Capítulo 36

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RAFAELLA

A semana começou agitada. Recebi um comunicado sobre um caso de um ano atrás, onde a justiça expediu ordem de prisão para um dos traficantes da Rocinha. Esse traficante atuava na comunidade, da maneira mais sorrateira possível. Já estávamos de olhos abertos para com ele desde algum tempo.

Depois do fechamento do inquérito, quando tudo aconteceu, a Promotora Manoela a qual estava responsável pelo caso, abriu processo e encaminhou a denúncia para o juiz. Doutora Thelma Assis que estava responsável, e foi ela quem determinou que o réu ficasse detido na primeira e única audiência que tiveram. Havia poucas provas, nada muito consistente, mas o advogado de defesa não conseguiu o habeas corpus. Thelma é casca dura.

Durante todo esse tempo, muitas coisas aconteceram. A promotora conseguiu reunir algumas provas, porém teve que interromper a investigação ao meio. Chegou um caso mais urgente em suas mãos. No entanto, o que ela achou que seria rápido, se estendeu, e a promotoria resolveu distribuir o processo. Entre o promotor Allan Souza e eu, caiu exatamente em minhas mãos.

Conversei com Manoela há duas semanas atrás, quando os altos chegaram para mim, e ela me passou tudo que havia conseguido em sua investigação. Desde então, venho me empenhando ao máximo nesse caso. Visitei a delegacia a qual manteve o réu detido durante os trintas dias do inquérito, e tive acesso ao depoimento. O delegado me passou cópias das investigações policiais e também do interrogatório. Todavia, não parei por aí, também fui atrás da perícia. Obtive cópias dos documentos, informações e durante essa semana coletei alguns dados onde vive a família do meliante.

Os dias se passaram desde minha ida à Rocinha, desde então não voltei mais na Comunidade. Tudo que eu precisava, eu havia conseguido.

O final de semana posterior ao que passei com Gizelly em minha casa, chegou e eu aproveitei minha própria companhia para estudar o processo. Ela não veio ao Rio e eu não fui à São Paulo. Ambas estavam atarefadas demais essa semana. Gizelly com seus afazeres, e eu com o bendito caso. O julgamento finalmente havia sido marcado e eu não via a hora de tudo terminar e a juíza bater o martelo. Esse caso estava tirando toda minha paz, meus nervos estavam aflorados, pois apesar de eu conseguir tudo que me dediquei há esses dias, ainda não tínhamos provas concretas do crime. Apenas evidências.

Outra semana começou e cá estou eu, em meu gabinete, mergulhada nisso. Eu tinha outros casos a serem resolvidos, porém nada de muita urgência. Escolhi me dedicar especificamente nesse. Aliás, desde quando o documento com os altos foram distribuídos para mim, eu venho conciliando meu tempo (no trabalho e em casa) trabalhando nisso. Bianca faltava me sacudir pelos ombros para que eu deixasse um pouco de lado e distraísse a cabeça. Mas a verdade era que eu estava bastante atormentada com a chegada do julgamento.

Quando o alarme soou, avisando sobre meu horário de almoço, vi Daniela entrar na sala.

- Doutora Freitas, eu trouxe o que me pediu...- Ela se aproximou com a pasta e me entregou.

- Conseguiu tudo?-

- Deu um trabalhinho, mas sim.-

- Ok, Dani... Obrigada!-

- Estou indo almoçar, precisa de algo mais?-

- Por enquanto isso é tudo!-

Ela assentiu e pediu licença antes de se retirar. Mas ao passar pela porta, trombou com Gizelly.

- O que faz por aqui?- Perguntei num tom surpreso.

- Eu avisei que viria para uma reunião com meu cliente.-

Levantei da cadeira e dei volta na mesa.

- Faz uma semana que você avisou que viria, eu já nem me lembrava, você não tocou mais no assunto.-

Minha Promotora Onde histórias criam vida. Descubra agora