Pedro veio hoje com uma novidade. A mulher de Hélio queria conversar comigo.
- Sobre o quê, Pedro?
- Sobre o despejo. Já foram notificados.
- Não tenho nada a falar. Não vou voltar atrás.
- Eu sei, mas eu prometi que falavas com ela. Pode ser esta tarde?
- Então no final dos almoços, mas não aqui.
- Vou ligar e combino outro lugar.
Mais tarde veio buscar-me. Tinha marcado encontro numa esplanada de um parque público. Pedro estaria presente.
- Boa tarde. Juliette? Meu nome é Rosa.
- Rosa, não sei qual é o assunto que quer falado comigo.
- Eu só tive conhecimento de si agora. O Hélio sempre me disse que a casa era alugada por ele.
- Não. A casa é minha. Nós vivemos juntos algum tempo até ele me expulsar dali.
- Mas eu também vivo com ele vai fazer quatro anos. Desde que a minha menina tinha dois anos.
- A menina não é filha dele?
- Não. Eu já estava separada quando o conheci.
Como é que ele vivia com as duas? Nunca falhou em casa.- Comigo só estava de noite. De manhã saía para trabalhar.
- E comigo estava de dia pois dizia que trabalhava à noite porque ganhava mais.
- Enganava as duas.
- Mas nunca me faltou com dinheiro, diz Rosa.
- Ao contrário comigo. Nunca vi a cor do dinheiro dele. Pelo contrário ainda gastava o meu.
No dia em que fui expulsa lutámos os dois e acabei por perder o meu bébé. Quero que esse homem sofra como eu sofri.- Estou perdida. Não sei o que dizer nem fazer. Se eu tivesse conhecimento da vossa relação poderia ser diferente. Nem posso pedir perdão porque verdadeiramente não me sinto culpada.
Sou igualmente uma vítima e hoje mesmo eu deixo aquela casa com a minha menina.- Quem sabe se não haverá por aí outra mulher nas mesmas condições. Quem faz uma vez faz mais.
- Lamento. Foi a última palavra de Rosa.
Eu regressei ao restaurante com Pedro.
- Pedro, se ela realmente sair hoje de casa eu quero estar lá quando ele for corrido.
- O oficial de justiça que entregou a notificação disse que ele ameaçou não sair.
- Quando vai ser para eu levar os fogos?
Juliette ligou mais tarde para Rodolffo a contar do acontecido.
- Precisas de um carro. Não precisas de andar sempre com o Pedro.
- Ciúmes a uma hora destas, Rodolffo? Não é possível.
- Não é ciúmes, mas eu sei que se não fosse por mim ele já teria avançado.
- Estás a falar com quem? Começas a ofender-me.
- Não interpretes mal. Não falo isso para ficares zangada.
- Fico, porque dá a impressão que só a vontade de homem conta. Eu por acaso sou algum objecto de disputa?
- Desculpa. Não foi isso que quis dizer.
- Mas foi isso que eu ouvi. Tchau.
Juliette desligou sem que ele pudesse argumentar mais. Estava furiosa quando retornou ao trabalho, mas logo Paulo fez uma piada e o semblante dela mudou.