(Manoela)
- Arthur, quando você vai me contar sobre a sua família?
Novamente ele me encara com aquele olhar afiado, estudando minha expressão como se quisesse ler o que eu estou sentindo. Eu o encaro de volta, determinada a saber um pouco mais desse homem que ocupa todo o meu coração, mas que muitas vezes é um total mistério para mim.
- O que você quer saber, querida?
- Vocês são tipo, sei lá, - agora eu sussuro - assassinos?
Arthur vira a cabeça para trás e solta uma bela gargalhada me deixando irritada.
- Não, menina linda. Bom, nem sempre - ele vê minha expressão alarmada e sorri largamente - só somos assassinos quando necessário, e na maior parte do tempo só mandamos matar. Dificilmente somos nós mesmos que puxamos o gatilho.
- Mas você é um delegado.
- Sou. - a resposta é simples como se fosse algo lógico para eu entender.
- Não estou entendendo, eu...
- Eu vou te explicar, é uma história longa mas vou tentar resumir. - Arthur me vira melhor no seu colo me fazendo ficar bem de frente para ele e assim não poder esconder minhas emoções - Meu pai e meu tio ficaram órfãos muito cedo, e por um tempo foram acolhidos por uma tia que era meia-irmã da minha avó. Ela os tratava mal, e fazia questão de os lembrar que ela estava fazendo um favor em deixar eles morarem na casa dela. Eles eram maltratados mas pelo menos tinham um teto e uma refeição por dia, então tentavam passar despercebidos para não provocarem mais ódio contra eles. Essa tia costumava aplicar castigos severos nos dois, e quanto mais velho eles ficavam, mais meu tio tentava defender meu pai que era mais novo e isso deixava toda a situação mais tensa ainda, fazendo com que as surras fossem piores. Um dia, essa mulher cismou que meu pai tinha roubado comida que era dos filhos dela, ela foi dar uma surra nele mas meu tio entrou na frente e dessa vez conseguiu revidar. Não preciso dizer que essa foi a gota d'água para ela finalmente querer se ver livre dos dois. Ela os expulsou de casa e disse que nunca mais os daria um pedaço de pão que fosse. Sem ter para onde ir, eles acabaram nas ruas de São Paulo, duas crianças sozinhas morando na rua não tinham muitas opções, então começaram a recorrer a pequenos furtos para poder ter o que comer. Agora, como você pode imaginar, duas crianças de dez e doze anos não são grandes mentes criminosas, então em uma das tentativas de roubar uns trocados, eles acabaram furtando a carteira de um homem bem importante.
- A tia deles nunca os procurou, nunca voltou atrás na decisão dela? - meu coração se parte ao pensar em duas crianças sozinhas morando na rua.
- Não, querida, ela nunca voltou. Como eu estava dizendo, eles tentaram roubar a carteira de um homem que até então era só mais um otário para eles. O que eles não podiam imaginar, é que esse homem era um colombiano que vivia no Brasil a mais de dez anos operando uma das maiores organizações de tráfico internacional de drogas da América do Sul. Ao contrário do esperado, ele não ficou com ódio ou quis punir meu pai e meu tio. Ele se sentiu mal pelas crianças, ele conhecia bem o que era a fome e a pobreza, e sem ter filhos próprios, ele adotou os dois como seu e os criou dentro da riqueza, e dos negócios. - meus olhos se arregalam quando vejo para onde essa história está indo, mas ele me ignora e continua - Ele ensinou tudo o que sabia para o meu pai e meu tio, mostrou a importância de ser bem relacionado e poderoso, que só dinheiro não é o bastante, você tem que ter inteligência para conseguir pensar nas soluções antes dos problemas aparecerem. Esse homem viveu por muito tempo, mas infelizmente nos deixou há cinco anos atrás. Eu e meus primos o chamávamos de abuelo Juan.
- Ele deixou tudo para o seu pai e seu tio?
- Sim, na verdade ele se aposentou uns quinze anos antes de morrer. Ele trabalhou muito por muito tempo, mas quando chegou aos setenta anos viu que seus filhos estavam prontos para tocarem os negócios e aproveitou para passar seus últimos anos comigo e com meus primos curtindo a família. Abuelo Juan era um homem muito interessante, ele tinha histórias tão inusitadas que sempre que ele começava a contar alguma das suas aventuras, todo mundo parava tudo o que estava fazendo para o ouvir. Claro, algumas vezes elas eram bem explícitas e minha mãe preferia sair de perto. - Arthur ri baixo e posso ver no seu rosto o amor que ele tinha pelo seu avô adotivo - Você iria gostar muito dele, ele era um conquistador.
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Meu
Любовные романыDesde a primeira vez que a viu, Arthur soube que Manoela era a sua escolhida. Depois de anos sendo avisado por seu pai que isso um dia aconteceria, Arthur finalmente conheceu a mulher da vida dele. Só tem um problema, ela é a irmã mais nova de um gr...