37 - OI, PAPAI!

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"O fato de o mar estar calmo na superfície, não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas."
(O mundo de Sofia)

LIAM EVANS

As coisas estavam tão bem com a Samantha, com meu trabalho no colégio, com tudo na minha vida. Estava adiando cada vez mais fazer o que realmente vim fazer nessa cidade. Evitei o Owen o máximo que consegui pra não correr o risco de falar, inclusive nos nossos almoços.
Pietra estava colando tentando descobrir com quem eu estava, mas a ignorei todas as vezes que tive a oportunidade.
Sexta feira após a 3 aula tivemos uma falta de água em todo o quarteirão e os alunos foram liberados. Pedi que a Sam me esperasse pra que fossemos embora juntos, passei na sala dos professores pra pegar alguns livros e minha mochila que deixei lá.
Assim que cheguei encontrei somente o Owen sentando numa poltrona bebendo um suco de caixinha e rindo de algo no celular.

- Evans! - Ele falou com um sorriso nos lábios - Nunca mais tive a chance de falar com você, tudo certo pra nossa apresentação?

- Tudo certo! Só estamos repetindo os ensaios, mas todas as cenas já estão ok, assim como o cenário. - Respondi puxando minha mochila de cima da mesa.

Já pensou como um simples movimento pode mudar todo o rumo da sua vida? Mudou a minha.
Quando puxei a mochila a alça dela estava presa pelos meus livros e acabou derrubando-os. Para a minha infelicidade um daqueles livros foi onde coloquei o cheque que meu pai deixou pra minha mãe, nem lembrava que tinha colocado ele lá, mas ele voou de dentro junto com outros papéis.
As mãos de Owen foram mais rápidas e ele pegou, vi seu sorriso ir morrendo aos poucos.

- O que é isso? - Ele ajustou o óculos em seu rosto - Porque você tem isso?

Não consegui falar nada, permaneci em silêncio. As palavras que ensaiei por 1 ano simplesmente sumiram da minha boca.

- O que isso significa, professor Evans? Porque tem um cheque assinado por mim e porque ele está destinado para a Alice...Evans?

Seus olhos levantaram do cheque pra mim e ele fechou a boca. Os olhos arregalados esperando um resposta minha mostravam a sua surpresa.

- Oi, pai. - Falei de forma seca e ele soltou o cheque deixando que caísse no chão. - Esperei muito por esse momento.

Dei alguns passos em sua direção e ele permaneceu parado como uma estátua.

- Joe? Isso não pode ser verdade. - Ele falou me encarando e eu quis rir.

- Liam. Meu nome agora é Liam, minha mãe fez questão de alterar meu nome pra que não lembrasse de você todas as vezes que me chamasse. Foi você quem escolheu, não é Owen?

- Isso não tem graça, professor.

- Achou que ao abandonar um filho ele simplesmente desapareceria da face da terra? Lamento informar que não! Eu estou aqui, na sua frente e bem vivo.

Ele permaneceu em silêncio e aquilo foi fazendo a raiva que eu conhecia tão bem crescer dentro de mim.

- ACHOU QUE OFERECENDO DINHEIRO PRA MINHA MÃE ELA SUMIRIA DO MAPA E DEIXARIA VOCÊ VIVER SUA VIDINHA PERFEITA? ELA TENTOU NA VERDADE, OWEN. MAS EU DESCOBRI ANTES QUE A DOENÇA LEVASSE ELA E O SEU SEGREDO PRA DEBAIXO DA TERRA!

- O quê? Ela morreu? - comecei a rir da sua pergunta, a raiva estava transbordando sem que eu controlasse. - A Alice morreu?

- Você não merece saber nada dela. Você não tem esse direito. - Comecei a empurra-lo fazendo com que batesse as costas na parede. - NÃO FALE O NOME DELA!

Não consegui controlar as lágrimas que começaram a se formar nos meus olhos.

- 10 mil dólares? Era isso que eu valia pra você? Esse era o meu valor? - perguntei baixinho sentindo a voz embargar pelo choro que estava vindo.

- Não foi essa a minha intenção.

- Que se foda você e suas intenções! Quero que você se foda! - Empurrei seus ombros pela última vez com força e saí pegando minha mochila de cima da mesa e deixando todos os livros que caíram pelo chão.

Andei de forma rápida até chegar ao meu carro, eu precisava de um refúgio pra gritar e colocar pra fora todo aquele sentimento ruim que estava me consumindo.
Assim que entrei a porta do carona abriu a Samantha entrou, tentei tirá-la do carro mas a garota é pura insistência e não saiu.
Acelerei o carro saindo dali o mais rápido que pude, bati no volante e gritei de forma desesperada assim que estacionei em frente a minha casa.
Samantha permaneceu em silêncio todo o caminho e agradeci aos céus por isso. Desci do carro e ela me acompanhou, fui direto pra cozinha e peguei uma garrafa de wisky, nem me dei ao trabalho de pegar um copo, bebi direto da garrafa.

Senti meu corpo todo tremer, parecia que as forças das minhas pernas tinham sumido e comecei a me abaixar com as postas na parede ao lado do balcão. Samantha se aproximou sentando à minha frente e seus olhos demonstravam preocupação.
Senti seu braços me acolherem em um abraço que eu nem sabia que estava precisando, as lágrimas começaram a cair de forma instantânea.

- Está tudo bem, meu amor. Você pode chorar agora. - ela falou baixinho no meu ouvido e me senti em casa depois de muito tempo.

Meu mundo todo desmoronou, mas ela pareceu segura-lo por todo o tempo que precisei.

MEU ADORÁVEL PROFESSOROnde histórias criam vida. Descubra agora