Capítulo 26

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(Arthur)

Acordo assustado com uma batida na janela do meu carro. Meus olhos demoram a se ajustar à luz da manhã, e quando finalmente consigo focar, vejo Heitor com uma caneca de café sorrindo para mim. Filho da puta. Abaixo minha janela com um suspiro, tentando reunir toda paciência que tenho para não atirar no irmão da minha esposa.

- Bom dia, cunhadinho. - Heitor me oferece a caneca e eu apenas resmungo aceitando - Posso entrar?

Ele nem mesmo espera pela minha resposta, apenas dá a volta no carro e entra pela porta do carona. Tudo bem, cheguei em um novo nível de fundo do poço e nem mesmo me importo. Não consigo passar nem mais um segundo sequer naquela casa sem a minha menina, então simplesmente decidi dormir o mais próximo dela possível. Graças ao Heitor, o mais próximo que consigo estar da minha esposa é na rua em frente a mansão do irmão dela. Não sei mais o que fazer, apenas não consigo suportar a ideia de voltar para casa e Manoela não estar lá. Como achei ser possível deixar ela em São Paulo com meus pais, não faço a menor ideia. É óbvio para mim que estava completamente errado, só que precisei me foder para ver isso.

Não sei o que é pior, saber que minha mulher não quer nem mesmo falar comigo ou a distância que há entre a gente no momento. Cada minuto que passo isolado, sabendo que por minha culpa estou longe da coisa mais importante da minha vida, morro um pouco por dentro. Quando pensei em mandá-la para longe, estava em um lugar de completo desespero e medo de algo acontecer com o amor da minha vida. Nunca imaginei que essa decisão seria o que realmente tiraria ela de mim. E ainda assim, aqui estou eu, mendigando qualquer merda de atenção que ela queira me dar.

Claro que não estou sendo bem sucedido. Depois da minha ligação à dois dias atrás, Manu não me atendeu novamente nem respondeu a nenhuma mensagem que mandei. Por fim, tenho certeza que fui bloqueado, porque minhas mensagens não são enviadas mais. Meu último recurso foi vir dormir aqui na porta, na esperança de pelo menos vê-la andando pela propriedade do Heitor, mas nem isso tem acontecido. Minha esposa não tem nem mesmo a piedade de me deixar vê-la de longe.

- O que você quer, Heitor? - tomo um longo gole do café tentando despertar um pouco desse pesadelo - Veio rir um pouco mais da minha desgraça?

- Na verdade não. No começo foi engraçado, mas agora tem me deprimido te ver tão arrasado na porta da minha casa. - lanço um olhar assassino para ele e meu amigo coloca as mãos para cima em sinal de paz - Sério, acho que você já sofreu muito. Quero te ajudar.

Reviro os olhos para sua recém achada empatia. Heitor é um degraçado e quando lembro o quanto ajudei ele, apenas me chuto mentalmente. Devia ter deixado aquela Alessandra foder com a vida dele.

- E pensar que achei que éramos amigos. - sei que estou soando como um adolescente petulante, mas entre a saudade excruciante que sinto pela minha esposa, meu cansaço em dormir no meu carro e a merda do Santiago ainda solto, não dou a mínima - Na próxima vez que precisar de qualquer ajuda minha, pode ter certeza que vou me lembrar do que está fazendo agora.

Heitor respira fundo e pela primeira vez tira aquela expressão debochada de seu rosto. Me olhando solenemente, ele diz com uma voz firme.

- A situação é bem diferente agora, Arthur. Manoela é minha irmã, esperava mesmo que eu ficasse do seu lado e contra ela?

- Não seria necessário escolher lados se você apenas não se metesse e me deixasse resolver as coisas entre minha esposa e eu. - meu ódio deixa minha voz até trêmula, mas Heitor finge não perceber.

- Arthur, e como você acha que ela se sentiria? Porque naquele dia, no hospital, ela já estava se sentindo completamente abandonada por você. Se eu, o irmão mais velho dela, apenas a desconsiderasse e fizesse o que você quer, aí sim ela se sentiria completamente só. - ele coloca uma mão no meu ombro e tenho que me controlar para não ser infantil e me esquivar dele - Manoela precisa saber que tem quem a apoie. Não tenho culpa se isso é porque você não deu o que ela precisava, essa parte apenas você pode se responsabilizar.

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