diabo, com exceção ao que não movia um músculo sequer nesse crime liberado.

Trêmula e incapaz de me defender, vi o homem vindo até mim, repetindo meu nome com sua voz de anjo expulso do céu, com o metal em seus lábios refletindo nas chamas que vinham do lado de fora da janela, caminhando tão passivo quanto um mar sereno depois de um tsunami, com um sorriso tão delicado quanto de Marley Monroe, mas com a falta de compaixão tão grande quanto a de Jeffrey Dahmer.

- Lilith... - ele cantarolava, chegando cada vez mais perto de mim - Lilith...

- Por favor... - as lágrimas já não aguentavam mais sair, a dor já tinha domínio sobre mim, e a esperança havia morrido junto a eles nessa noite.

- Oh, querida Lilith - sua máscara cobria grande parte de seu rosto, deixando somente seus lábios e olhos a vista, mas mesmo assim, conhecia o homem - Lilith...

- Não... - clamava e implorava pela morte, não sabendo mais o motivo dessa piedade - Não!

- Lilith... - ele se ajoelha a minha frente, ainda cantarolando meu nome como uma cantiga de ninar, pegando em meu queixo e levantando minha cabeça para que olhasse meu rosto mais nitidamente. O tempo parou, meu coração era a única coisa que escutava, junto a meu nome que saía dos lábios do homem com o olhar de um demônio, minha respiração era bagunçada e minha visão incerta, o desespero era contínuo e eu só queria que esse pesadelo acabasse.

- LILITH! - abro meus olhos desesperada, suada em minha cama e vendo Emy me olhar com pena. Meu peito subia e descia frenético, meu corpo estava quente e a água pingando de minha testa encharcava o travesseiro - Estava sonhando com aquilo de novo.

Me sento na cama, olhando envolta, ainda atordoada e buscando ar para meus pulmões. Vejo que os olhos de minha amiga estão sobre mim enquanto a mesma se senta na cama, com aquele olhar chato que ela lança antes de começar uma palestra contra o que iria fazer.

- Não me olhe assim... - digo tirando a coberta de cima do meu corpo e agoniada com meu próprio pijama - Acabei de acordar, me polpe de seus discursos idiotas e sem lógica.

- Não vou poupar minha saliva se vou morrer daqui algumas horas - ela disse pegando Tommy, meu panda de pelúcia.

- Já disse que não precisa ir - me levanto confusa, tentando achar meu celular, mesmo com uma visão tão fudida quanto a de um míope - Você não têm motivos.

- Tenho sim - ela disse - E ele se chama Lilith Jones Evans.

- Vai matar essa vadia por qual motivo, então? - pergunto irônica, sentindo meu estômago revirar e tirando minha camisa, pouco me fudendo para quem podia me ver seminua.

- Ela me fudeu - zombou Emy, se jogando na cama e analisando minha pelúcia - Vou me vingar dela por ter me obrigado a cometer um... Quase suicídio hoje a noite.

- Você não vai - afirmei já estressada, jogando meus livros no grande tapete beje do meu quarto, procurando a merda do meu celular inútil.

- Eu só estou brincando, Lili - ela diz mais passiva, e mesmo de costas para ela, sentia seu olhar sobre minha nuca - Vou por você, já disse. E quem sabe eu acabe matando uma vadia qualquer por aí.

- Acho que essa vadia tem nome e sobrenome - eu digo soltando uma risada, desistindo de procurar o celular na prateleira de livros e indo até minha penteadeira - Cristal Smith!

A ruiva na cama bufa, parecendo enjoada só de escutar esse nome repugnante. Solto uma risada fraca ao ver que seu ódio pela garota nunca iria embora. Sinto meu pulso arder enquanto Emy reclama sobre como ela sempre aparentava estar bem e saudável, mas parei de escutar quando senti aquela sensação novamente.

Meu pulso arde e meus lábios secam, minha visão se embaçou quando olhei pra fora da janela de meu quarto, o nó na garganta é mais forte quando me lembro dos olhos de demônio do meu sonho aparecem na avenida lá embaixo, olhando cada movimento meu, cantarolando meu nome... O ar foge novamente de meus pulmões, minha boca tremia e os gritos ecoavam em minha cabeça. A sensação de morte retornava, cada dia mais forte, cada minuto mais intensa, cada segundo mais sufocante.

- Achei! - fujo dos olhos macabros do homem e retorno a realidade - Devia começar a se lembrar onde coloca suas coisas, algum dia vai acabar se esquecendo de algo importante.

- E você devia começar a tirar os pelos de seu bigode - digo entediada, pegando meu celular de suas mãos e indo até o banheiro - Está ganhando de Jack.

- Não fode - a ruiva grita saindo do meu quarto enquanto eu tranco a porta do banheiro, desejando que a mesma se jogasse de um penhasco.

Respiro profundamente, tentando afastar qualquer tipo de pensamento possível, tentando focar apenas nessa noite, tentando focas apenas na faca de cabo preto em minhas mãos, tentando focar apenas no sangue de Tom Kaulitz respingando em meu rosto, tentando focar apenas em seu corpo podre frio sobre o chão de sua sala.

- Oh garota, saí logo daí - meu prazer é tirado por uma voz falhante do outro lado da porta - Eu preciso tirar as batatas de ontem a noite de dentro de mim!

- Me poupe das suas merdas, Jackson! - grito de volta para meu irmão. Largo meu celular na pia do banheiro, passando as mãos pelo meu rosto, vendo que o dia seria bem mais cansativo do que um ano todo, vendo que minha carne não iria aguentar esperar mais pelo gozo que trás a sensação de ser vingada.

Me olho no grande espelho, vendo uma garota fútil, com pensamentos tão obscuros quanto aqueles olhos que á perturbam por onde vai, vendo uma alma tão corrompida quanto a daqueles que não esperam até a noite do expurgo para se vingarem. Mas essa imagem iria mudar, essa garota iria mudar, ela esperou e esperou, esperou 365 dias até que sua alma tivesse a chance de ser purificada, e com toda a porra da certeza do mundo, não iria deixar essa chance passar.

[...]

The Purge | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora