TRÊS

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ELISA MONTENEGRO

- Lili! - meu avô diz emocionado.

Ele era a única pessoa que me chamava assim. Para todos os outros membros da família, eu era a Lisa, mas para meu avô eu era a Lili. Só ele me chama assim, e acho que não permitirei que nenhuma outra pessoa me chame da mesma forma.

Nós nos abraçamos e eu segurei ao máximo minhas lágrimas para que ele não percebesse nada.

- Você está aqui porque... - ele ia falando mas eu o interrompi.

- Porque nós temos um compromisso. Esqueceu? - eu minto.

Não ia dizer que estava ali porque ele está doente.

- Nós vamos quando? - ele pergunta animado.

- Vou ver qual vai ser o próximo e se os médicos te liberam. - respondo.

- Os médicos vão me liberar. Nada vai me impedir de ir ao nosso compromisso de todo ano. - ele diz bravo e eu rio.

- Calma, tenha paciência. - eu digo e ele desfaz a cara de bravo.

- Sabe, Lili, eu queria fazer um coisa. - meu avô fala fazendo suspense.

- O que, vô? - eu pergunto curiosa e com medo, porque meu avô sai com cada ideia.

Certa vez ele cismou que queria caminhar na praia á noite, sendo que a gente mora em São Paulo, e em São Paulo não tem praia.

Só sossegou quando meu pai nos levou até Santos.

- Eu quero conhecer pessoalmente um dos melhores jogadores que o São Paulo já teve nos últimos anos. - ele diz e eu fico surpresa.

- O Luciano, o Rafael... - vou citando alguns jogadores do time.

- Não. Eu gosto deles também, mas eu quero conhecer o Calleri. - meu avô diz.

- Ah! O argentino. - eu falo.

- Sim. Você sabe que eu vi os grandes nomes do São Paulo jogarem. O Raí, o Chulapa, Cafu, Zetti, o Rogério e tantos outros. Falei pessoalmente com todos eles. Preciso falar com o atacante também. - ele diz e eu me lembro da vez que meu avô conheceu o Ceni.

Foi emocionante para ele e para mim também. De repente eu estava de frente com o maior ídolo da história do clube.

- Vô, eu não sei como vou fazer isso, mas eu te prometo que vou conseguir. Você vai conhecer o argentino. - eu digo e vejo o sorriso dele.

O sorriso do meu avô é uma das coisas que eu mais gosto de ver. Sempre que ele rir, eu vejo nele uma eterna criança que nunca deixou seus sonhos para trás.

- Promete mesmo? - ele me pergunta.

- Claro. Palavra de são paulina. - eu falo, levantando a mão em sinal de juramento.

Eu realmente não sabia como ia fazer isso, mas eu precisava fazer e logo.

Ele foi me contando sobre o dia que passou mal e eu ia prestando atenção em tudo.

Parecia até que ele não estava em uma cama, no quarto de um hospital, monitorado por vários aparelhos.

Tenho muito que aprender com ele sobre não deixar a tristeza e a dor vencer.

- Você me compra uma camisa nova do São Paulo? Eu quero levar para ele autografar. - meu avô pede.

- Sim. Também vou comprar uma para mim. - eu digo.

- Compra do Calleri, tá?! A que eu tenho é de 2016 - ele diz.

O jogador já pode se considerar um vencedor na vida. Entrou para o hall dos ídolos de Luís Montenegro, hall que só tem os maiores.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora