TRINTA E CINCO

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ELISA

Terminamos de nos arrumar e fomos para a garagem.
Estava tudo indo bem, quando de repente me bateu um vazio.

Entrei, coloquei o cinto, o jogador fez a mesma coisa e deu a partida no carro.

Olhei para o Jonathan, todo lindo, cabelo cortado, barba de um tamanho que eu gosto muito, ainda mais sendo nele. Comecei a pensar que isso só está acontecendo por causa do meu avô.

Em outras circunstâncias, eu não ia fazer esforço para conhecê-lo, pois para mim ele sempre seria alguém inacessível.

Por obra do destino, é ele que está me dando apoio, carinho e atenção nesse momento tão delicado e cheio de incertezas.

Meu avô pensou até nisso. Porque só pode ter sido ele que pediu a Deus para eu me aproximar do jogador.

Ele conversou comigo e disse que não era pra eu deixar de fazer nada por medo do que as pessoas iriam falar... Sem querer, seu Luís foi responsável por me fazer ter uma relação com o Jonathan. Nem que essa relação só dure até amanhã.

Meu avô está em coma, não verbaliza, não reage. Os médicos disseram que ele precisa reagir, acordar, e que por enquanto só podem fazer isso por ele: monitoração.

Ele está recebendo todo o cuidado possível e isso me dá um certo alívio. Não queria e nem deixaria que fosse o oposto. Meu avô merece todo o cuidado e toda a atenção do mundo.

Na hora da visita, o médico pede pra gente conversar, pra que ele ouça nossa voz, porque isso pode servir de estímulo para que haja o despertamento do coma.

Hoje eu vou pedir ao Jonathan para entrar também, meu avô gosta tanto dele. No dia anterior ao acontecido, ele estava tudo empolgado gritando pelo argentino durante o jogo no Morumbi.

Eu vou apelar para tudo para que meu avô acorde e volte pra gente.

– Lili, você está bem? Está tão caladinha. – Jonathan fala me olhando rapidamente, mas sem tirar a atenção do trânsito.

– Estou pensando em meu avô. Quero tanto que ele acorde. – falo com tristeza.

– Ele vai acordar, você vai ver. – o argentino diz mais animado do que eu.

– Você pode entrar para vê-lo também? – pergunto.

– Sim, vice. Vou entrar e vou conversar com ele também. – o jogador fala com bastante entusiasmo e otimismo.

– Obrigada! – toco seu braço direito com carinho e ele pisca para mim.

Seguimos o restante do trajeto em silêncio. Eu olhava a movimentação de São Paulo e Jonathan prestava atenção no trânsito.

Ao estacionarmos no imenso hospital onde meu avô está agora, liguei para meu pai para avisar sobre a entrada do jogador no horário de visita, e ele me deu a péssima notícia de que minha tia também estará aqui.

Vou torcer para doutor Alberto estar de plantão, para que ele permita que o Jonathan entre também. Vai ser importante para meu avô.

Fui até a recepção conversar com as moças responsáveis por lá, e elas me orientaram como dá outra vez.

Peguei na mão do Jonathan e fomos até a sala de espera da UTI, onde famílias se encontram na mesma dor.

– Não queria que minha tia viesse. – reclamo baixinho.

– Ela é filha dele, vai fazer bem. – Jonathan diz e eu sou obrigada a concordar.

Era verdade, apesar dela ser uma megera comigo, mas ele, ela o tratava muito bem.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora