DOIS

1.2K 52 31
                                    

ELISA MONTENEGRO

Era uma sexta-feira chuvosa em Londres, e eu amo dias chuvosos, principalmente quando estou em casa e posso não fazer nada o dia todo.

Estava preparando um macarrão para comer, quando meu celular começou a tocar insistentemente, me fazendo parar de cortar o bacon que eu ia usar no molho da massa.

- Oi, tia Lídia. Tudo bem? - pergunto, estranhando o telefonema dela.

- Elisa... - ela fala e faz uma pausa agoniante.

- Diz logo, tia, o que aconteceu? - pergunto desesperada.

- Estamos levando seu avô para o hospital, ele passou mal no trabalho. - ela diz e eu fico muda.

- Elisa? Elisa? Minha sobrinha, você ainda está aí? - ela me chamava, mas eu não conseguia responder.

Me sentei no sofá e minha cabeça começou a pesar. Isso não podia estar acontecendo. Por que com meu avô? Por que em um momento que eu não estou lá?

Chorei como nunca mais tinha chorado, só pensava que era um pesadelo, só podia ser.

A campainha do apartamento tocou e eu não tive forças para abrir, e como eu não atendi, ouvi a fechadura de mexer e só podia ser uma pessoa...

- Lisa, o vovô... - meu irmão entrou dizendo.

Nos abraçamos forte, os dois chorando muito. Ficamos em silêncio por muito tempo.

- Vou voltar para o Brasil. - disse ao meu irmão e ele me olhou surpreso.

- Calma, espera nosso pai dizer alguma coisa. - ele fala.

- Não vou conseguir ficar aqui. Não posso ficar aqui. - digo.

- Você está nervosa, não faz isso. - ele insiste.

- Vou arrumar minha mala e comprar uma passagem para hoje mesmo se eu achar. - falo.

- E seu emprego, Lisa? - ele pergunta.

- Não me importa, eu peço demissão. - grito e ele me abraça de novo.

- Desculpa, não queria gritar com você. - falo para ele.

- Tudo bem. Vou ligar para nosso pai e avisar. - ele diz.

Comprei uma passagem pela internet e só tinha voo na madrugada de sábado.

Arrumei minha mala e depois de me acalmar um pouco, liguei para meu pai para perguntar como meu avô estava.

- Lisa, seu avô vai ficar bem. Ele está consciente, fez alguns exames e estamos esperando o resultado. - meu pai diz.

- Eu sei que ele vai ficar bem, mas eu quero ficar com ele. - digo.

- Tudo bem, você é teimosa igual a ele. - meu pai diz e eu rio.

- Chegarei na madrugada, vou pegar um Uber e ir direto para o hospital. - falo.

- Certo. Boa viagem. Te amo, minha menina. - meu pai diz.

Para meu pai, eu ainda sou a menina de dez anos que não tinha amigos, que era frágil e chorava muito.

- Te amo, pai. - respondo e a gente encerra a ligação.

As horas demoraram muito a passar, tentei de tudo para não ficar ansiosa, li páginas de livros, assisti um filme, mas nada adiantou.

Meu voo estava marcado para às duas horas da madrugada, no horário do Brasil, eu só ia chegar de tarde, se não tivesse nenhum atraso.

Ansiedade tomou conta de mim, enquanto contava as horas para reencontrar meu amado avô. A cada minuto que passava, meu coração apertava mais forte, a preocupação crescia. Meu avô, uma figura tão querida e presente em minha vida, agora estava hospitalizado.

PARA SEMPRE - Jonathan CalleriOnde histórias criam vida. Descubra agora