Lamento

207 20 12
                                    

        Rodolffo Lafonte
                 38 anos
empresário do ramo da restauração.

Filho de mãe brasileira e pai italiano, nasceu e cresceu em Génova, cidade italiana.

Habituado a passar férias todos os anos no Brasil, desenvolveu por este País um amor difícil de explicar.

Aos 35 anos teve a fatalidade de perder os pais vítimas de acidente de viação e após todos os trâmites dos funerais, resolveu que estava na hora de se aventurar no País com que sonhava.

Os pais donos de uma cadeia de restaurantes em Itália haviam conseguido amealhar uma pequena fortuna.

Colocou a rede de restaurantes à venda.  Não foi fácil, mas assim que conseguiu logo partiu.

Solteiro, sem compromissos, não teve dificuldade em se desapegar de tudo o que tinha em Génova.   Vendeu casa, carro e outros bens.  Deixou apenas um pequeno chalé que possuía numa aldeia bem recatada perto de Génova onde pretendia passar alguns dias se sentisse saudades de Itália.

Três anos depois e com uma rede de restaurantes implantados em várias cidades, era hora de conhecer um por um e ver o seu funcionamento.   Em alguns esteve na inauguração e noutros apenas mandou os representantes.

São Paulo.

Rodolffo acaba de estacionar o seu BMW azul escuro, vidros fumados, em frente ao seu restaurante.

Ficou por momentos dentro do carro a observar a fachada e o movimento.

Jovens bem vestidas, homens de terno e gravata, eram as pessoas que via entrar.

Resolveu sair do carro e dirigir-se à entrada do restaurante.

- Moço, moço!  Por favor, pague um lanche para mim.

Rodolffo olhou para o lado e viu uma jovem de vestes simples porém limpas.  Os cabelos cumpridos estavam um pouco desgrenhados.   O olhar era triste e o rosto bastante pálido.

- Você tem fome?

- Sim.  Faz três dias que eu não como nada.

- Vem comigo.  Hoje você é minha convidada.

Rodolffo ia a entrar no restaurante e foi barrado.

- Desculpe senhor, mas a moça não pode entrar.

- Como assim, não pode entrar?  Onde está escrito que não pode entrar?

- Ordens do gerente, senhor.

- Pois chame o gerente ou eu chamo a polícia.

O funcionário entrou para chamar o gerente.

- Senhor, não quero causar problemas.  É só me dar uma moeda e eu vou embora comprar um pão para comer.

- Não.   Você vai comer comigo e há-de ser neste restaurante.  Não precisa tremer de medo.

- Não é de medo, senhor.  É mesmo fome.

O empregado regressou com outro homem, por certo o gerente.

- Pois não senhor.

- Onde está a lei que proíbe esta senhora de entrar comigo para almoçar?

- Senhor!  Neste estabelecimento prezamos muito pelo bem estar dos nossos clientes.  Convenhamos que a moça não está de acordo com o padrão.

- E vai deixar-me entrar com ela ou vou ter que chamar as autoridades?

O funcionário tinha visto Rodolffo chegar no carro de luxo.  Ele apresentava-se de terno e gravata e não achava que combinasse com a moça.  O gerente era da mesma opinião.

- Posso deixá-lo entrar para a sala reservada.  Assim não vai incomodar os outros clientes.

- O quê? Vamos almoçar sim na sala normal.  A sala reservada é para encontros e eu não estou num encontro.

Os dois entraram e sentaram-se numa mesa junto à janela.  Alguns olhares de outros clientes caíram sobre eles, mas isso não abalou Rodolffo.

- Fique sossegada.  Esteja à vontade que aqui ninguém mais a vai desrespeitar.

- Eu vou ao banheiro lavar as mãos,  disse ela.

Rodolffo aproveitou para pedir algumas entradas e uma àgua.  Olhou o cardápio de ponta a ponta para ver o tipo de refeição que era servida.

- Quer beber o quê? - perguntou quando ela regressou.

- Pode ser àgua mesmo.

- Escolha aí o que quer comer.  Peça o que lhe apetecer.

- Moço, é tudo caro.

- Não faz mal.  Se eu convidei é porque posso pagar.  Já agora o meu nome é Rodolffo Lafonte.

- O meu é Juliette Alves. 

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