■ 02 - EU TÔ VOLTANDO ■

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JEON JUNGKOOK


Terminei de assinar os documentos que me desligavam de uma vez por todas do hospital, local que exerci minha profissão durante anos e acabei me tornando sócio.

Guilherme, meu ex-sócio e amigo, me encarava com a expressão consternada e os braços cruzados na frente do corpo.

O homem com cerca de cinquenta anos passou a mão pelos cabelos grisalhos e se levantou da poltrona em que se encontrava sentado.

-- Não posso acreditar que esteja fazendo isso, Jungkook comentou com um ar cansado. Por que não tenta outra vez? Sabe que as portas do hospital estarão sempre abertas para você.

Balancei a cabeça em negativa e cerrei a mandíbula, incapaz de prosseguir com aquela conversa. Lembranças agonizantes me atingiram com força, senti minhas mãos tremerem só em me imaginar trancado em uma sala de cirurgia para realizar algum procedimento.

-- Acabou, Guilherme. Eu já tentei e falhei miseravelmente, sabe disso. - afirmei.

Também me levantei e entreguei os papéis para o advogado que estava à espera para finalizar os procedimentos do meu desligamento.

Guilherme continuava a me olhr desolado. Ele sabia que aquela era minha decisão final, a tampa de aço que eu trancaria tudo e depois jogaria o cadeado no mar. Era um caminho sem volta, um decreto que colocaria fim aos meus dias como médico cirurgião e sócio de um hospital de respeito em São Paulo.

Enquanto o advogado guardava a papelada suspirei com pesar e fitei o tapete bege no chão, manchado com marcas de bebida derramada ao longo dos meses.

Algumas garrafas de uísque estavam vazias empilhadas próximo à poltrona, quase sendo pisoteadas por Guilherme. Outras se encontravam aos pés do sofá, poucas com uma pequena quantidade de bebida.

O apartamento estava empoeirado, roupas espalhadas pelo chão, mas eu pouco me importava com aquela merda. Eu não tinha certeza se estava vivendo ou apenas sobrevivendo, votaria na segunda opção.

Minha vida havia se transformado em uma verdadeira bagunça, mas nada se comparava com o vazio e a solidão que eu carregava no peito.

Guilherme observou à sua volta mais uma vez e voltou a me fitar seriamente, a expressão opаса.

-- Me deixe te ajudar, irmão... Seu olhar refletia o mais puro pesar, mas eu não precisava da sua pena nem da de ninguém.

Caminhei até a saída do apartamento sem respondê-lo e abri a porta. Aguardei enquanto os dois homens passavam por mim, para logo em seguida, fechar a porta com um forte baque, causando um estrondo.

Voltei a desabar no sofá, desnorteado. Aquelas poucas horas, em que me dei ao luxo de me manter sóbrio, foram como ter uma faca enfiada no peito a todo momento. As lembranças não me largavam, ficavam incrustadas na mente como um martírio eterno.

Comecei a gargalhar ali naquela sala vazia. Lembrei-me de quando tentei retornar ao trabalho no hospital há alguns meses e mal consegui segurar o bisturi de tanto que tremia.

Senti vergonha de mim mesmo, eu me perdi dentro da minha própria dor e humilhação, me fechei para o mundo e impedi a entrada de qualquer pessoa, até mesmo da minha família.

O Melhor Amigo do meu Pai      -  Jeon Jungkook Onde histórias criam vida. Descubra agora