Capítulo 1

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(Arthur)

Mais um dia tentando me passar por alguém que eu não sou para o bem da família. Se não fosse o bastante ter que morar em Angra e passar calor noventa por cento do ano, ter que fazer trabalho de escritório na delegacia é meu purgatório. Não sei se inferno existe, mas o purgatório é na delegacia da polícia militar de Angra. E eu estou pagando minhas dividas das últimas cinco vidas nessa merda de lugar.

- Senhor, seu pai está na linha dois. - minha secretária fala da porta da minha sala.

- Pode passar.

Respiro fundo parando de digitar e pego meu telefone, meu pai ligando às sete da manhã tem que ser algum problema.

- Filho! Finalmente consigo falar com você, eu estava quase mandando um dos meus homens aí para te procurar. Por que você sumiu? Aconteceu alguma coisa?

- Manoela.

Não preciso falar mais nada, meu pai sabe o que isso significa. Eu escuto a respiração profunda dele no outro lado da linha, e passando a mão no meu rosto para me acordar, me preparo para mais um sermão.

- Arthur, por que você já não resolveu isso? Já são três anos com você sofrendo por uma situação que só depende de você mesmo para resolver. Você sabe muito bem o que eu tive que fazer quando eu conheci sua mãe...

- Eu sei, eu sei! Pai, você já tentou me convencer de todas as formas possíveis, mas ainda assim quero dar um tempo para a Manoela. Não quero passar o que você passou com a minha mãe, talvez se eu for mais sensível nessa situação toda, ela também se apaixone sem eu precisar recorrer a sequestro.

Rindo, meu pai bufa antes de continuar.

- Juro por Deus, você puxou esse lado da sua mãe! Você é minha cópia em tudo, mas esse lado emocionado vem totalmente da minha deusa. - encolho com vergonha alheia pelo apelido mas já escutei eles se chamarem de coisa pior - Tudo bem, meu filho, se você acha que é isso que tem que ser feito eu aceito. Mas eu e sua mãe estamos contando os dias para conhecermos nossa nora. Sua mãe não vê a hora de finalmente ter uma filha e poder ficar mais próxima em número de igualdade na nossa família.

Isso me faz rir, porque minha mãe me liga umas cinco vezes na semana para reclamar de como ela já poderia ser amiga da Manoela, mas eu não colaboro.

- Vai acontecer, mais rápido que você imagina. Mas o que você precisa? Ou me ligou só para saber de fofocas?

- Mais respeito, fedelho! Liguei para saber do meu filho, eu e sua mãe estamos com saudade. Você não vem a São Paulo a quase seis meses já, seus primos e seu tio já estão querendo comprar uma casa em Angra para podermos ir aí te ver com mais frequência. Já sabe, se você não vem até nós, nós vamos até você!

Sorrio pensando na minha família. Meu pai e meu tio são os patriarcas e criaram eu e meus três primos como se fossemos irmãos, por isso que apesar de tecnicamente ser filho único, eu considero que tenho três irmãos. Com meus primos não tendo a mãe na vida deles, minha mãe também pegou esse papel para ela, e nem se fossemos irmãos diretos acho que seriamos tão parecidos. A unidade da nossa família é a coisa mais importante que nossos pais nos ensinaram, enquanto formos unidos nada vai conseguir nos alcançar. E bem, estamos aí a anos e cada vez mais poderosos.

- Eu sei pai, também sinto muita falta da família. Mas entre ser delegado, cuidar dos negócios da nossa família aqui no Rio e stalkear a Manoela, me sobra quase tempo nenhum. - eu respiro fundo exasperado com o tanto de coisa que tenho que fazer - Estou tentando delegar mais, mas tem coisas que só o delegado pode fazer ou só um representante da nossa família.

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