𝑿𝑿𝑽. 𝑶 𝑭𝒊𝒎

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Enquanto escutava os passos de meu pai deixarem o cômodo, um filme de todas as vezes em que ele quase me matou passou pela minha mente, de forma dolorosa e esclarecedora

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Enquanto escutava os passos de meu pai deixarem o cômodo, um filme de todas as vezes em que ele quase me matou passou pela minha mente, de forma dolorosa e esclarecedora. No fundo, sempre soube que tinha a maldade de meu pai e a bondade de minha mãe dentro de mim, mas sentia a maldade desse ogro com mais intensidade em minha vida, e me viciei na sensação na qual herdei dele. Fiz a mesma coisa que ele faz comigo, a mesma coisa que ele faz com minha família, porém, pior. A única coisa que ele faz é me bater até eu não aguentar mais, a única coisa que faz é mandar as pessoas matarem em seu nome, mas nunca suja suas próprias mãos. Um dia, jurei nunca ser como ele, até ir para meu primeiro expurgo.

Fecho meus olhos e engulo o medo em seco, decidindo se fico aqui, e me preparo para encontrar o inferno, ou se acabo com toda essa merda, se luto pelo o que finalmente achei para amar. Fecho meu punho com ódio de mim mesmo e soco o chão sem pensar na dor. Não sei se acredito em Deus, mas passei a acreditar depois que alguma coisa me deu força para levantar e ir atrás do desgraçado do meu pai.

Me debruço na parede em que meu sangue continua escorrendo e sinto minhas pernas fraquejar, mas não desisto de ir atrás dele e acabar com o que ele chama de dignidade. O vejo seguindo lentamente para a sala onde a cirurgia estava acontecendo, lentamente e carregando uma faca de bolso, observando sua casa luxuosa e antiga. Sinto uma dor insuportável na cabeça enquanto deixo meu quarto e sigo atrás dele pelo corredor, evitando ao máximo fazer um ruído sequer, pensando no que me tornei, pensando em todas as vezes em que ele me arrebentou de fora pra dentro, pensando em Lilith, principalmente em Lilith.

Coloco a mão no ferimento que a garota fez em mim a alguns minutos, e mordo os lábios para abafar a dor, e logo, sentindo a arma em minha cintura, a abençoada arma em meu quadril, pressionando minha pele de um jeito tão prazeroso que parecia um milagre. Enquanto vejo meu pai se aproximando da curva no final do corredor, acelero meus passos destemido, sentindo a raiva conter toda minha dor física se transformar em dor mental. Não sabia se iria matá-lo ou feri-lo, mas iria usar essa merda.

Bato em um vaso de vidro quando perco o equilíbrio, quase o alcançando. Ele se vira pra mim e sua feição é de surpresa, totalmente espantado por eu ainda estar consciente, ou até mesmo vivo. Seus olhos cerram enquanto ele muda a rota do caminho e vêm em minha direção, calmante, como filmes de terror, onde o diabo brinca com as vítimas. Me coloco na mesma posição que a sua, de cabeça erguida, tentando esconder meu desespero.

- Nunca achei que meu filho morreria sem me trazer um pingo de orgulho - enquanto ele está se aproximando com o punho cerrado, meus olhos se arregalam e pego a arma ligeiramente, sentindo a sensação mais louca de minha vida, alívio, sobrecarrego, tudo.

Em uma questão de segundos, sinto o vento de sua mão se aproximar. Puxo o gatilho. Gritos.

[...]

Vou o mais rápido que posso até a sala onde Lilith se encontra. Precisava vê-la, ver se tudo estava bem, se ela teria chances. Não olhei para trás quando deixei o corpo de meu pai no corredor, se banhando no próprio sangue, não suportava a ideia do que fiz, a ideia de que podia ter o matado, mas, ao mesmo tempo, estava aliviado, estava feliz.

Escancaro a porta sem pensar duas vezes, olhando todos os olhos se virarem até mim, menos os de Dr. Ross e Lilith, que ainda estavam fechados, na mesma posição de antes.

- Novidades, Dr.? - Bill me ajuda a andar para dentro da sala, chocado e preocupado, mas se dizer uma palavra, enquanto Elizabeth pega uma cadeira de madeira que tinha por aí.

- A operação está quase acabando - ele diz sem levantar o olhar, cutucando as tripas de Lilith - Ela suportou muita coisa, muita dor... Mas é forte.

Sua voz parecia de admiração, de aconchego, mas quando levanta os olhos para mim, enxergo o verdadeiro monstro que é. Desvio o olhar e foco em Lilith, vidrado em sua pele levemente corada, vendo seu peito voltar a subir e descer quase imperceptível. Seus cabelos negros como corvos estão bagunçados, os gases com seu sangue são inúmeros, percebo que tudo isso parece ser um momento irreal, quando nada parece ser o que realmente é.

Sinto meu Anjo se afastar aos poucos, retornando aos céus. Tento conter as lágrimas relembrando as coisas que vivi com ela, os desafios que acabei de enfrentar, e torcendo pra que nada disse fosse em vão.

- O que foi aquele disparo? - sinto as correntes pesadas de Bill caírem sobre minha perna, e logo seu olhar duvidoso e incoerente sobre minha nuca.

- Um tiro - digo sínico, observando as mãos de Dr. Ross sutura o grande corte na barriga de Lilith, com um medo percorrendo meu peito.

- Não estou brincando, Tom - sua voz séria sempre causa calafrios, um receio, e dessa vez não foi diferente - Que merda você fez lá fora? Atirou em quem?

Fico em silêncio por um momento, encontrando as palavras certas para contar ao meu irmão gêmeo que atirei no nosso pai, e que ele, provavelmente, está morto, já que não vi ajuda chegando. Não havia um modo fácil de dizer isso, e mesmo que nós o odiássemos, ainda é nosso pai.

- Nosso pai... - digo soltando um suspiro e cruzando meus dedos, enquanto me encosto na cadeira e relaxo meu corpo por um minuto, ainda sentindo um medo me incomodar. - Atirei no nosso pai, Bill.

Senti um peso sair de minhas costas, mas em compensação, preencher as de Bill, que me olharam fixos por uns cinco minutos, onde eu não o encarei, apenas observei Dr. Boss finalizar a improvisação de cirurgia.

- O que tem pra dizer? - me levando vendo o Dr. retirando a máscara e limpando o suor de sua testa, olhando a jovem esperançoso. Me certifico de que minha arma ainda está em meu corpo caso ele tente fazer algo com Lilith.

- Temos que esperar - ele leva seus olhos para o lixo e joga as luvas ali, olhando Elizabeth logo depois - Ela está extremamente ferida, perdeu muito sangue, está fraca. Mas, sobretudo, é forte pra cassete... Nunca conheci nenhum paciente que estivesse em tais condições e aguentasse realizar uma cirurgia de tão alto risco e aguentar o final. Estou impressionada com sua companheira.

- Ela não é minha- - eu começo, o corrigindo, mas volto atrás e todos ficam quietos com minhas quases palavras. - Acertamos o pagamento depois.

- Não quero seu dinheiro, Sr. Kaulitz - ele pega o pano úmido e passa pela pele gelada de Lilith, retirando o nosso sangue seco. - Quero ela como forma de pagamento.

[...]

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⏰ Última atualização: Sep 05 ⏰

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The Purge | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora