Capítulo 37

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GIZELLY

Mais um mês se foi, e com ele, a correria. Durante as três semanas seguintes, desde a minha visita ao meu cliente na penitenciária do Rio de Janeiro, voltei à Cidade três ou quatro vezes para minha investigação ao caso.

Tive acesso ao depoimento de um ano atrás no interrogatório do inquérito na delegacia, quando ele foi detido. Procurei pela perícia que atuou nas investigações policiais na época do crime e vi que nos laudos não constava nada que incriminasse meu cliente. Se Alexandre Santana, vulgo Babu, cometeu realmente esse delito, ele fez muito bem feito.

Os altos que estavam sob minha supervisão, ainda constavam o nome dos antigos advogados. Doutor Talles Gripp e Nicole Balls. O nome do homem estava sublinhado e destacava seu abandono no caso, dando sequência pela advogada. Meu nome ainda não havia entrado no processo, também dando sequência ao abandono da mulher, pois pedi recentemente um novo documento e a juíza ficou de exigi-lo. E como representante do Ministério público, Manoela Gavassi.

Na última vez que estive no Rio de Janeiro, só tive tempo de ir a delegacia e ir ao fórum expedir esse novo documento, para que meu nome entrasse nos altos como representante do réu. Doutora Thelma Assis me garantiu que os papéis ficariam prontos o mais rápido possível, pois eles precisavam mesmo serem refeitos por causa de mudanças judiciais.

Realmente, em um ano, muita coisa pode mudar.

Ao longo desse primeiro mês em que estou por dentro de tudo desse processo, consegui elaborar as estratégias de defesa. Analisei as evidências, entrevistei as testemunhas, e só precisava negociar acordos com o Ministério Público. Minha intenção era buscar formas de reduzir a pena ou conseguir penas alternativas. Eu sabia que esse caso seria difícil, pois apesar da justiça não apresentar provas concretas contra Babu Santana, todas as evidências apontavam para ele. Mas mesmo assim, eu não me conformava. Algo dentro de mim, em minha intuição e faro investigativo, dizia que a acusação guardava alguma carta na manga.

E se isso realmente estivesse acontecendo, eu precisava preparar e apresentar os argumentos legais em favor do meu cliente.

Durante meus bate e volta na Cidade carioca, visitei Rafaella em seu gabinete. Minhas idas até lá foram bem rápidas, pois a data do julgamento estava próximo de chegar e já havíamos conversado sobre nossas rotinas. Ela estava bastante estressada com algum caso importante da promotoria e eu, ocupada demais com o meu processo.

Aquilo não nos implicava em nada, pois sabíamos perfeitamente da responsabilidade de cada uma em nossas profissões. Exceto a falta que fazíamos uma para a outra e o tempo curto em que tínhamos, tanto em minhas visitas de médico em seu gabinete, quanto em ligações rápidas antes de dormir. Entretanto, a frequência dessas ligações havia diminuído devido a esses fatos. Tanto eu quanto ela estávamos tentando conciliar nosso profissional com o pessoal, e dava o mínimo certo. Era melhor do que nada.

Minha vida nesse último mês estava uma correria. Até mais do que no início do ano, quando o caso de Flayslane caiu em minhas mãos de paraquedas por Ivy. A diferença gritante entre esses dois casos, a qual são de grande comoção, é que eu peguei o de Flayslane desde o início. E apesar de ter sido complicado demais, eu pude acompanhar tudo se desenrolar. No caso de Babu, peguei já com tudo encaminhado e o julgamento marcado. E tudo o que eu tinha, eram as palavras dos dois advogados: Desista, pois não tem mais jeito! Ele será condenado.

Aquilo martelava em minha cabeça vinte e quatro horas por dia.

Agora estou eu aqui, esperando por Emanuel, meu cliente. Marquei de almoçar e conversar com ele em sua fazenda. Eu precisava farejar algumas coisas e ninguém melhor que ele para me ajudar.

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