3 - NOVA VIDA

1.2K 90 0
                                    




LIAM EVANS 

Acordei às 5h como de costume, preparei o café e troquei a água e ração da Mia, minha cachorra, somos só nós dois nessa casa e cidade nova. Faz menos de 1 mês que me mudei pra Santa Mônica para lecionar em um colégio onde meu pai é o diretor. Era minha chance de conhecer o homem que abandonou a minha mãe quando eu ainda era só uma criança.
Enfrentar um bando de adolescentes com os hormônios aflorando não era bem minha ideia inicial, mas pra me aproximar dele precisava começar de algum lugar. Além do mais seria temporário.

Fiz uma corrida com a Mia no parque florestal próximo a casa que eu aluguei, correr era uma espécie de terapia, ainda mais agora antes de enfrentar todas as turmas que eu daria aula.
Voltei pra casa 40 minutos depois para me arrumar e não chegar atrasado.
Separei as roupas que deixaria na lavanderia no caminho, incluindo a que estava manchada pelo refrigerante que uma aluna idiota jogou em mim ontem.

Cheguei ao colégio e fui direto para a sala dos professores, todos pareciam se conhecer a anos, exceto eu, claro.

- Professor Evans, o que está achando da cidade? - Pietra, a professora de Biologia perguntou.

Ela é uma mulher bem atraente, alta, com cabelos loiros ondulados, além de seios bem fartos. Pena que não estou a procura de romance agora.

- Ainda não consegui conhecer muitos lugares, mas tem um ótimo clima.

- Posso te levar pra conhecer alguns, se quiser. Posso te mostrar bastante coisa.- Falou enquanto estava com um pirulito entre os lábios. Ela estava flertando comigo na frente de todo mundo?

- Acho que consigo sozinho quando tiver um tempo. Mas obrigado, professora.

- Só Pietra, por favor! - sorri pra ela e assenti.

- Vamos, pessoal? Os monstrinhos nos esperam! - o professor de química que não lembro o nome falou e logo o sinal tocou.

Cada um foi para o seu respectivo corredor até chegar em sua sala.
Assim que entrei as conversinhas sessaram, eu gostava de como a minha presença intimidava os alunos. Depois que coloquei minhas coisas sobre a mesa, meu olhos foram vendo cada rosto curioso até encontrar com os dela, a aluna desastrada que manchou uma das minhas camisas favoritas.

- Bom dia, turma. - falei a encarando.

Todos responderam juntos e por algum motivo incompreensível continuei olhando pra ela.

- Hoje teremos uma prova surpresa. - ouvi vários "ah não" dos alunos, mas ela não ousou falar nada. - Acalmem-se, não valerá nota. Só preciso saber do nível de conhecimento de vocês.

Os cochichos diminuíram enquanto eu comecei a pegar as cópias da minha bolsa.

- Você. - falei apontando pra ela - Qual o seu nome?

- Samantha Clarck. - A garota de cabelos pretos e dona do olhar que queria me fuzilar agora tinha um nome.

- Distribua essas folhas para seus colegas, senhorita Clarck. - estendi os papéis pra ela.

- Um por favor cairia bem. - respondeu se levantando e vindo na minha direção.

- Como?

- Geralmente se fala "por favor" quando se pede um favor a alguém. Assim como se pede desculpas quando se esbarra em alguém fazendo suas coisas voarem pra todo lado, sua mãe não lhe ensinou, professor?

Os olhos da maioria se arregalaram pra mim, notei alguns cochichos também. Como ela tinha tanta audácia? Dei alguns passos na direção dela que tentou manter sua pose de menina valente.

- Acontece que eu não estou pedindo, estou mandando. - encarei seus olhos castanhos por alguns segundos. - Distribua. Agora!

Ela não falou mais nada. Se virou e começou a entregar as provas.

- Lembram sobre o que falei sobre colar nas provas? Já está valendo. - falei com o tom firme.

- Professor? - uma das alunas chamou.

- Sim?

- Quanto tempo temos pra responder?

- 60 minutos. Quem terminar pode levantar a mão que eu recolho. Ninguém sairá da sala após o término.

Ouvi alguns suspiros tristes e algumas reclamações, mas não dei atenção nenhuma.
Todos focaram no papel a sua frente, concentrados em responder cada questão. Um a um foram levantando a mão e eu fui até eles recolhendo as provas, quando chegou na vez dela pedi que se levantasse e trouxesse até mim. A vi revirar os olhos e me senti extremamente satisfeito por isso.
Assim que ela colocou o papel sobre a minha mesa ouvi alguém bater a porta.

- Bom dia, pessoal! - Era ele, Owen Jackson, meu pai e diretor desse lugar. Ainda era estranho estar no mesmo ambiente que ele.

- Bom dia diretor, em que posso ajudar?

- Preciso falar com você rapidinho, pode ser?

- Claro. - me levantei e me direcionei a aluna que sempre fazia perguntas óbvias durante a aula - Kelly, não é? - ela balançou a cabeça concordando - Fique de olho nos seus colegas pra mim, se alguém colar me fale.

A escolhi porque sabia que era uma puxa saco, não pensaria duas vezes antes de delatar os colegas.

- Professor Evans preciso de um grande favor seu. - Ele falou assim que saí e fechei a porta.

- Se estiver ao meu alcance, será um prazer ajudá-lo senhor.

- O professor Charles estava a frente da equipe de teatro e temos como meta apresentar a clássica história de Shakespeare Romeu e Julieta no final do próximo mês. Como ele saiu e você está em seu lugar , gostaria que assumisse os ensaios e a direção da peça. - Aí estava minha chance de passar mais tempo aqui. - Nenhum dos outros professores tem a tarde livre e como sua disciplina é literatura poderia trabalhar a história com eles inclusive em sala de aula.

- Entendi. Como vai funcionar?

- Os ensaios serão só dois dias na semana e apenas por 2 horas, na terça e na sexta no auditório do colégio. Mas também tem uma sala disponível pra ensaios e reuniões menores.

Eu precisava saber mais dele e que lugar melhor do que o trabalho onde ele passava a maior parte do seu dia?

- Ok. - vi seus olhos brilharem. - eu assumo.

- Excelente! Que bom poder contar com você, vou colocar no mural agora mesmo as inscrições para o teste! - respondeu colocando a mão no meu ombro. Quis tirá-la dali e pedir que não tocasse em mim, mas foquei no que precisava fazer.

- Você poderia me ajudar nessa parte dos testes? É que ainda não conheço bem os alunos.

- Claro! Amanhã faremos e sexta você começa a ensaiar. Obrigada mais uma vez, professor Evans. Acho que você foi uma excelente contratação para o nosso corpo docente. Te mando por e-mail tudo o que já está feito.

Ele saiu quase saltitando. Owen tinha 47 anos, seu rosto possuía rugas e linhas de expressões, suas roupas não ajudavam muito e lhe davam a impressão de ser ainda mais velho. Ele tentava parecer gentil, mas no fundo eu sabia que ele não era.
Voltei pra sala e quase todos estavam em silêncio, menos três pessoas sentados próximos a minha mesa. Claro que ela estava incluída.

MEU ADORÁVEL PROFESSOROnde histórias criam vida. Descubra agora