Capítulo 13

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(Manoela)

O cheiro estéreo do quarto e o barulho dos equipamentos ligados ao corpo de Arthur me deixam em um constante estado de alerta. A cada poucos minutos, os primos dele ou a Sara entram no quarto e tentam me fazer comer alguma coisa, mas não consigo nem pensar em comida. Sara tentou me arrastar para casa umas duas vezes já, dizendo que preciso descansar e eu apenas a ignorei. Enquanto Arthur não acordar eu não vou sair de perto dele.

O médico veio mais cedo e disse que ele teve sorte, que a bala passou a centímetros do coração e isso só me fez chorar mais. Eu podia ter o perdido, e toda vez que me lembro disso uma nova cachoeira de lágrimas começa. Não sei como ainda tenho lágrimas para chorar.

- Ele vai ficar bem, Manu! - Sara passa a mão nas minhas costas enquanto continuo sentada ao lado da cama, com minha cabeça apoiada perto do corpo desacordado de Arthur - E ele vai ficar puto quando acordar e ver como não se cuidou.

- Já fazem quase vinte e quatro horas, Sara! Por que ele não acorda?

- O médico conversou com o Thiago e disse que era normal, que quando o efeito da anestesia passar ele vai acordar. Vamos usar esse tempo para ir em casa, você pode trocar de roupa e descansar um pouco.

Ignoro sua oferta pela terceira vez e a escuto suspirar ao meu lado. Continuo focada encarando o rosto bonito do Arthur, ele parece tão sereno assim. Todo o cansaço e preocupação que via nele nas últimas semanas sumiu, e ele parece até mesmo mais jovem. O meu delegado é sempre tão altivo e feroz, nunca tinha o visto frágil assim, e quebra o meu coração saber que ele está sofrendo.

Não tive nem mesmo forças para perguntar aos primos dele o que diabos aconteceu. Sei muito bem que não tem nenhuma relação com a delegacia, então só pode ter a ver com os negócios da família dele. Em um outro momento posso até querer saber direitinho o que aconteceu, posso não, vou exigir saber que merda aconteceu. Arthur me disse tantas vezes para não me preocupar, nunca quis dividir nada comigo, e agora olha só onde estamos. Não vou aceitar ser deixada no escuro mais, ele podia ter morrido e eu nem mesmo saberia como, onde ou por que.

Porém, agora, aqui esperando ele finalmente acordar, não dou a mínima para o que aconteceu. Só quero o meu delegado acordado, me dando sua total atenção como sempre. Me dizendo que me ama e sente minha falta, me deixando louca. Nunca senti tanta falta de alguém como estou sentindo dele agora, mesmo estando colada nele fisicamente, parece que estamos a quilômetros de distância.

Escuto Sara sair do quarto, e por um momento me sinto adormecer, mas logo acordo com uma comoção no corredor. Checo Arthur e vejo que ele continua dormindo profundamente, dando um beijo na sua bochecha, me levanto e vou em direção a discussão acalorada na porta do quarto.

- ... você não podia ter me escondido isso por tanto tempo, Thomás! Ele é o meu filho! Eu já deveria estar aqui a horas atrás!

- Tia, eu estava fazendo o que o Arthur me pediu. Me desculpa, mas ele foi claro em só avisar vocês depois que estivesse bem e estável.

- Isso é ridículo! Eu vou...

Finalmente abro a porta e vejo Thomás discutindo com um casal atraente. Os três param de falar quando me veem na porta, e o casal me olha com uma mistura de surpresa e ansiedade. O homem é uma cópia do Arthur, apenas mais velho e nem preciso perguntar para saber que é o pai dele. A mulher ao lado dele deve ser sua esposa, só pela forma possessiva com que é abraçada. Ela é morena, alta e bonita, e olhando mais atentamente consigo ver alguns traços do Arthur nela, principalmente os olhos intensos.

- Tios, essa é a Manoela, a mulher da vida do Arthur. Manu, esses são os pais do seu amor, Alberto e Elizabeth Sánchez.

Fico meio sem jeito com a apresentação, porque nunca imaginei em conhecer a família do meu namorado assim. Antes que eu possa me recuperar, Elizabeth vem em minha direção de braços abertos e me dá um abraço apertado.

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