TRINTA

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ELISA

Senti minhas pernas perderem a força. Parecia um pesadelo ouvir aquilo.
Não sei como eu arrumei coragem para dirigir até o hospital. Não atropelei ninguém, não invadi a contramão... Cheguei sã, salva, mas com o coração em pedaços.

Fui até a recepção e pedi informações sobre o meu avô, a recepcionista não sabia ou não podia me passar informações. Eu insisti bastante, mas não teve jeito.

Não consegui falar com meu pai, ele certamente estava resolvendo alguma coisa.

Eu queria informações sobre o estado de saúde do meu avô, a demora estava me angustiando.

Por que a recepcionista não pediu para alguma enfermeira vir falar comigo?

Que falta de sensibilidade e humanidade é essa onde as pessoas não se importam com a dor do outro?

Dizem que quando a dor do outro não te sensibiliza, o doente é você. Algo assim, não sei ao certo se com essas palavras, mas o contexto é esse.

Ou será que... Não! Meu pai não ia esconder isso de mim. Ao menos que ele estivesse me poupando porque eu estava dirigindo.

Era muito estranho esse silêncio, essa ausência de pessoas.
Todo mundo sumiu, todo mundo resolveu não atender o telefone.
Ficou só eu com minha angústia e meu desperto.

Continuei ligando para meu pai, e nada dele atender.
Não ia ligar para a megera da minha tia, ela vai me tratar mal e tudo que eu não preciso é ficar pior do já estou.

Voltei para a recepção do hospital e insisti com outra recepcionada.

– Moça, por favor, eu preciso saber notícias de Luís Montenegro. Eu sou neta dele, por favor, me diga como ele está. – digo chorando.

– Desculpa, moça, mas nós não temos essas informações. – ela diz com tanto profissionalismo que me dá nojo.

– Você não tem avô não? Pelo jeito não, porque se tivesse, me diria como o meu está. – eu digo e saio andando para fora do hospital.

Andei por todo estacionamento para ver se achava o carro de alguém da minha família e nada. Nem sombra deles.

Minha cabeça só pensava que meu avô partiu e eles estão preparando tudo.
Isso não era justo comigo, seja lá o que for, eu prefiro a verdade.

Senti que minha pressão ia despencar, então, fui até o banquinho do jardim onde eu costumo ficar, e me sentei.
Tentei racionar, pensar em outras alternativas, mas minha cabeça só levava a essa.

Me levantei no impulso, quando em meus pensamentos surgiram imagens que eu não quero ver na vida real. Eu dei um grito que provavelmente assustou quem ouviu.

A movimentação de pessoas era intensa, era fim de tarde, o céu tinha o contraste de cores quentes e a lua já surgia em meio às nuvens que insistiam em permanecer visíveis, apesar da noite se aproximar.

Gritar, era como se eu tivesse expulsando da minha mente aqueles pensamentos ruins.

Comecei a chorar muito, apoiando minhas mãos nas minhas próprias pernas, com os joelhos levemente flexionados para frente e o rosto banhado em lágrimas.

De repente, senti dois braços me envolverem. Estiquei os joelhos de modo a ficar à altura da pessoa que me abraçava. Quando virei o rosto para ver quem era, meu corpo só pediu para eu me aninhar sem dizer nada.

E assim  eu fiz, recebendo também, um carinho nas minhas costas.

– Respira um pouco. Eu estou aqui com você. – Jonathan estava me abraçando e fazendo carinho enquanto eu chorava com o rosto apoiado em seu peito.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora