8 - DESENCANTO

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SAMANTHA CLARCK

Meu dia começou da pior forma possível. Dormi demais e acabei perdendo a carona da minha mãe. Perdi o ônibus e isso me fez atrasar ainda mais.
Assim que cheguei no colégio o sinal já tinha tocado e acabei perdendo a primeira aula. Fui até a lanchonete pra comer alguma coisa, depois aproveitei pra passar na biblioteca pra trocar um livro.

- Bom dia, ana! - cumprimentei a bibliotecária - Vim devolver esse livro e pegar outro.

- Senti sua falta nessas férias mocinha! É só assinar aqui a devolução e escolher o próximo. - peguei a caneta da sua mão e assinei. - Seu amigo jogador também está aqui, veio pegar uma biografia.

- Quem? O Peter?

- Isso! Está lá na sessão 5.

Ouvir seu nome fez meu coração acelerar, como sempre. Apesar de desistir da ideia de me declarar por enquanto, não podia negar que ainda tinha esperança.
Andei pelas sessões até chegar a 5, onde o encontraria. Mas o que vi terminou de massacrar o meu coração. Peter estava aos beijos com a Olívia. Ele estava quase sufocando ela com a língua. Puta que pariu!
Dei alguns passos pra trás e saí sem escolher livro nenhum.
Quando a terceira aula começou fui para a sala, mas não consegui disfarçar o quanto aquilo me abalou.

- Ei Sam, está tudo bem? - a voz de Isa me fez olhar pra ela um pouco perdida.

- Porque?

- Perguntei se está animada pra começar o teatro hoje e você pareceu não ouvir nada, está tudo bem?

- Só estou com dor de cabeça.

- Tá de ressaca, Sam? - Peter perguntou rindo e me neguei a olhar pra ele.

- Pode se dizer que sim. - ressaca de amor não correspondido.

Mal prestei atenção nas aulas, inclusive quando o professor Evans entrou. Nos falamos no final da aula pra que eu pegasse o roteiro dos ensaios e depois fui almoçar na lanchonete da escola.
As 13:30 fui até o auditório, ele já estava lá. Sentei na última fileira onde tinha pouca luz e fiquei observando enquanto ele fazia marcações no palco. Estava com uma calça jeans bege que mostrava bem como seu bumbum era durinho quando ele ficava de costas e uma camisa social branca que marcava seus braços. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, sua barba bem feita. A Isa realmente tem razão, ele é quase um deus de tanta beleza. Quantos anos será que ele tem?
Acho que o encarei por tempo demais e ele percebeu, pois o vi caminhar na minha direção.

- Conseguiu entender todo o roteiro, Clarck?

- Aham. - respondi desviando os olhos dele e olhando para o roteiro em minhas mãos - Tenho algumas dúvidas mas é mais em relação ao cenário do que a cena em si.

Voltei a olhar pra ele que parou a uns dois metros de mim e colocou as mãos na cintura, a camisa marcou ainda mais seus braços fortes e aquilo me fez engolir seco.

- O que foi? - Ele perguntou me encarando - Você não para de olhar pra mim desde a hora que chegou, tem algo errado?

- Quantos anos você tem?

- Porque minha idade importa?

- Não importa. É só curiosidade.

- Quais suas dúvidas de verdade, Clarck? - me ajeitei na poltrona me sentindo um pouco intrigada.

- Teremos uma equipe específica para o cenário? Ou todos irão ajudar na montagem?

- Todos irão ajudar. Mas nós dois iremos atrás do que for necessário pra compor a cena. - ouvir "nós dois" saindo da boca dele foi estranhamente excitante.

- Entendi. Porque escolheu ser professor?

- As dúvidas precisam ser a respeito da peça, Samantha. Não sobre a minha vida. - ele deu alguns passos chegando até a poltrona ao meu lado - Posso sentar?

- Você sabe ser educado? Que novidade! - ele sentou e deu uma risada.

- Na próxima não pergunto mais!

Ficamos olhando o palco e imaginando o cenário que montaríamos com aquele espaço não tão grande. Em um momento sua perna acabou encostando na minha e senti um arrepio descer na espinha. Ele não afastou sua perna, nem eu me atrevi a fazer isso.

- Olha, sei que começamos com o pé esquerdo, mas quero que a gente tente se dar bem, ok? Vamos passar muito tempo juntos por causa da peça e não quero que seja desagradável pra você e nem pra mim. - Ele falou olhando pra mim.

- É você quem me provoca, é só parar e tá tudo bem! - vir um sorriso se abrir no seu rosto.

- Ok! - levantou as mãos como se estivesse se rendendo - O que você tinha hoje pela manhã, Samantha?

- Nada. - respondi tentando afastar a cena do Peter quase engolindo a Olívia na biblioteca da minha cabeça.

- Não te conheço a muito tempo, mas acho que é o suficiente pra saber que você não estava bem. Você quase não rebateu minhas palavras.

- Porque se importa?

- Sou seu professor, se tiver algo errado posso te encaminhar pra um psicólogo. Caso precise de ajuda, sabe?

- Não se preocupe, Professor Evans. Estou com a mente super saudável, esse não é meu problema, o coração que precisa de uma cola.

- Não me diga que teve uma decepção amorosa Clarck?

- Talvez.

- Sei bem como é isso. Mas passa com o tempo - senti sua mão pousar na minha perna em forma de conforto. Sua mão era grande e quente.

Não demorou muito pra tirá-la, não sei se ele percebeu mas todos os meus pelinhos estavam levantados. Porque eu estava assim?

- Já sofreu alguma decepção? Você parece ser o tipo de cara que fica do outro lado, aquele que quebra o coração de alguém.

- Se eu te contar você chora comigo. - ele virou o rosto e ficou me olhando. Como seus olhos são intensos! - 29.

- O que?

- Minha idade. Tenho 29 anos.

- Está muito bem pra sua idade, professor.

- Uau! Um elogio vindo de você? Acho que levantamos mesmo a bandeira branca. - Nós rimos e o som do nosso riso ecoou naquele salão vazio.

Foi a primeira vez no dia que não senti a angústia no peito. Talvez não seria tão difícil assim conviver com ele.

MEU ADORÁVEL PROFESSOROnde histórias criam vida. Descubra agora