TREZE

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ELISA MONTENEGRO

O sono não veio, mas eu não queria mais conversar com o Calleri. Voltei minha atenção para o que eu ia fazer antes da conversa com o jogador, que era ler meus diários.

Peguei o de 2005, o ano do mundial.

Tinham muitos registros sobre os jogos daquele ano, foi um ano memorável para o time. Minhas lembranças são poucas, mas o diário tinha muita coisa anotada.

Em muitas páginas, eu mencionava o Ceni e o seu protagonismo. Fiquei chocada com algumas coisas escritas, o meu ponto de vista e a minha desenvoltura.

Eu tinha sete anos apenas. Mas eu me lembro que eu sempre gostei de ler muito e escrever, talvez os meus diários sejam frutos disso.

Encontrei uma página que dizia assim:

"Hoje eu queria muito que minha mãe tivesse viva. Minhas amigas vão ao shopping comemorar o dia das mães e eu não vou ter comemoração. Eu sinto falta dela, apesar de não ter nenhuma lembrança.

São Paulo, 7 de maio de 2005."

Aqui, eu ainda não sabia da história real da minha vida.

Enquanto eu achava que ela estava morta, doía menos. Porque depois, eu me tornei órfã de mãe viva, e isso foi uma das piores dores que eu senti na vida.

Fui passando as páginas, rindo de algumas coisas, chorando com outras. O visor do meu celular começou a acender uma luz, era notificação do whatsapp. Olhei pela tela de bloqueio e era o jogador.

"Vice, já dorme?" Você sumiu. - dizia a mensagem que eu li, mas não abri.

Essa intimidade era muito estranha, do nada começamos a conversar como se fossemos amigos.

Peguei o celular, e digitei a resposta para o argentino.

"Estava ocupada, vice." - eu respondi.

"Vamos ver o jogo domingo?" - ele pergunta.

- Senhor, que arrependimento. Para que eu fui responder?! - falo sozinha.

Passei um tempinho sem responder, pensando na resposta.

Aceito ou não? E agora??

- Oh, Elisa, você só se mete em problemas. - falo para mim mesma.

Resolvi não aceitar, vou dizer que vou assistir com meu avô, vai ser o primeiro jogo que vamos assistir juntos depois da minha volta e da alta dele.

"Vice, dessa vez eu não vou poder ir. Seu Luís já me convocou para assistir com ele." - respondo.

Meu avô nem falou nada sobre o jogo.

"Tudo bem. Outra vez você vai comigo." - ele insiste.

"A gente combina." - eu mando em seguida.

Acho que agora ele para de invenção de assistir jogo comigo.

"Quando você quiser ir, me avisa. Vou torcer para ser um dia que eu possa assistir com você." - Calleri manda em seguida.

Ele só pode estar carente, porque isso é um caso claro de carência.

Minha consciência diz: "não aceita, não se envolve, não cai nesse papo."

E minha emoção diz: "ajuda ele, é só uma ida pra ver um jogo, talvez ele esteja precisando de ajuda."

Tinha um anjinho e um diabinho perturbando minha mente.
Espantei os dois, não quero ninguém dizendo o que eu tenho que fazer.

De novo deixei o celular de lado e voltei para meu diário.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora