Casa

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Juliette conseguiu cativar todos no restaurante.   Um dia que ela estivesse mais calada e já percebiam que algo não estava bem.
Também se prestava a ajudar todos.  Não era de todo incomum vê-la na cozinha de volta das batatas ou das saladas sempre que alguém faltava ou se atrasava.

Rodolffo apenas ligou uma vez para Luís para saber dela.  Ficou agradado por saber que ela se estava a dar bem com todos.

Juliette começou a procurar casa para morar.  Logo os três meses iam terminar e ela não podia suportar do seu bolso a diária do hotel.

Luís, Paulo, se souberem de algum apartamento vago e barato avisem-me.  Não pode ser muito longe porque eu não tenho transporte.

- Eu demoro uma hora de ónibus a chegar, disse Paulo.  Às vezes mais dependendo do trânsito.

- Se tiver que ser!  Aqui os apartamentos custam uma fortuna.  Só dá para duas pessoas que trabalhem.

- Pois é.  Na periferia de S. Paulo tu consegues casa barata, mas gastas meio dia para chegar.

- Moras sózinho, Paulo?

- De momento sim.  E está difícil pagar o aluguer, por isso eu preciso muito deste emprego.  Partilhava com o meu companheiro,  mas resolvemos terminar há um mês.

- Qualquer coisa eu vou morar contigo.
Se eu conseguir um apartamento bacana aqui perto, queres dividir comigo?

- Achas que resulta?  Eu sou um pouco bagunceiro.
Por outro lado parece-me uma ideia a ponderar.  Se me livrar de metade do tempo de viagem já compensa.

Juliette não precisou procurar muito.

Dona Catarina, viúva de 76 anos era frequentadora assídua do restaurante.  Descendente dos primeiros emigrantes italianos que vieram para o Brasil era apaixonada por tudo.

Passava horas a conversar com o pessoal do restaurante depois de finalizar a sua refeição.  Fazia questão de sair de casa para almoçar no restaurante mas levava o jantar para casa.

Um destes dias esqueceu-se.  Saiu mais cedo e deixou o jantar. 
Morava perto e por isso Juliette foi até casa dela.

- Esqueceu o jantar, dona Catarina.

- Ai a minha cabeça.  Obrigada.  Desculpa o incómodo.  Entra um pouquinho.

Catarina vivia numa casa enorme.  Não teve filhos e depois da morte do marido a casa tornou-se grande demais.  Tinha uma empregada que ia lá três vezes por semana fazer limpeza e só.

- Não quer alugar-me um quarto, dona Catarina? 

- Onde vives?

- Agora estou no hotel, mas vou sair no próximo mês.  Ando à procura de casa.

- Vem pra cá.   Depois vemos a questão do aluguer.  Eu não uso nem metade da casa.  Tenho 4 quartos vagos.

- Já pensou alugar todos?

- Ai filha, é muita confusão.   Já não tenho paciência para ter aqui muita gente.

- Mas era uma renda para si.

- Felizmente não tenho necessidade de recorrer a isso.  Mas vem tu.  Quando quiseres podes vir.  Anda, vou mostrar-te o quarto onde podes ficar.

- É só para dormir, porque eu vou passar o dia no restaurante.

- Vês?  Tens um banheiro só para ti.

- Eu estou tentada a aceitar dona Catarina.

- Claro que vais aceitar. O pouco tempo que eu te conheço já gosto de ti o suficiente.  E na tua folga vamos as duas para a farra.

- Combinado.  Depois eu digo o dia em que venho.  Agora deixe-me ir senão o Luís exalta-se.

- Vai lá.  Obrigada pelo jantar.

- De nada.  Ainda bem que mora perto.

Juliette chegou ao restaurante radiante.  Mais um problema na sua vida resolvido.  Iria desfrutar do hotel até ao fim e depois, casa da dona Catarina.

CalmaOnde histórias criam vida. Descubra agora