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              ELISA MONTENEGRO
                   Janeiro de 2023

Das coisas que eu tinha certeza na vida, uma delas é que eu só voltaria a morar no Brasil por uma pessoa.

A pessoa que eu mais amo na vida, que eu vou amar para sempre. Foi essa pessoa que me deu carinho, amor, me ensinou sobre paciência, tempo, me acolheu e me deu colo quando eu precisava, e também quando não precisava.

Apesar da distância, nós estamos sempre juntos, não há um só dia que a gente não se fale, que ele não diga que me ama incontáveis vezes e me diga que: "apesar de eu morrer de saudades de você, sei que você é mais feliz aí, então, por isso, eu também sou feliz."

Quando vim morar em Londres, eu era só uma garota de 10 anos, que veio morar com o irmão mais velho em outro país para tentar superar o trauma abandono materno.

Pois quando tinha um ano de idade, sua mãe decidiu que não queria ficar presa em uma relação onde para ela não fazia mais sentido, e com isso, também não queria nada que a fizesse lembrar dessa época, e nesse caso, o "nada" era eu.

Eu descobri isso quando tinha 9 anos, porque até então minha família dizia que minha mãe tinha falecido. Para eles era mais fácil eu aceitar essa história, do que saber que minha mãe simplesmente resolveu que eu não poderia mais fazer parte da vida dela.

Depois da descoberta, eu passei por problemas sérios, tive febre do nada, desmaiava, tremia, não conseguia me concentrar nas aulas, não conseguia manter amizades... muitas vezes eu chorava sem motivos, isso, sem contar às inúmeras vezes que eu faltei à escola porque simplesmente não tinha vontade de sair do quarto.

Meu irmão, Marcelo, é filho do primeiro casamento do meu pai, nós sempre fomos muito unidos, talvez pela nossa diferença de idade de quase 10 anos, ele sempre agiu como meu protetor...

Quando ele fez 20 anos, ganhou uma bolsa para estudar em Londres, nossa família e a família por parte da mãe dele deram total apoio, pois era uma oportunidade única. Mas eu não gostei da ideia de ficar longe dele justamente no momento em que eu estava sofrendo pela descoberta.

Foi então que a pessoa que eu mais amo na vida disse que eu viria com o Marcelo para Londres, que eu ia estudar, ia ter uma vida nova, longe de todas as lembranças ruins que me faziam sofrer.

Nesse dia, eu fiquei dividida entre o Marcelo e essa outra pessoa. Uma parte de mim queria acompanhar meu irmão, mas a outra queria ficar.

Dois dias antes da viagem, ele me chamou para conversar e disse: "Você vai com seu irmão e vai ser muito feliz lá. Nós vamos nos falar todos os dias e eu farei de tudo para que a gente esteja sempre juntos. Você sabe que tem algo que nos une além do sangue que corre em nossas veias."

No aeroporto, nós nos despedimos com a promessa de que os dois seriam felizes apesar da distância e que todo ano, nos encontraríamos para fazer o que mais gostávamos de fazer juntos.

Nesses quinze anos morando na Inglaterra, eu fiz terapia para aprender a lidar com tudo que aconteceu, estudei, fiz amigos e do Brasil, mantive apenas o contato com a minha família e a paixão que eu herdei por algo que eu não sei explicar, acho que ninguém consegue explicar esse tipo de amor.

Meu irmão se formou em engenharia, assim como várias pessoas da nossa família. Eu, seguindo o caminho oposto ao deles, me formei em direito, e hoje trabalho como advogada em um escritório aqui em Londres.

Marcelo casou com uma brasileira, a Carla, que ele conheceu aqui e eles estão esperando a primeira filha, uma menina, que se chamará Liz.

Perdoei minha mãe pelo o que ela fez, e hoje agradeço, porque talvez às coisas tivessem sido piores se ela tivesse ficado. Mas, perdoar não significa querer ter contato, isso eu não quero. E isso não é egoísmo ou mágoa, é apenas autoproteção.

Quando terminei a faculdade, decidi que era hora de morar só, de ter meu espaço, de seguir meu caminho e também de dar espaço ao meu irmão. Então, aluguei um apartamento próximo ao meu trabalho. No início foi bem difícil, porque eu ficava bastante tempo só, sem ninguém para conversar, mas depois eu me acostumei.

Minha rotina é a mesma de segunda a quinta, que são os dias que eu trabalho no escritório.

Nos três dias de folga eu limpo o AP, faço compras, cozinho, me dedico a mim mesma, faço passeios, vou a cafés, livrarias, assisto séries, filmes e futebol, enfim...

Tudo isso é o que eu tenho feito desde que comecei a morar só, mas vi tudo mudar com apenas uma ligação.

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Uma história nova. Espero que gostem!

Gracias por lerem até aqui! 🫶

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora