DOZE

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ELISA MONTENEGRO

- Por favor, dr. Alberto, quer antecipar meu encontro com Deus? - meu avô diz, e mesmo nervosa, eu não pude deixar de rir.

- Calma. Seus exames estão com bom resultado, e por isso, vamos te dar alta. - o médico responde.

- Sério? - eu pergunto surpresa com a notícia.

- Sim. Mas qualquer coisa, o senhor volta, e por favor, não abuse. Siga todas as recomendações que eu vou passar. - o médico explica.

- Graças a Deus, não aguentava mais ficar aqui. - meu avô solta a pérola.

- Vô, pelo amor de Deus. - eu o repreendo.

- Eu quero ir para a chácara, por favor, providenciem tudo. - ele pede.

- E é só assim, seu Luís Montenegro? - meu pai pergunta.

- Claro. - meu avô responde.

- A gente vê isso depois, o senhor tem que seguir as recomendações médicas. - eu explico.

- Tudo bem. O importante é sair daqui. - ele diz e eu vejo a ansiedade em querer ir pra casa.

Organizei todas as coisas do meu avô e meu pai o ajudou a sair.

Ele estava tão feliz. Acho que hoje está sendo um dos dias mais felizes da vida dele: conheceu o ídolo e agora está indo para casa.

Chegamos ao estacionamento e ele entrou no carro do meu pai.

- Eu chego nestante. Vou passar em uma padaria primeiro. - falou para eles.

- Compra um pãozinho doce para mim. - meu avô pede.

- Pãozinho doce está proibido. - eu falo e ele me julga.

- Tudo está proibido. - reclama.

- Tudo não, mas pão doce sim. - eu respondo fechando a porta do carro.

Meu pai saiu na frente e eu fui atrás, mas depois, desviei o caminho e passei na padaria que eu tomei café outro dia.

Comprei alguns pães, mas a janta do meu avô será uma sopa bem leve.
Ele não pode comer nada gorduroso e nem salgado.

Estou aliviada com a alta dele, espero que ele não volte a ser internado.

Fui para a casa de meu avô, ainda não tinha andado lá desde que voltei.

Ao entrar, outras milhões de lembranças tomaram conta da minha mente.

Eu controlei as lágrimas que ameaçaram vir, porque precisava fazer a sopa dele, e certamente, lágrimas não é um bom tempero.

Meu pai estava no quarto ajudando-o no banho e eu posso imaginar o caos.

Cortei verduras, coloquei na panela, temperei e esperei cozinhar.

Enquanto cozinhava, eu fui para o quarto que era meu. Tudo permanecia intacto.

Meu avô nunca deixou ninguém mexer. Eu sei que era uma forma dele ficar próximo de mim.

Meus ursos, minhas camisas do São Paulo, fotos e mais fotos.

- Eu fui muito feliz aqui. Quantas lembranças! - falo sozinha.

- Olha, meus diários. - falo ao ver a pilha de diários em cima do armário.

Peguei um, e estava limpo, sem poeira.

Abri em uma página aleatória e eu tinha escrito o seguinte:

"Hoje eu fui com meu avô ao Morumbi e o São Paulo ganhou. Teve dois gols do Rogério, de pênalti e de falta. Eu gritei muito, muito, muito.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora