— Vocês dois... — Gabi aponta para nós dois lentamente, boquiaberta.
— Não, eca. — Eu intervenho.
— Hum. — Ela aperta os olhos, desconfiada.
Sem paciência para dar um argumento melhor, pego minha sacola em cima do balcão e me levanto.
— Vamos, eu quero ir embora. — Digo.
— Não vão nem tomar café? — Murilo pergunta.
Mioto vai atrás do balcão e pega dois pratos, pousando-os em cima da mesa e esperando minha resposta, com os dois braços apoiados no balcão e com o rosto inclinado para mim.
— Só um café. — Falo e Mioto sorri, se afastando e indo mexer em alguns armários.
— Rosa, vem me ajudar aqui? — Ele me olha fazendo um biquinho.
Suspiro, com raiva de mim mesma por de repente ficar querendo dizer sim pra tudo com ele. E mais raiva ainda por ele ficar tão fofo fazendo esse biquinho.
Vou para trás do balcão e pego uma caneca para fazer café. Quem precisa de ajuda para fazer café? Mesmo com esse pensamento, continuo me dirigindo até à pia para encher o recipiente.
Sem derrubar em mim dessa vez. digo abrindo a torneira da pia e despejando água na caneca.
Ouço o som de sua risadinha se aproximando, e meu corpo treme ao sentir o contato de seus lábios em meu ouvido.
— Não vou, rosa. — Ele susurra no meu ouvido.
Uma lenta e chata sensação ultrapassa meu corpo. A caneca fica paralisada em minhas mãos, fazendo a água transbordar para os lados.
— É errado shippar? — Gabi nos interrompe, como lembrete de que não estamos sozinhos na cozinha.
Olhamos em sua direção e, ao mesmo tempo que eu falo sim, Mioto fala não.
— Errado não é...mas quem vai ficar se iludindo é você. — Dou de ombros, fechando a torneira e tirando um pouco do excesso da água.
Mioto não parece muito simpático quando abre o pacote de café.
— Ele conquista tanto o coração das garotas...ei, Gustavo, por que será que não funcionou com a Ana Flávia? — Murilo começa a rir.
Ligo o fogão e espero que a água ferva, enquanto viro de costas e me apoio contra o armário.
— Porque eu não estou correndo atrás dele com desejos sexuais, como a maioria das garotas. — Eu respondo.
— É, bem, Ana é bem teimosa e raramente vai com a cara dos outros de primeira. Então Mioto, se é esse o seu desejo, eu desencanaria. — Murilo diz.
Gustavo pega uma frigideira de forma meio agressiva dentro do armário, e então se vira para nós com um sorriso claramente falso.
— Certo, já entendi. Querem prosseguir? — Ele diz com rancor na voz.
Para aliviar o clima tenso no lugar, me inclino entre ele e a geladeira.
— Você já pegou os ovos? — Pergunto à ele em um susurro, enquanto o mesmo deixa a frigideira em cima do fogão de uma maneira desleixada.
— Não. — Ele responde seco.
— Tá. Você cuida do café e eu dos ovos então. — Falo equilibrando cinco ovos na mão, e batendo cada um deles na frigideira.
( . . . )
Depois de comermos e o clima tenso se esvair, começamos uma conversa com assuntos aleatórios. Murilo anunciou que iria ficar mais um pouco na casa de Mioto, e logo eu e Gabriela pudemos ir embora.
— Tchau amor, tchau Mioto. — Gabi diz, dando um beijo em Murilo e um abraço em Gustavo.
Bato minha mão na palma de Murilo, e quando me viro para Gustavo, ele está me esperando com os braços abertos.
Por motivos que não consigo explicar, uma risada sai do fundo da minha garganta quando me inclino para abracá-lo.
— Ah, sua camiseta. — Falo no meio do abraço quente de seus braços.
— Pode ficar com ela. — Ele diz sem se importar, abrindo um meio sorriso e quando me solto de seu corpo, ele ergue um biquinho na minha direção. — Tchau, rosa.
— Tchau, Mioto. — Respondo.
Eu e Gabriela nos viramos e andamos até a esquina do corredor, antes de eu olhar para trás relutante e captar um sorrisinho nos lábios de Gustavo. Eu não sei se o verei de novo. Será que vou?
Pera, que tipo de pergunta é essa? Por via das dúvidas, é melhor não. Ele já me causou muita confusão nesse final de semana, tanto fisicamente, quanto psicologicamente.
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