16 - PIOR DIA DA MINHA VIDA

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SAMANTHA CLARCK

O ensaio estava sendo um caos, o professor Evans estava um poço de estresse. Sua respiração estava pesada e seu tom agressivo, todos estavam tensos.

- Professor, está tudo bem? - Perguntei me aproximando dele no estacionamento.

- Porque não estaria? - perguntou com as mãos na cintura parecendo irritado.

- Talvez porque você está gritando com todo mundo desde a hora que chegou? - toquei em seu braço - Se quiser conversar estou aqui.

Ele puxou seu braço me olhando com as sobrancelhas franzidas.

- O que pensa que está fazendo? Não somos amigos, Clarck. Você é só uma aluna, volta lá pra dentro!

Senti um nó na garganta, achei que tínhamos passado dessa fase de sermos grossos um com o outro.

- Ok, professor! Só tentei ser gentil. Ninguém lá dentro tem culpa dos seus problemas, ninguém precisa aguentar os seus picos de estresse! Procure outra coisa ou outra pessoa pra descontar, ninguém aqui é obrigado a te suportar assim!

Dei as costas e voltei para o auditório. Me senti uma completa idiota por achar que seríamos amigos depois da noite no parque, não sei porque mas sua atitude me atingiu mais forte do que deveria.
Em 10 minutos ele voltou e deu continuidade ao ensaio. Ele se controlou um pouco mais, não gritou com mais com ninguém, só se dirigiu a mim pra pedir que eu ajudasse o Logan em algumas cenas.
Assim que finalizou ele saiu com o restante dos alunos e eu fiquei para empilhar as cadeiras.
Quando voltei pra casa liguei pra Isa e Peter os chamando para ir ao cinema e eles toparam na hora.
As 19:30 Peter estava buzinando na minha porta, assim que cheguei lá fora vi Olívia no seu carro, pelo visto ele havia estendido o meu convite.

- Boa noite. - falei assim que entrei.

Os dois responderam em uníssono e eu comecei a me arrepender de ter inventado essa saída. Quando estávamos chegando Isa ligou falando que teve um imprevisto e não poderia mais ir, meu dia só melhorava!

Compramos os ingressos e enquanto os dois pombinhos enfrentavam a fila para comprar pipoca eu fui direto para a sala. Segurar vela não era o que eu estava planejando para aquela noite, mas foi o que aconteceu.
Na metade do filme saí pra comprar algumas coisas na bomboniere, quando cheguei no caixa vi o professor Evans chegar acompanhado da professora Pietra, a mais insuportável de todo o colégio. Os olhos dele logo se encontraram com os meus, mas eu desvirei o rosto tentando ignora-lo.
Paguei minhas coisas e comecei a andar de volta para a sala, até sentir uma mão no meu braço me segurar firme.

- A gente pode conversar? - Meu professor falou me puxando para a entrada de uma das salas do cinema.

Tinha algum filme rolando, mas não entramos o suficiente pra ver qual, só conseguia ver a luz refletindo pela sala e o som alto que indicava ser um filme infantil.

- O que você quer? Preciso voltar para a minha sessão. - puxei meu braço da sua mão. - Não estamos na escola, professor. Não precisa falar comigo fora dela, não somos amigos. Com licença!

Tentei sair mas ele me puxou de novo, dessa vez senti o meu corpo encostar no dele enquanto me prendia contra a parede.

- Espera. Por favor. - ele soltou meu braço e ficou apenas me encarando, ainda com o corpo pressionando o meu. - Me desculpa por hoje mais cedo Samantha, não queria ter te tratado daquela forma.

- Mas tratou. - respondi virando o rosto para não encara-lo. - Eu não tenho culpa dos seus problemas, seja lá o que quer que tenha acontecido.

- Eu sei. Me desculpa! - sua respiração estava pesada, ele parecia nervoso.

- Terminou?

- Só se você disser que me desculpa.

- E se eu não disser?

- Ainda não pensei nessa parte, mas com certeza não deixarei você ir sem antes dizer que me desculpa. - Seu rosto estava tão perto do meu que senti sua respiração tocar meu rosto.

- Tudo bem, professor. - Eu estava ficando louca com aquela aproximação, me peguei querendo beija-lo e eu sei que era burrice. - Eu desculpo você. Só não me trata daquela forma de novo, ok?

Ele assentiu e se afastou me dando passagem, fiz minhas pernas se moverem mesmo quando o que eu mais queria era continuar ali, passei por ele saindo daquela maldita sala e voltando para a minha. Nem olhei pra trás.
Quando comecei a subir as escadas pra chegar na minha poltrona Olívia e Peter estavam aos beijos, não doeu como antes, mas ainda era estranho ver o garoto que eu fui apaixonado nos últimos 6 meses aos beijos com outra mulher. Fiz meus passos de volta e saí de lá, mandei apenas uma mensagem avisando que precisei ir embora e fiquei lá fora até meu Uber chegar.
Para o meu dia finalizar com chave de ouro encontrei minha mãe sentada no sofá chorando.

- Mãe? O que aconteceu? Foi o George? Eu vou acabar com ele!

Me aproximei e sentei ao lado dela.

- Seu pai, Sam. Ele teve um infarto.

Senti um frio percorrer minha espinha, minha garganta secou e o coração começou a acelerar.

- Ele morreu? - pelo amor de Deus diz que não!

- Não! Está apenas hospitalizado, mas não está nada bem.

- Meu Deus, mãe! Me leva até lá? Por favor!

- Claro, vamos.

Minha mãe pegou as chaves do carro e nós fomos até o hospital que meu pai estava, assim que chegamos na recepção encontrei a Michele chorando, a amante do meu pai. A ignorei e fui até o guichê pedir informações, disseram que ele tinha acabado de entrar numa cirurgia para fazer um stanf cardíaco.

- Oi Samantha, obrigada por ter vindo. - Michele falou com os braços cruzados atrás de mim, seus olhos estavam vermelhos.

- Não vim por você.

- Eu sei, mas seu pai vai ficar muito feliz por te ver aqui. - Ela tentou ser gentil, mas eu não a suportava.

- Com licença, vou sentar com a minha mãe.

Passei por ela e fui até minha mãe que estava mais calma. Passamos a noite alí, quando meu pai saiu da cirurgia foi direto para a UTI. Somente um de nós podia entrar e eu sabia que seria a Michele, minha mãe já tinha se separado dele no papel então não tinha mais nenhum direito e eu não queria armar uma confusão aqui.

- Samantha, você quer entrar primeiro? Eu sei que você estuda pela manhã, pode ficar um pouco com ele antes de ir pra casa. - Michele perguntou me pegando de surpresa, não esperava que ela abrisse mão de vê-lo pra que eu tivesse um tempo com ele.

- Quero sim, muito obrigada.

Segui uma enfermeira até o quarto que ele estava.  Ele estava desacordado e tinha algumas medicações correndo pelas suas veias. O choro que segurei a noite toda começou a cair, eu chorei tanto ao vê-lo daquele jeito, imaginei como seria se eu o tivesse perdido. Olhei cada traço dele e falei que o amava antes de sair do quarto.
Troquei de lugar com a Michele e voltei pra casa com a minha mãe, ela estava bem mais calma. Já era 4h da manhã quando chegamos, eu estava exausta.

- Filha, você não precisa ir a escola hoje, pode descansar até mais tarde tá bom?

- Obrigada mãe. A senhora vai trabalhar?

- Preciso ir, tenho umas coisas importantes pra finalizar, mas vou tentar sair mais cedo e aí passo aqui pra te levar ao hospital de novo, tá bem?

- Tá bem. - ela já ia saindo do meu quarto - Mãe?

- Oi, meu amor.

- Eu te amo.

- Eu também te amo mais do que tudo no mundo! Durma bem.

Ela fechou a porta e eu apaguei naquela cama.

MEU ADORÁVEL PROFESSOROnde histórias criam vida. Descubra agora